597: Crise 2.0: Avanços e Limites do Brasil, segundo FMI

 

Reunião do FMI em Toquio (foto Claudia Sarmento - O Globo)

Quem apenar ler as manchetes dos jornais do Brasil, entra me pânico, afinal o FMI diz que o PIB brasileiro vai crescer “apenas” 1,5% em 2012. Parece regra geral da grande mídia local “assustar” e criar um clima de desespero geral, deixando para matérias internas alguma verdade, que inclusive negam a manchete principal. Quem nos acompanha aqui, na série sobre a Crise 2.0, sabe que temos que ir muito além das manchetes e das matérias, buscar formar um pensamento crítico e mais completo do acontece no mundo e os efeitos da enorme Crise.

 

O Estadão, talvez o único jornal brasileiro que realmente escreva com propriedade sobre a crise, mesmo com o viés ideológico diferente dos nossos, a despeito da flagrante contradição entre o que escrevem no caderno de economia e o de política, sempre o lemos e trazemos ao debate suas matéria e análises, que nos ajudam a entender a realidade geral. Agora, na reunião do FMI e BIRD em Tóquio, o jornal mandou um enviado para acompanhar e escrever sobre os debates dos ministros da economia mundial. Vejamos o que nos diz a matéria central, feita pelo repórter Ricardo Leopoldo:

“O Fundo Monetário Internacional (FMI) fez uma sensível redução da estimativa de crescimento do Brasil em 2012. A projeção passou de uma alta de 2,5%, feita recentemente em julho, para uma elevação de 1,5%, um pouco inferior à previsão do Banco Central, que há quase duas semanas passou para 1,6% sua estimativa. Tal desaceleração expressiva do País não foi sentida apenas na economia local, mas provocou impactos expressivos na América Latina, pois conforme o FMI foi responsável em grande medida pela perda de vigor da região, que registrou uma velocidade do PIB ao redor de 3% na primeira metade de 2012.

[…]

Para a instituição, não foi somente o contágio da crise internacional, sobretudo a recessão na zona do euro, que fez com que o País desacelerasse tanto em tão pouco tempo. “A retomada do crescimento foi abaixo do esperado no Brasil – uma importante causa do desempenho regional mais fraco – devido a condições externas precárias e à transmissão mais lenta da distensão da política monetária desde agosto de 2011 como resultado do aumento da inadimplência, depois de muitos anos de rápida expansão do crédito”, apontou o FMI. A necessidade de aperto dos juros em 2011 pelo BC para conter a inflação e a adoção de medidas macroprudenciais naquele ano para reduzir a forte expansão de alguns segmentos de crédito também foram apontados pelo FMI como elementos que contribuíram para a maior desaceleração do PIB do País neste ano”.

 

O FMI, ainda alerta, segundo a matéria para os riscos : “Preços de imóveis elevados ou em ascensão ou o crescimento do peso da dívida para as famílias, especialmente no Brasil, requerem contínua vigilância pelos formuladores de políticas”, destacou. Segundo o FMI “o boom de consumo tem sido um grande componente do forte desempenho do crescimento” nos últimos anos, mas “a demanda doméstica e os investimentos continuam relativamente baixos”. “Reformas (estruturais) poderão colocar o foco de forma útil em desenvolvimentos adicionais no pilar das contribuições definidas do sistema de pensões, racionalização do sistema tributário e desenvolvimento de instrumentos financeiros de longo prazo.”

Para o FMI, essas reformas estruturais serão importantes para o País incrementar a oferta. De acordo com o Fundo, muitas economias da América Latina devem realizá-las para reforçar o PIB no médio prazo. “No Brasil, os gargalos de infraestrutura são uma restrição ao crescimento. As recentes (decisões do governo) de realizar concessões públicas ao setor privado para desenvolver a crítica infraestrutura de rodovias e ferrovias é um passo para frente bem vindo, mas o aumento do investimento público também é necessário.”

 

O Outro lado dos números

 

Entretanto, numa segunda matéria, o repórter traz as mais significativas constatações, de que o Brasil apresentou os números mais sólidos do fundamentos econômicos do que as maiores economias mundias. Esta  matéria é importante porque, em regra, a mídia ideologizada, procura esquecer, martelando apenas na “piora” do quadro, ou da inviabilidade do Governo petista, pois apenas se preocupa com a Ideologia, sem se importar com os demais aspectos, políticos, sociais e econômicos.

 

Leiamos o longo relato do enviando do Estadão:

Embora tenha registrado um desempenho do PIB abaixo do seu potencial em 2011, o que certamente também ocorrerá em 2012, o Brasil dá sinais de vigor das suas contas do Poder Executivo, ratificados pela avaliação do Fundo Monetário Internacional (FMI). O Monitor Fiscal divulgado nesta segunda-feira confirma que a dívida pública mantém a tendência cadente para os próximos anos, seja ela medida pelo conceito líquido, como prefere o governo, ou bruto como apreciam mais as agências internacionais de rating. Além disso, a trajetória do resultado nominal também é de queda. Os números estimados pelo FMI para o País mostram indicadores melhores do que os registrados por várias nações avançadas, entre elas os EUA, Japão, França e, em alguns casos, é mais favorável do que o apurado pela Alemanha.

