“Invento em mim o sonhador
Para quem quer me seguir eu quero mais
Tenho o caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir
Invento o cais” (Cais – Milton Nascimento)
A vida tem certas nuances que só quem as vive pode entender plenamente o sentido dela, ou por que agimos daquela maneira, em flagrante contradição com aquilo que acreditamos e defendemos. Outro dia desabafei sobre a mudança de lado ( As Margens do Rio), ou de como é violento encontrar pessoas que cruzaram as margens do rio, a sensação de desconforto, de derrota não tem como disfarçar. É um tema por demais indigesto e difícil de abordar, para não cair no patrulhamento ou na simples condenação moral.
Mais uma vez, li uma espécie de justificativa sobre comportamento que, francamente, me deixou para lá de cabisbaixo, por me sentir julgando, ou mesmo revoltado com o que se fez. Esta coisa que tanto fazemos, achar que o “demônio está no outro”, passamos a nos ver como anjos e os outros demônios. Mediar os valores, colocar nova luz e não cair em conclusões simplistas, é sempre um exercício complicado demais. Escrevendo aqui e escolhendo melhor as palavras, pois elas ganham força, muitas vezes desproporcionais ao que se queria dizer.
Claro que não importa, sobre quem, nem sobre o que, mas o como me comportei, dada situação concreta, vivida por uma pessoa concreta, ser julgada de forma abstrata, por uma pessoa(Eu) abstrata. No fundo vivemos nossas vidas sob o peso da sociedade capitalista, dos valores que ela incute e prega, e da nossa eterna luta pela sobrevivência. A dignidade, honradez, ou melhor, determinadas circunstâncias que permite se manter intacto, não nos leva a tornar superiores, ou senhores do martelo e do veredicto alheio. As armadilhas e o atalhos são muitos, difícil resistir, ou pensar em “retidão”, pois a vida e o tempo são “curvos”.
Punindo-me mentalmente, não no sentido cristão, religioso, do pecado, mas intimamente constrangido por ter sido injusto com os meus valores, de como somos medíocres ao julgar situação dos outros. Muitas vezes nos isolando, apenas por parecer que somos “melhores”. Algumas lições históricas deveriam nos nortear mais, ter mais peso sobre nossa estreita viseira. Uma sociedade desigual sempre formará pessoas desiguais, por que exigir delas uma coerência cabal? A opção de querer mudar e transformar o mundo que vivemos pode e, deve, compreender todas estas contradições, para que tenhamos uma qualidade maior: O ser humano como é, não como idealizamos.
Milton Nascimento e Nana Caymmi – Cais
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=pgvi7_MyBxY&feature=watch-vrec[/youtube]
Belo Post!
Os juízos de valor são inerentes à nossa posição de momento, ao contexto onde estão mergulhadas nossas angústias e ditas nossas palavras. Superioridade me parece uma variação da arrogância, do não saber ouvir. Mas, e quando o outro emite sinais contraditórios, busca o conflito e estoca o oponente até ferí-lo?
O equilíbrio da defesa é sempre tênue.
Beleza de artigo, Arnóbio. Como é fácil cair na tentação de julgar os outros… Temos que estar sempre atentos a não repetir estereótipos de comportamentos que tantas vezes – e tão sinceramente – repudiamos.
Excelente. É exercício diário o respeito pela opinião, pelas escolhas dos outros, gostemos ou não, isso é problema nosso.
A vida não se resume a dois lados, o nosso e o dos outros. Há várias nuances e raramente temos informações suficientes para compreender as opções dos outros nessa matiz de opiniões.
E vamos combinar, todo mundo pensando igual seria um saco!
Beijo