Quando ontem escrevi sobre Crise 2.0: Quando surge a Crise? nas conclusões globais pus dois itens que precisam depois ser melhor explorados, como pediu meu amigo Sergio Rauber devo ser mais “geômetra”. Mas a questão fundamental em todo crise do capital é entender os sinais emitidos durante e depois dela.
Aquilo que Marx diz que “a crise constitui sempre o ponto de partida de grandes investimentos novos” é fundamental para sabermos qual é este ponto de partida, retomando dois primeiros pontos:
1) O patamar de partida, pelo menos dos EUA são os preços de 2005, o que concluímos que a queima de forças produtivas foi de cerca de 1/3 da economia. Voltamos ao jogo com 9,1% de desemprego(número máximo)nos EUA com salários achatados em mais de 25%. É daqui que se parte.
2) A Europa, exceto Alemanha e em função dela, passa por um profundo ajuste, uma queda real, que deve ser similar ao que aconteceu nos EUA, alguns países até maior a queima de forças produtivas, pois viviam um padrão econômico irreal, sustentado por uma moeda forte;
A Alemanha e a Crise
Sobre o EUA, os últimos post resolvem bem o caso, os dados coletados e analisados, fecham a ideia e conceito. Sobre a questão alemã, já tratei muito sobre suas relações “estrangeiras” o que ela representa na Europa, em particular na Zona do Euro. Mas precisamos investigar o pouco mais o Caso alemão, para além destas questões de hoje, algumas pistas sobre como chegou aqui já pus em alguns textos, em particular as reformas de Gerhard Schröder.
A Alemanha vinha de uma custosa reunificação, mesmo sendo a principal economia europeia, a realidade mudara muito, o Estado estava imensamente endividado, tornar comum o padrão de vida aos dois lados foi o maior desafio. Quando a direita perde a eleição para Gerhard Schröder e este leva o SPD, Social Democrata, a praticar um duríssima política neo-liberal, quadros históricos se afastam do partido.
As reformas implementadas por Schröder segue o receituário básico das políticas liberais: Reforma da Previdência, flexibilização do contrato de trabalho, privatizações. A destruição do Estado de Bem-Estar Social, com a chamada “Agenda 2010” mudou radicalmente as relações de trabalho na Alemanha. A economia alemã baseada em forte incremento em tecnologia e mão de obra especializada, agora também “barata”. A resposta que teve nas urnas foi uma derrota para uma pouco expressiva Angela Merkel.
Merkel, oriunda da Ex-Alemanha Oriental, levada ao governo por Helmut Kohl ainda nos anos 90, rapidamente cresceu na direita alemã que fora abalada pelos escândalos de corrupção do antigo primeiro-ministro, por 7 anos se manteve na oposição até derrotar Gerhard Schröder. Com uma combinação de força externa e habilidade interna, Frau Merkel galvanizou as forças da Alemanha e se impôs na Zona do Euro.
Os custos sociais são altos, a Alemanha tem seu menos desemprego, mas também convive com o subemprego, uma imensa precarização que atinge 9 milhões de trabalhadores. No link ( O “milagre” alemão não é para todos) uma excelente reportagem do Site Euronews da conta desta contradição alemã. O “milagre” tem um preço gigante aos trabalhadores, a redução dos seus salários e o emprego precário. O que cinicamente é desprezado pelo Ministro do trabalho alemão na entrevista final.
Diante de uma Europa cada vez mais caótica, agora assolada pelo frio siberiano, a Alemanha tenta impor o seu “sucesso”, um duro ajuste de queima de Forças Produtivas (salários e emprego precário) à toda Europa. O caminho do ajuste, o Capital sabe, e este é o ponto de partida de seu novo ciclo.
Nos primos pobres, como Ucrânia, Polônia e Romênia, já morreram 120 de frio. E a Gazprom avisa que não tá dando conta dos pedidos. Der Füehrer quer nem saber.