Ainda em lágrimas, depois de ler a dura entrevista do poeta, ensaista, novelista e articuluista mexicano Javier Sicilia, um dos mais importantes de seu país, que teve sua vida transformada pela violenta morte de seu filho, vítima do Narcotráfico. A maior praga do México, que já matou de 2006 até ano passado 70 mil pessoas. A política de guerra às drogas se mostrou um retumbante fracasso, trazendo mais mortes e mais violência. O trauma de Javier Sicilia, é um entre milhares, há, segundo ele, cerca de 30 mil desaparecidos, sem a menor chance de que estejam vivos.
A longa matéria do El País, no mês que completou dois anos da morte do filho de Javier, em que ele se tornou a principal voz contra a violência, pela pacificação do México. Ele liderou várias marchas pela paz, dentro do México, mas que no ano passado chegou aos EUA, o principal financiador da política de “guerra às drogas”. Desde a morte do filho, o poeta abandonou a literatura, agora se dedica unicamente ao seu movimento pela paz, justiça e dignidade de seu país, que vive uma guerra interna, não declarada.
Na descrição do jornal, assim é apresentado o poeta, “a voz das vítimas se veste como Indiana Jones chapéu e colete. Reconhece que foi “a primeira coisa que eu encontrei no armário” quando começou a primeira marcha de Cuernavaca à Cidade do México, no nono dia após a morte de Juanelo, seu filho. Então, sua roupa tornou-se um símbolo. Como aconteceu com quase tudo. Assim como o personagem do filme, que se tornou famoso por viajar o mundo após o Santo Graal ou da Caveira de Cristal, o poeta luta incansavelmente desde aquele dia “horrendo” de reconhecimento e dignidade para as milhares de vítimas que mal este país pode contar. As vítimas e as famílias de mais de 60.000 mortos pelo conflito que começou há sete anos, quando Felipe Calderón anunciou a guerra contra o crime organizado”.
Aqui a íntegra da máteria “Um Estado que ignora onde estão 30.000 cidadão não é um Estado”, alguns trechos são chocantes demais, mesmo para quem está acostumado a lidar com a violência. O México, tem alguns estados sem governo, algumas cidades sem prefeitos ou delegados de polícia, o medo e a imposição dos cárteis é impressionante e medem forças com o estado.
P. Depos de dois anos de exposição de mídia,e você pode viver a sua dor?
A. Reúna-se com os outros e partilhar a dor faz parte do luto. Foi apenas um grande jogo, em todo o país, foi uma dor de muitas outras vítimas. Depois, veio descansei na França (no final de 2012) e que permitiu que eu só e estar comigo mesma, com minha filha e meu neto.Tais dores, a morte de uma criança, nunca termina. Sempre estar lá como uma dor enorme, como uma realidade natural. A morte de uma criança, e as condições em que eu perdi meu filho, move todas as certezas e cada uma paradigmas construídos ao longo de sua vida.
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P. Guarda rancor do ex-presidente Calderón ?
A. Não, eu tenho um pouco de compaixão. Um homem pode recusar-se a assumir a responsabilidade, mas há uma parte na sua consciencia, especialmente para um homem treinado no catolicismo que vai lutar contra si mesmo, ele não estará em paz. Eu disse a ele em uma reunião que a responsabilidade pelos 40.000 mortos e a morte de meu filho era dele.Espero ser capaz de aceitar com humildade e reconhecer e curar seu coração. É algo que eu tenho que lidar com e eu não desejo a ninguém.
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P. O que o futuro reserva?
R . Espero estar de volta e em paz. É um processo longo, porque, primeiro, você tem que encontrar os 30.000 desaparecidos. Então você tem que encontrar o caminho da paz e vejo um grande problema no processo de reconciliação. Goste-se ou não esses caras sendo corrompidos pelo crime organizado não eram criminosos, há uma responsabilidade do Estado, que deixou, o crime tornou-se a carne. Nós vamos ter que perdoá-los e, o processo será muito mais doloroso. É o produto da corrupção e mséria econômica.
No momento que o México volta a ser amplamente visto como a “estrela” do mercado, o Lado B, continua cada vez pior e presente.