Esta semana corrida e com significativas mudanças nos rumos da condução da Zona do Euro, acompanhada “bit a bit” aqui, na série sobre a Crise 2.0, com três artigso sobre esta reunião dos líderes, os dois primeiros : Crise 2.0: Cúpula do Euro, Há Saídas para Crise? que trata dos bastidores e documentos prévios, e o segundo Crise 2.0: Cúpula do Euro – Hollande 1 x 0 Merkel, e finalmente a parte mais palpável das resoluções, consolidadas e analisadas no terceiro artigo: Crise 2.0: Efeito Balotelli – Hollande 2 x 0 Merkel.
Como tenho feito nas últimas sextas-feiras tenho indicado algum trabalho mais de fundo, artigos acadêmicos ou de articulistas que apontem análises e caminhos sobre a atual Crise, hoje, não será diferente, segue a interessante entrevista com um dos “papas” do mercado financeiro, o mega-investidor(Especulador) o Senhor George Soros. A importância da entrevistas, trechos dela, feita pela revista alemã Der Spiegel, é entender o que pensa e como age na crise estas figuras de proa.
Diante do caos que se apresenta, a atual Crise, George Soros defende um Plano Marshal, como saída, tendo a Alemanha no papel que foi dos EUA na condução daquele plano no pós-guerra. Depreendemos disto que, para Soros, a atual crise é tão devastadora, quanto a foi a segunda guerra. Uma visão que pouco difere de alguns analistas, de “esquerda”, como Krugman. As informações e a argúcia de Soros, impressionam.
Aqui, em inglês, o link da Der Spiegel ( “‘A Tragic, Historical Mistake by the Germans”‘ abaixo, os trechos traduzidos pelo Estadão. Vale a leitura e o debate.
‘Um erro histórico e trágico dos alemães’
A Alemanha não quer participar de nada que se assemelhe ao Plano Marshal na crise do euro e será odiada por isso
Com os chefes de Estado e governo da União Europeia reunidos em Bruxelas para encontrar uma saída para a crise do euro, o investidor George Soros está pessimista. Para ele, é muito difícil que se encontre uma solução e o tempo está ficando curto. Em entrevista à Spiegel Online, ele alerta que a Alemanha pode se tornar uma odiada potência imperialista. A seguir, trechos da entrevista.
Na Alemanha, que foi o motor da integração europeia, as pessoas discutem abertamente a possibilidade de uma saída da zona do euro. Muitos alemães acreditam que seria mais barato retornar ao marco alemão do que permanecer preso a uma união monetária combalida. Eles estão certos?
GS Não há dúvida que um afastamento do euro será muito prejudicial e muito caro, tanto financeira como politicamente. E o maior prejuízo será da Alemanha. Os alemães precisam ter em mente que, na verdade, até agora não sofreram nenhuma perda. As transferências foram todas feitas na forma de empréstimos e eles somente sofrerão prejuízos se esses empréstimos não forem resgatados.
Contudo, pesquisas apontam que muitos alemães não acreditam que os empréstimos fornecidos à Grécia ou outros países serão resgatados. A preocupação deles é de que a Alemanha está à mercê do resto da Europa.
Mas este seria o caso só se o euro desaparecesse. Temos presenciado uma tremenda fuga de capital, não só da Grécia, mas também da Itália e da Espanha. Todas essas transferências resultarão em créditos a serem reivindicados pelos bancos dos países credores dos bancos centrais dos países devedores. Acho que os créditos reivindicados pelo Bundesbank excederão 1 trilhão no fim deste ano.
Se a zona do euro entrar em colapso, esses créditos podem perder todo o valor. A chanceler Angela Merkel estaria apenas blefando quando flerta com a ideia de uma saída da Alemanha da zona do euro?
A Alemanha pode deixar a zona do euro, mas isso ficará incrivelmente caro. Acabei de ler o relatório do ministério alemão de Finanças, que estima os custos de uma saída da zona do euro em termos de emprego e atividade econômica, e em ambos os casos eles são reais. E como a situação é esta, a Alemanha sempre fará o mínimo para preservar o euro. Fazendo o mínimo, contudo, ela perpetuará uma situação em que os países devedores da Europa terão de pagar um ágio tremendo para refinanciar sua dívida. O resultado será uma Europa em que a Alemanha é encarada como uma potência imperialista, não amada nem admirada pelo restante da Europa – mas odiada e rechaçada porque será vista como uma potência opressora.
