Certa vez li num jornal uma carta de uma pessoa que havia se suicidado, o eixo central da mensagem era de tinha cansado de “todo mês receber as mesmas contas e ter que pagá-las uma a uma, como o eterno retorno, o que me dar uma angustia maior é saber que no próximo mês receberia todas as contas virão de novo, tendo que novamente pagar, simplesmente não tenho mais condições psicológica de enfrentar esta repetição“. As palavras não estão exatas, mas é bem parecido com o que li na época.
Passei meses pensando na mensagem, e refletindo como uma coisa trivial e corriqueira da vida pode se tornar uma realidade massacrante a ponto da pessoa não mais dar conta de tudo e resolver se aliviar daquele “mal”, as dívidas e contas mensais? Claro que não encontrei resposta alguma, seria mais fácil atribuir à franqueza dela, ou a covardia de enfrentar algo nem tão complexo, que se transformou numa paranoia. É fato que as contas do mês nos estressam, quando administramos nossas casas, nossos negócios, nossos salários, sempre nos pegamos aflitos com o “fechamento do mês”.
A medida extrema, no caso da pessoa que se matara, nos choca pelo que aparentemente não é uma razão plausível ou real, que seja tão forte para que cortemos nossa relação com a vida ou com a sanidade. Mas o fato, mais de fundo, a meu ver, é a repetição, as contas, talvez tenham um peso forte no equilíbrio e na responsabilidade de se manter, de sobreviver, mas você perceber que tudo isto é um círculo, voltamos sempre ao ponto inicial, tem muito mais peso, a rotina de voltar ao mesmo lugar, dia a dia, semana a semana, mês a mês, ano a ano, sem dúvida se torna massacrante, ao se refletir sobre estas repetições podemos compreender o ato último.
Indo um pouco além, percebemos que a vida, ou seus atos fundamentais são repetitivos, milhões de pessoas vivem e sobrevivem num mesmo compasso que é de relógio, com as mesmas obrigações, raramente mudando uma vírgula de seu cotidiano, que seguem em frente sem alterar nada, se resignam em continuar, continuar, esperando ou não por algo melhor, mais digno, ou não, apenas resignado. As religiões, as ideologias, as paixões funcionam como um “regulador”, ou como uma válvula de escape, para que se fuja do “eterno retorno”, que se tenha a impressão (falsa ou verdadeira) de que se estar fazendo algo “diferente” do habitual, do normal, do humano.
Às vezes a natureza simples e banal da vida nos leva aos atos extremados, uma insubordinação contra esta ordem natural, tão humana e comum que a vida tem. Por mais difícil que seja a realidade, há uma razão boa e tranquila para os atos e fatos da vida, pois e com estas repetições que nos garante segurança e a certeza de que faremos mais e mais, vamos voltar a passar pelos mesmos caminhos e marcos, prova de que não nos perderemos pelos desvios. Sem ser apenas uma resignação, mas um prazer de existir, de buscar felicidade nas coisas mais simples.
O débito automático ajuda… :-)
A primeira coisa que me ocorreu foi o que a Marinilda comentou: põe no débito automático! Porém, tão fácil seria se tudo pudesse ser resolvido assim, pelo ‘automático’. Mas a vida não cabe no ‘automático’… Na roda viva de cada um, a rotina das contas a pagar todo mês pode ser apenas a gota d’água…
As contas se repetindo todos mês vem da loucura de querer e ter muitas coisas. Escolha o necessário, defina o seu necessário, não pelo que a sociedade impõe.