De acordo com o FMI, as projeções do resultado nominal do Brasil ficaram entre as que apresentaram maior evolução em relação às estimativas realizadas pelo Fundo em abril deste ano. Na ocasião, a instituição previa que o déficit nominal de 2012 atingiria 2,3% do PIB, mas agora apresenta um resultado negativo de 2,1% do produto interno bruto. Para 2013, o avanço da projeção foi ainda mais expressivo, pois baixou de um déficit de 2,4% para 1,6% do PIB. Estes resultados são mais positivos do que a média mundial, de déficit de 4,2% e 3,5% do PIB para 2012 e para o ano seguinte, respectivamente. No caso dos EUA, as projeções são de 8,7% e 7,3% do PIB para o biênio, na zona do Euro atingem 3,3% e 2,6% do produto interno bruto, respectivamente, e na França variam de 4,7% e 3,5% do PIB. Os números nacionais são muito melhores que os estimados pelo FMI para o Japão, de 10% do produto interno bruto para 2012 e 9,1% do PIB em 2013.

Alemanha

As projeções do FMI para a dívida bruta do governo são mais favoráveis do que as registradas pela Alemanha, um país de centenária tradição fiscalista. O indicador deve chegar a 64,1% do PIB em 2012, abaixo dos 65,1% do produto interno bruto estimados pelo Monitor Fiscal de abril. Para 2013, a redução da estimativa é de 1,9 ponto porcentual do PIB, o que faz com que caia de 63,1% para 61,2% do produto interno bruto. O FMI projeta uma rota de queda continua desse passivo do governo até 2017, quando deverá atingir 54% do produ
to interno bruto.

No caso da economia alemã, contudo, ocorreram altas das estimativas realizadas pelo Fundo para a dívida bruta. Para este ano, a projeção de abril era de 78,8% do PIB, mas agora subiu para 83,0% do produto interno bruto. Em 2013, o governo de Angela Merkel deverá ter que administrar uma dívida pública cerca de 20 pontos porcentuais do PIB maior do que apurado pelo Brasil. As estimativas do FMI apontam que tal indicador deve subir de 77,1% para 81,5% do PIB no ano que vem.

Hipóteses

O FMI não explica em detalhes no Monitor Fiscal porque as contas do Brasil devem continuar apresentando um desempenho positivo nos próximos anos. Mas algumas hipóteses podem ser ponderadas. Uma delas é a geração constante de um nível expressivo de superávit primário de uma década para cá, o que contou com a colaboração de uma taxa média de crescimento do PIB muito próxima de 4% entre 2003 e 2010. De um ano para cá, no entanto, o produto interno bruto registra resultados fracos, mas a redução dos juros em 5 pontos porcentuais desde agosto de 2011 ajuda bem a diminuir o pagamento do serviço financeiro da dívida pública, dado que uma boa parte dela ainda está vinculada à variação da taxa Selic, como as Letras do Tesouro Nacional. Este tipo de papel já foi responsável por cerca de um terço do passivo mobiliário do Poder Executivo, mas deve fechar este ano numa marca ao redor de 24% do total.

Solvência

No caso da dívida pública líquida, a trajetória declinante também é mantida nos próximos seis anos, ressaltam as projeções do FMI. Para 2012, a estimativa é de atingir 36,4% do PIB, número que deverá cair para 32% do produto interno bruto em 2013, continuando em redução até 2017, quando chegará a 26,6% do PIB. De acordo com o Fundo, o Brasil alcançará a psicológica marca de 30,1% do PIB deste indicador em 2014, o que é visto por especialistas como um sinal de que o País estará em condições plenas de solvência.

Mas o Fundo Monetário Internacional assume as estimativas do governo para a geração do superávit primário até 2017. O FMI projeta uma poupança do Orçamento, sem gastos com juros, de 3,1% do PIB neste ano, de 3,4% do produto interno bruto em 2013, que deve atingir 3,2% do PIB em 2014. De 2015 a 2017, o FMI prevê que seria registrado um número equivalente a 3,1% do produto interno bruto a cada ano.

“Os objetivos de superávit primário das autoridades devem ser alcançados neste ano devido a ajustadores de despesa de capital”, afirma o Fundo, sem informar quais seriam tais ‘ajustadores’. “Indo para frente, as autoridades (do governo) continuam a focalizar a meta de 3,1% do PIB de superávit primário”, destaca o Monitor Fiscal.

“No Brasil, a redução das receitas motivada pela desaceleração da atividade da economia e o impacto dos incentivos fiscais estão sendo compensados em parte por receitas (extraordinárias), e maiores dividendos vindos de empresas estatais”, ponderou o Fundo.

 

É fato que a crise se acentuou em todo o mundo, aprofundando as mazelas e tornando mais complicada a sua saída, no entanto, o Brasil, vai navegando firme, no meio das águas turvas. Claro que o país acaba pagando um peso maior pelos eventos externos, mas, nos parece, que internamente procura se ajustar, sem punir o povo e os trabalhadores, em contraste ao que  acontece na Europa, em particular Espanha, Itália, Portugal, Grécia, que aceitaram os planos da troika (FMI, UE e BCE) e tiram a pele do seu povo.

 

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

0 thoughts on “597: Crise 2.0: Avanços e Limites do Brasil, segundo FMI

  1. É de horrorizar como o PIG se contorce pra falar mal. O Estadão é um pouco mais sério e pelo menos conta. Vc viu hoje o G1 dando manchete sobre a recuperação da indústria em boa parte do país? Ai ai…

    De qualquer modo, quero que o FMI vá cantar noutra freguesia.

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