“Vai-se-me em névoa o mundo. Emanações subtis
que exalais, vem tornar-me aos anos juvenis.
Que imagens que trazeis de dias tão risonhos!…
Caras sombras! sois vós? aéreas como em sonhos?”
(Fausto – Goethe)
Ontem, no Facebook, li uma frase que foi difícil de digerir, de tão dura e verdadeira, era mais ou menos assim: “É cada dia mais díficil conviver com o conservadorismo de velhos amigos, mas é ainda pior ler o que os filhos deles pensam e escrevem por aqui (no Facebook)”. Esta coisa ficou rondando na minha cabeça, me fez pensar na quantidade de rupturas pessoais e políticas nestes quase 30 anos de vivência política, as diversas reviravoltas que vivi, é quase um milagre continuar com alguma coerência.
As rupturas políticas e pessoais já tratei tantas vezes aqui ( o último post que sintetiza e indica vários outros links sobre o tema: Aos Que Partem, Ideologicamente, Sem Avisar), é quase um alerta, uma nota mental para ver se conseguimos mudar de rumo, encontrar algum padrão de civilidade para mediar uma e outra, ou seja, se pode até romper politicamente, mas se deve manter uma convivência ética e de amizade, parece uma coisa ilusória, mas prometo buscar, as rupturas vão nos devastando intimamente.
Noto, a olhos nus, como somos empurrados para parede, sem qualquer possibilidade de recuo, o extremo é a saída, romper ficou tão simples, que repetimos, nas nossas relações, a lógica dos “15 minutos de fama”, ou melhor, de amizade, respeito e convivência. Nem tentamos aprofundar uma divergência, um olhar diferente sobre um fenômeno, um processo, menos ainda na análise da conjuntura, a leitura de um cenário. A pressa de coincidir ou não com aquilo que pensamos é o sinal final de que devemos romper.
Esta prática se espalhou de forma vertiginosa com o advento das redes sociais, aqui, a extrema urgência de tudo, parece que aceleramos demais, precisamos de respostas para ontem: Amor, Ódio, ideias, grupos, acordos e rupturas. Os embates duram alguns poucos segundos, uma palavra mal(ou bem) colocada pode levar ao afastamento, que em regra, significa que todos os mais “amigos” também rompem, uma sensação terrível de vazio, uma frustração de que algo não tenha se desenvolvido, um coito interrompido, uma ejaculação precoce.
É uma falsidade dizer que existe convivência com pluralidade de ideias nas redes sociais, a tolerância, mesmo dentro de grupos de interesses comuns, é muito pequena. A coisa é muito rápida, as relações se dissolvem num instante, num segundo. O autoritarismo, a falta de espírito coletivo, da troca paciente, da aproximação debatida, quase não existe, o que predomina é o: Ame-o ou Deixe-o. Visto de um ângulo mais amplo, aquilo que prometia ser uma nova era de contatos e vivências, se demonstrou que prevaleceu o lado mais tirânico e individualista. Parece que, individualmente, temos todas as respostas para vida e daremos solução para tudo. Um terrível e trágico engano.
As velhas certezas absolutas predomina de forma cruel, incrível como a “verdade” se fragmentou diante de tantas convicções, mesmo que a maioria delas jamais tenha sido experimentada. Entretanto, são dadas como dado real da vida, não carecendo de menor prova, é assim, porque assim é. Qualquer contestação, mesmo que respeitosa, abrindo um diálogo é tomada como ofensa, pois detemos o poder do que estar “Certo”, quem ousaria nos contrariar? Estamos certos, apenas por estarmos certos.
Além disto, nem sei se pior, o vai e vem ideológico e político, ao sabor dos ventos, as mudanças para posições antagônicas, sem uma explicação plausível, como se não tivéssemos obrigações de falar nada, quando mudamos radicalmente de posições. Penso que nós que estamos a mais tempo na estrada, com mais janela política, deveríamos ter mais obrigações, de ter mais paciência e pelo menos mais coerência no que escrevemos e falamos publicamente, senão nos tornamos uma farsa ambulante, além de péssimos exemplos aos mais jovens. Podemos nos diferenciar no meio desta geleia geral que tentam nos jogar.
Este tem sido meu pequeno esforço, minha pequena contribuição, defender com certa lógica e honradez um legado histórico que acredito e luto por ele. Aqui estamos, bem-vindos aos que ainda acreditam, vamos em frente.
é isso Arnobio, gostei do texto. Tento sempre me manter aberto ao debate (minha TL no tuíter tem mais gente da oposição que petistas e/ou governistas) mas não é fácil não. Nem todo mundo está preparado e/ou disposto à conversa franca e aberta.
Você me lembrou Bauman. Abs