De vez em quando aqui, na série sobre a Crise 2.0, conseguimos sair na frente da grande mídia brasileira, ontem, por exemplo, fomos os primeiros a fazermos uma análise mais detalhada do relatório da OCDE, no artigo Crise 2.0: Cenários Graves da OCDE, principalmente da parte que mais nos interessa, os cenários alternativos, ou seja, o mais provável que aconteça.
O site da OCDE foi nossa fonte, baixamos o relatório e estudamos os principais pontos, verificamos que o excelente Jamil Chade, tinha publicado uma pequena nota, porém concentrado no que o Estadão queria, dizer que o Brasil era, nos BRICS, aquele com pior resultado de crescimento. Bem, é fato, mesmo com baixo crescimento, dentro dos BRICS, esqueceu-se de dizer, que é o que tem menor exposição a uma possível hecatombe da Zona do Euro, com uma perda marginal de PIB, caso aconteça.
Com o cenário mais crítico e mais provável, fizemos um segundo post, sobre o desempenho do Brasil, Crise 2.0: Brasil Está Em Crise? , para uma mais correta localização do problema na economia local. Em regra, à Direita se culpa Lula por ter deixado o país em situação difícil para Dilma, que ela tem que quebrar alguns paradigmas, à Esquerda se julga Dilma por não seguir o legado de Lula. Preferimos verificar que há uma solução de continuidade entre ambos, mas que o processo de mudança se deu ainda sob Lula, que a Presidenta apenas continuou, porém, com situação agravada, pela crise da Zona do Euro.
Hoje, as repercussões do relatório da OCDE se estampa nos jornais e os analistas começam a destrinchá-lo, que nos acompanha já tem um dia de vantagem, o Estadão replica a matéria da Agência Dow Jones, que coincide muito com nossa avaliação de ontem, o risco é a desintegração da Zona do Euro. Segundo eles “a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) afirmou que a crise fiscal e bancária da zona do euro continua a ser a maior ameaça para a economia mundial e alertou que o bloco poderá não sobreviver na sua forma atual. “A zona do euro, que está testemunhando pressões de fragmentação significantes, pode estar em perigo”, declarou o economista-chefe da OCDE, Pier-Carlo Padoan.
E detalham um pouco mais o problema da Zona do Euro e da UE: “A trégua concedida pelos investidores em bônus da zona do euro desde o verão, que reduziu os custos dos empréstimos, pode ser de curta duração, alertou a OCDE. Segundo Padoan, a crise está sendo sustentada por “três reações negativas que amplificam choques e interações”. Os choques incluem a ligação entre a solvência dos bancos e governos e os temores de que um país vai deixar a zona do euro, elevando os custos dos empréstimos e tornando uma saída do euro mais provável. Os custos mais altos de empréstimos geralmente tornam mais difícil para os governos controlarem suas dívidas. “Nós não acreditamos que a crise da zona do acabou”, afirmou o economista. “A fragilidade na zona do euro continua, as reações negativas entre bancos e governos ainda estão lá.”
A OCDE condena a política de Austeridade como responsável pela piora da crise e “alertou que a crescente frustração popular com a austeridade e suas consequências poderão também ser fatais para zona do euro. “O aumento do desemprego poderá desencadear uma fadiga de reforma e resistência social”, disse o economista. Os economistas da OCDE calculam que o “multiplicador fiscal” que determina o impacto dos cortes orçamentários no crescimento pode ser dois terços maior que o previsto anteriormente, e disse que as medidas de austeridade adotadas reduziram o crescimento econômico entre os 34 países membros da organização em até 1,25 ponto porcentual neste ano.
Concluindo de forma dramática: “O impacto sobre alguns membros da zona do euro poderá ser ainda maior, afirmou a OCDE. “O impacto negativo a curto prazo da consolidação poderia ser ainda maior… em alguns países da zona do euro, onde a fraqueza pré-existente e sistemas financeiros disfuncionais podem limitar a capacidade das famílias e empresas para diminuir gastos diante do aperto fiscal adicional”, disse a organização” . ( Agência Dow Jones via Estadão, 28/11/2012)
Como se vê está em linha com o que escrevemos ontem, nossas responsabilidades são maiores, caso se confirme, o pior cenário, e nos parece, que é o que se terá, tentarei debater, ainda hoje a entrevista de Felipe González, ex-Presidente da Espanha, ao Valor Econômico,que condena a Austeridade como um “suicídio europeu”.
“Suicídio europeu” é uma expressão bem aplicada… Mas o que acho mais estranho é que nada dê certo e ainda assim insistam.
Bem anotado por você o objetivo do Estadão, ontem, em somente destacar o Brasil como o de menor crescimento entre os Brics, ignorando que é o menos exposto – ou com os melhores fundamentos econômicos para enfrentar a eventualidade de uma hecatombe na Zona do Euro. Ontem, no twitter, muitos destacaram essa malandragem do antigo jornal dos Mesquita.
E começa a ficar claro para todos, agora, que a política de austeridade imposta goela abaixo pela Troika aos países europeus pode – e parece que vai mesmo – levar tudo para o buraco, o que esta coluna tem alertado e denunciado ao longo desta série ‘Crise 2.0’. Ontem, também, analistas já afirmavam que o desemprego em vários países da Zona do Euro deixou de ser conjuntural, passando a estrutural, o que deve dificultar ainda mais numa futura recuperação.
Vamos acompanhar e nos preparar para os cada vez mais prováveis dias de aperto. Afinal, ninguém, Brasil incluso, vive numa redoma à prova de mau tempo. Serão dias de enfrentamento, pois, além da capacidade de superar esse período de crise econômica, o Governo Federal não pode se furtar e perder a iniciativa para o inevitável embate ideológico a ser travado com uma oposição sem alternativas, portanto, desesperada, e com essa cambada máfio-midiática sem qualquer escrúpulo.
cid cancer – mogi das cruzes/sp