Por que a Alemanha deve assumir toda culpa? Afinal, outros países da UE se esquivaram às necessárias reformas e viveram além dos seus recursos.
Não há nenhuma dúvida que os países que contabilizam hoje uma dívida muito grande não realizaram as reformas estruturais que a Alemanha levou a cabo e, por isso, estão em posição de desvantagem. Mas o problema é que essa desvantagem vem se tornando cada vez mais pronunciada por causa das políticas punitivas adotadas. Hoje a Itália precisa gastar 6% do seu PIB, anualmente, para se nivelar com a Alemanha porque precisa pagar muito mais para refinanciar sua dívida. Diante dessa situação desvantajosa, o país não encontra maneira de suprir essa brecha de competitividade com a Alemanha.
Mais uma vez, qual é essa responsabilidade da Alemanha?
É a responsabilidade conjunta de todos que participaram da introdução do euro sem compreender as consequências. Quando o euro foi introduzido, os órgãos reguladores permitiram que os bancos adquirissem quantidades ilimitadas de títulos governamentais sem uma reserva para o capital social. E o Banco Central Europeu (BCE) descontou todos os títulos governamentais em condições iguais. De modo que os bancos comerciais acharam vantajoso acumular títulos de países mais debilitados para obter alguns pontos- base extras.
Os alemães lembram o nascimento do euro muito diferente. Eles acham que precisaram renunciar ao marco alemão para que as nações da UE concordassem com a reunificação alemã.
Verdade. A integração da Europa foi liderada por uma Alemanha que estava sempre disposta a pagar um pouco mais para chegar a um compromisso que todos aceitassem, pois estava ansiosa para conseguir o apoio europeu à reunificação. Esta foi a “visão de longo alcance”, que criou a União Europeia. em>
Atualmente não precisamos de uma visão similar?
Quero traçar um paralelo entre o que ocorre com a zona do euro neste momento e o que sucedeu após a 2.ª Guerra, quando o sistema de administração monetária de Bretton Woods foi criado para governar a economia global. Na época, os EUA eram o centro daquele sistema e o dólar a moeda global dominante. Era um mundo livre dominado pelos americanos. Mas os EUA conquistaram essa posição fornecendo imensos fundos para a reconstrução da Europa por meio do Plano Marshall. E se tornaram uma potência imperialista benevolente e, por isso, se beneficiaram enormemente.
Como essa situação pode ser comparada à que nos encontramos hoje?
A Alemanha está hoje numa posição similar, mas não quer participar de qualquer coisa que se assemelhe ao Plano Marshal. E se opõe a qualquer união de transferência para o resto da Europa.
O Plano Marshal, embora importante, era equivalente a uma pequena fatia do PIB dos EUA. Os pagamentos potenciais referentes ao programa de socorro do euro podem ser muito maiores do que a Alemanha conseguirá arcar.
Bobagem. Quanto mais amplo e convincente for um programa de redução da dívida, menos probabilidade ele tem de fracassar. E lembre-se, da mesma maneira que a Alemanha foi grata aos EUA pelo Plano Marshal, a Itália ficaria grata à Alemanha por ajudá-la a reduzir seus custos de refinanciamento. E se a Alemanha colaborar, poderá estabelecer as condições. E a Itália ficará satisfeita em atender essas condições, pois vai se beneficiar. Não reconhecer esta oportunidade é um erro histórico e trágico dos alemães.
O ministro alemão de Finanças, Wolfgang Schaeuble afirmou que chegou a hora de adotar medidas corajosas. E esboçou ideias para uma união política mais estreita na Europa.
Schaeuble representa a Alemanha de Helmut Kohl. Ele é o último alemão pró-europeu e uma figura trágica, pois sabe o que precisa ser feito, mas também sabe dos obstáculos no caminho e não consegue encontrar uma maneira de vencer tais obstáculos. De modo que ele está de fato sofrendo.
Qual seria seu conselho para o ministro Schaeuble?
O problema-chave é a restruturação da dívida na zona do euro. Enquanto o peso da dívida não for reduzido não existe probabilidade de os países mais debilitados na UE reconquistarem a competitividade.
TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO – Para Estadão, 29/06/2012
Viu a diferença do PIG de lá? O Spiegel fica fustigando o entrevistado em defesa da Alemanha, não ao contrário… Se fosse aqui fustigariam Dilma hoje/Lula ontem pelo oposto.
Quer dizer, o PIG de lá era PIG com os antecessores da Merkel. Explodiu todo tipo de escândalo na cara do governo.