Arnobio Rocha Reflexões Belém do Pará – Uma viagem

Belém do Pará – Uma viagem

 

Belém - Foto Wikipedia

 

Fiz alguma viagens memoráveis na vida, no post Viagens contei alguns lugares que morei, mas hoje vou contar uma aventura fantástica, uma viagem com meu pai. Em julho de 1978, no fim do mês, meu presente de aniversário de 9 anos, foi viajar com meu ele de Sobral, no Ceará, para Belém do Pará. Meu pai tinha um caminhão Mercedes, 1316, boleia dupla, grande, íamos, meu pai, um outro motorista, Baíco e Eu. Lembro que meu saímos de Bela Cruz, carregada coco, em Acaraú, seguimos para Sobral.

 

A viagem começa em Sobral, os últimos preparativos, verificação de pneus, motor, óleo, freios, mantimentos. Chegamos meio-dia e esperamos o sol baixar para começar a subir a Serra do Ibiapaba. Meu velho era uma sumidade na direção, sabia/sabe o barulho de cada peça, tinha um ouvido aguçado, naquela época, já se ressentia de um olho, devido luz alta dos faróis. Mas ele dirigia com uma tranquilidade absurda, o caminhão carregado com 9 ou 10 toneladas de coco, aquela estrada boa, já escurecendo, subiu a serra grande com facilidade. Paramos em Tianguá para jantar.

 

Dormi, ele continuo guiando até uma meia-noite. Parou num posto, acho que já no Piauí, dormiu até umas 5 e meia, depois tomamos café e seguimos viagem. Atravessando o Piauí, quente demais, ainda mais com aquele calor da cabine do caminhão. Mas, para mim, aquilo era festa, minha primeira viagem longa com meu pai. Meu irmão mais velho já tinha feito algumas vezes este percurso, principalmente nas férias. A noite chegamos ao Codó no Maranhão, lá comi num restaurante de estrada o melhor arroz da minha vida, ainda hoje penso naquele sabor.

 

Ponto sobre o Rio Gurupi-Divisa do Pará com o Maranhão

Ponto sobre o Rio Gurupi-Divisa do Pará com o Maranhão

 

Noutro dia a viagem foi interrompida em Boa Vista do Gurupi, a divisa entre Maranhão e Pará. Havia uma grande ponte, mas em 1977 ela foi arrastada pela cheia do rio Gurupi, levou uns 2 anos para que uma nova fosse construída, a ditadura já sentia, os efeitos do fim dos créditos fáceis. A alternativa era atravessar caminhões, ônibus,carros, motocicletas, gente em balsas. A fila da balsa, dependendo da época, demorava até 2 dias. Lembro que chegamos perto do meio dia ao local. Entramos na fila, cheia de caminhões, aí um pequeno fogão, eles prepararam almoço. Maria Isabel, que é arroz branco com carne seca e batata, uma delícia. Na carroceria meu pai armou rede para dormir, impossível ficar dentro da cabine, o calor era insuportável.

 

O medo era muito grande daquelas balsas serem arrastadas pela correnteza forte do rio, uma travessia de uns 500 metros, mas a alegria de chegar do outro lado, já nos deixou felizes, entramos finalmente no Pará. Paramos em Castanhal, destino da carga de coco, lá tinha uma grande fábrica de sorvetes, uma boa cidade. Depois de descarregar seguimos para Belém, pois meu pai tinha parentes e amigos, além do que, lá, carregaria de madeira, para voltarmos ao Ceará.

 

Ver-o-Peso

Ficamos uns 3 ou 4 dias em Belém, uma cidade muito bonita, em 1978 ainda não era tão grande, como agora, estive três vezes em Belém em 2008/2009. O que mais me chamou a atenção foi o Ver-o-Peso, um longo comércio na região das docas da a baía do Guajará. Aquele grande mercado de especiárias, cheio de frutos, raízes, condimentos, uma festa para os olhos. Meus parentes tinham barraca lá, então, me diverti mais ainda. Uma viagem inesquecível, nem me dava conta de onde estava, a imensidão da floresta, a porta de entrada que é Belém e o imenso rio Amazonas.

 

 

Uns dois anos depois, meu pai deixou de fazer este roteiro de caminhão, ele que tanto gostava de Belém, de dirigir seu caminhão. Ficou mais de 30 anos sem voltar a Belém, voltou neste mês, mas me disse, que sonha mesmo é ir de carro, cidade a cidade, parando nos locais que ia, uma viagem afetiva, sentimental. Até hoje lembro de detalhes desta viagem, da alegria de acompanhar meu pai, até do toca-fitas cara-preta, tocando José Ribeiro, Roberto Carlos.

 

 

 Save as PDF

6 thoughts on “Belém do Pará – Uma viagem”

  1. Oi Maninho…que memória vc tem, tenho saudades dessas viagens na boleia do caminhão, mais pena fico por não ter ido até Belém a única que não fez uma dessas memoráveis viagens…Viajar com papai e mamãe sempre era o máximo, comer na estrada, dormir no Riacho da Cela, na dona Nereide…e tantas viagens inesquecíveis.

  2. Você nos transportou a todos na boleia desse caminhão de afetividade!
    E, parando em Codó, terra mística cantada por João do Vale e Luiz Gonzaga:
    “Boa tarde Codó, do folclore e do catimbó
    Gostei de ver cablocas de bom trato
    Vendendo aos passageiros
    “De comer” mostrando o prato”
    Abração!

  3. este faltando pouco tempo para me aponsentar ja prometi ao pedro pra nos fazermos esta viagem de carro ele e a fatima eu e marlene vamos ver se dar certo um cherao arnobio

  4. UM MÊS DEPOIS de você, Arnóbio, fiz o mesmo trajeto (não com a sua memória, que não recordo de parada em Codó… almocei não sei onde). Ah, sim, fui de ônibus, a partir de Fortaleza. Visitei sua página para ver se mencionava o problema da travessia do Gurupi, que EU IGNORAVA SE ESTAVA QUEBRADA, OU SE NÃO FORA AINDA CONSTRUÍDA. É isso. Obrigado, conterrâneo. Belo relato.
    Ah, na época, eu ia tomar posse na Polícia Federal em Belém para trabalhar em Macapá, onde estou AINDA AGORA (já aposentado).

Deixe uma resposta para JOAQUIM FURTADO DA SILVACancelar resposta

Related Post