No começo do mês escrevi sobre a crise do orçamento dos EUA (EUA Namoram Caos), comentando um artigo de Paul Krugman e ampliando a questão, pois o famoso economista parece em desespero, como se o que se passa nos EUA estivesse fora da irracionalidade ou da lógica atual do Kapital, ao que afirmo categoricamente: Nada estar fora do lugar. Nestes quase três anos estudando e escrevendo a série Crise 2.0, depois transformada em livro (Crise Dois Ponto Zero – A Taxa de Lucro Reloaded), deu-me muitas dúvidas, mas também alguma certeza, entre elas é que não existe irracionalidade alguma no movimento do Kapital.
A questão do orçamento é apenas o “bode na sala”. O que tem por trás é o Estado Gotham City, o estado que surgirá nos escombros do pós Crise 2.0, no atual momento ele ainda não está maduro. Esta disputa pelo orçamento ou controle do velho Estado, meio mussarela (Bem-estar social) meio calabresa (neoliberal), uma luta entre uma burocracia de políticos sem relevância alguma diante do poder REAL, o poder emergente das Agências, o germe do “Novo” Estado, que será o verdadeiro Estado: Sem Política, sem Democracia, em que o Kapital se despirá de qualquer demagogia moral, social ou política. O que assistimos é um teste. Repito que nada mudará com ou sem acordos.
As horas voam e o clima ficou pesado, os analistas estão de olhos arregalados, cumprindo um ridículo papel de assustar ainda mais as pessoas no mundo inteiro, então pergunto: Há realmente motivo para desespero tão medonho? Desde o estou da crise, que historiei aqui e no meu livro, o Kapital nos EUA e UE a primeira coisa que fez foi queimar capitais, como bem nos alertou Marx, ainda no século XIX, aumentou o desemprego, cortou plantas fabris e de serviços e desvalorizou intensamente a figura última do Kapital, a moeda, dólar. Três grandes QEs com emissão de mais de 2,5 trilhões de dólares, ou seja, 20% da base real, o PIB dos EUA, foi queimado espalhando inflação e desequilíbrio no mercado mundial.
Como relatei no último artigo, em que alertei que havia “Duas questões não podem nos escapar, uma é a quantidade imensa de funcionários públicos nos EUA, que nossos neoliberais de plantão passam longe de criticar, quando vivem pedindo as cabeças de nossos barnabés, mas silenciam quando falam do seu país modelo. A Outra é a ação do FED, ano passada, um mês antes da crise do orçamento fez um QE(o terceiro), neste ano, na reunião do FOMC( o COPOM deles), decidiram injetar 85 bilhões de dólares mês nas empresas para incentivar o crescimento, tudo isto fugindo do orçamento e demonstrando que na prática há dois governos, o de Obama e o do FED, este último é o que realmente interessa. Este divórcio, que alerto no meu livro, entre Democracia e Burocracia é a gênese do Estado Gotham City, é a verdadeira face do Capital, que prescinde de povo, nação e poder político”.
Ou seja, independente dos desdobramentos da crise do orçamento, o FED, uma das principais Agência do Estado, similar a CIA ou a vedete atual, a NSA, aquela que espiona a tudo e a todos, o Banco Central se constitui no poder REAL dos EUA, como a Troika na Europa( BCE, Comissão UE e FMI) assustam os pobres do velho continente. A ação do FED não ficará presa à decisão do congresso, a vida segue sem susto mesmo no período de sucessão interna. Como fiz o Estadão do dia 09 de Outubro que “A maioria dos economistas consultados pelo Wall Street Journal não acredita que Janet Yellen implementará políticas monetárias muito diferentes das que Ben Bernanke buscaria se ele continuasse por mais um mandato”. Ou seja, Wall Street, os banqueiros, que espertamente capturaram o FED em 1980 ,com Paul Volcker, via Golman Sachs.
A câmara dos deputados é a que melhor reflete a transição para o “Novo” Estado, o Estado Gotham City, como bem descreve o repórter, Denise Chrispim Marin – O Estado de S. Paulo, quando localiza a disputa: “A aversão mútua se traduz em diálogo difícil, por vezes desrespeitoso e impossível, entre os dois lados. O Tea Party, facção radical do partido republicano, comanda há dois anos e meio a Câmara dos Deputados. Seu ideário está baseado na mínima presença e interferência do Estado na economia e na vida dos cidadãos e na redução agressiva do saldo negativo das contas públicas e do endividamento, sem sensibilidade com os impactos sociais dessas iniciativas. Essa agenda colide – propositalmente – com a preocupação social do partido democrata, acentuada no programa de governo de Obama”. ( O grifo é meu- Estadão, 16 de Outubro de 2013).
Importante destacar a exposição de motivos do repórter quando descreve que “Nos impasses anteriores, houve acordos na última hora ou nos dias seguintes, de forma a evitar a vexaminosa suspensão de pagamentos. No início de agosto de 2011, depois de quatro semanas de acordos e recuos, ambos os lados concordaram com o corte de US$ 2,1 trilhões no déficit público federal, em dez anos, e com o aumento imediato de US$ 400 milhões no teto da dívida, que passou para US$ 14,7 trilhões. O acerto previa a elevação de mais US$ 500 bilhões, para US$ 15,2 trilhões, no mês seguinte, e mais US$ 1,2 trilhão a US$ 1,5 trilhão no final do ano, se os gastos comprovadamente caíssem até dezembro. A dificuldade política para se extrair esse acerto, ao longo do mês de julho, levou a Standard & Poor´s a reduzir a avaliação de risco de crédito dos EUA”.
Depois conclui na mesma direção que nós, que “Embora sem resultados práticos, a queda na nota americana tornou-se uma mácula, ainda não contornada e em risco de ser reforçada por sua nova redução nos próximos dias. No final de 2012, durante a negociação do plano definitivo de ajuste nas contas públicas dos EUA para os dez anos seguintes, finaliza com novo impasse foi observado. O país estava por alcançar o limite da dívida, e o tema entrou na barganha entre o governo Obama e os republicanos dominados pelo Tea Party. Os dois lados evitaram o chamado “abismo fiscal” com o acordo sobre as mudanças na tributação, no dia 2 de janeiro deste ano. Mas a decisão sobre os cortes nos gastos públicos foi postergada e impediu o aumento do limite dívida em US$ 1,2 trilhão a US$ 1,5 trilhão, como era esperado”. E finaliza com uma conclusão amarga “O Tesouro começou 2013 restringindo pagamentos. Com isso, economizou US$ 200 bilhões para aguentar-se até as negociações de fevereiro. Apenas em maio foi obtido o aval do Congresso ao aumento definitivo do teto da dívida, para US$ 16,7 trilhões, que deverá se esgotar nesta quinta-feira. A novela está longe de terminar, com ou sem acerto”.
O que iremos assistir, ou não, por enquanto, é um teste sobre o papel símbolo, o padrão de conversibilidade geral, depois do Ouro, o Dólar e por fim os “Títulos da Dívida Pública do EUA” vai sugar os trilhões chineses, russos, brasileiros, com sua desvalorização iminente. Ou seja, não se nasce uma nova ordem sem um acordo calculado ou um caos que produza um acordo na ponta da faca. Nada mais que isto. O risco é não acontecer nada, hoje, amanhã, forçando mais negociações, enquanto um novo Estado se gesta, nos escombros do Atual. Como sempre repito, o Tea Party e os novos ativistas (BBs, Cyberativistas, Occupys, Indignados, M15, etc.) se unem, ironicamente, por uma nova janela, sem política de classes, mesmo sendo de classes.
Aguardemos as horas.
Desnudando os olheiros do mundo. Não tão intocáveis ou vacinados contra adversidades, mesmo, é claro, criadas pelo próprio sistema. Vai submergir mais perverso e sanguinário! Esta lorota de que o “SUS” do Obama é a causa de tudo que lá está acontecendo cai por terra. É o rico brigando com o mais rico!