Todo meu trabalho analisando a Crise 2.0 não se reduz a ver apenas os aspectos de decadência, mas também olhar os pontos de retorno ao crescimento. Escrevi três posts fundamentando esta questão:
Retomando o conceito de Marx sobre Crise assim defini em janeiro: “não existe crise permanente, sim as periódicas em permanência, o que é muito confundido por uma certa gama de analistas de esquerda. Muitos mergulham no estudo da crise, inclusive quando ela já aconteceu, nem percebem que um novo ciclo se abriu, eles ainda estão discutindo os “efeitos da crise””. (Crise 2.0: O Fim da Crise?)
Mas voltemos a outra questão conceitual, também em Marx, um parêntese: determinadas “esquerdas” decretam fim de Marx, mas não sabem como analisar a Crise, aí voltam à Marx. A definição dele é perfeita:
“a crise constitui sempre o ponto de partida de grandes investimentos novos e forma assim, do ponto de vista de toda a sociedade, com maior ou menos amplitude, nova base material para o novo ciclo de rotações” (Marx – O Capital – Vol III).
Complementa ainda Martins, no trabalho sobre Crise e Globalização:
“No ponto mais alto da fase expansiva, e imediatamente depois da crise, quando a economia capitalista entra na fase de crescimento lento, parte do capital adicional começa a ser expulso da produção porque a taxa média de lucro não compensa seu investimento, o desemprego aumenta na mesma proporção em que a inversão cai. É o momento em que os capitalistas iniciam nova e mais pesada ofensiva sobre as condições de vida e de trabalho dos assalariados”.
A questão dos EUA
O Governo Obama, do ponto de vista econômico, não existiu, durante 3 dos seus 4 primeiros anos de mandato o país esteve em recessão, os dados do departamento de comércio são elucidativos, o PIB americano a preços de 2005 (em trilhões de dólares) descontada a inflação do período:
2007 | 13,2 |
2008 | 13,2 |
2009 | 12,7 |
2010 | 13,1 |
2011 | 13,3 |
Apenas em 2012, efetivamente o país começa a “rodar para frente”, aqui lembremos mais uma vez, o velho Marx, sobre a queima de Forças Produtivas, os preços nos EUA estão no mesmo patamar de 2005, uma situação clara deste movimento, é como se o país tivesse parado por 6 anos, o problema é que em 2005 o desemprego(Força Produtiva) era 4,9%, chegou a 9,1%(meados de 2011), mas com a retomada está em 8,6%(Janeiro de 2012).
Com os preços deflacionados, alto desemprego, a retomada se dará em novo patamar, confirma assim que a o momento da Crise de Superprodução se deu em 2005, quando preços e empregos estavam em alta, em pleno uso das forças produtivas. Porém o sintomas reais da queda aconteceu apenas em 2008, passando por um período longo de recomposição. A taxa de lucro começa a ser recomposta apenas em 2011, com a perspectiva de crescimento em 2012.
Este é o mundo real, da economia real, em que as pessoas reais vivem, para além dele, e com reflexos caóticos neste, os mercados continuam na escalada dos ganhos ilusórios, que apenas na Crise ele se expõe cristalinamente. As ações do FED durante a “queda” foi um claro demonstrativo a quem pertence o Estado Americano, algo como 5 Trilhões foi gasto para cobrir os ganhos irreais, pagos pelos trabalhadores e povo americano e de todo o mundo. Agora o imenso estoque de moeda em poder do FED é usado para financiar plenamente o novo crescimento, ou uma “justa” taxa de lucro dos grandes capitalistas.
Obama enfrentará às urnas em Novembro, não mais tão assustado com a Crise que derrubou Bush Jr e castigou duramente o próprio Obama, mas com poucos resultados práticos, fruto da Crise foi a ida mais à direita, surgimento do Tea Party e a doutrina do medo. O império paralisado por 6 anos não é fácil manter a hegemonia. Porém a Europa mergulha nos seus dilemas históricos, parece que por mais uns 2 ou 3 anos, o desafiante agora são os BRICS, como dividi-los para melhor conquistá-los? Este é o desafio do próximo Presidente do mundo, digo, dos EUA.
PS : Um contraponto necessário (por Sérgio Rauber)
O amigo Sérgio fez excelente comentário, que resolvi que deveria subir ao texto, de tão relevante que é, agradeço a contribuição, tanto aqui, quanto nas redes sociais debatendo com rigos todas as questões.
Aguda percepção, Arnobio.
Sugiro, para completar o viés de análise, uma olhadela sobre o “debt ceilling”. Recorde que toda essa liquidez se resolve criando dinheiro do nada, ou como dizem no Império “making money from thin air”.
Mesmo com os “preços” estacionados em 2006 a sociedade norte-americana pode não estar muito predisposta a voltar às compras. Mesmo porque você bem aponta o elevado índice de desemprego pros padrões econômicos dos EEUU.
O FED prepara mais um “quantitative easing” o QE4 para fevereiro agora, o que pode levar a dívida soberana norte-americana para além do inconfortável, já quase doloroso.
A medida compensatória seria elevar os juros, (por causa da desvalorização), o que torna mais difícil ainda abrir o apetite dos consumidores, além de penalizar mais gravemente os já feridos estudantes dependentes do crédito educativo de lá, que se forma e não encontram emprego para pagar a dívida.
Sem falar no sistema de pensões. Que sofre o impacto do “baby boom”.
Obama parece ter a missão de quebrar o “new deal”.
Ontem, ouvi uma piada: “Obama só não se reelege se o candidato republicano não for do GOP” (o campo majoritário da direita dos EEUU, do qual o Tea Party é uma pequena fração). Mas, mesmo a
ssim, acho que os fundamentos econômicos, até aqui, não autorizam um prognóstico seguro da recuperação daquele país.
A manobra macroeconômica depende muito do sucesso na tarefa de enxugar a nova liquidez e, se o alvo são os BRIC’s, ainda não está claro quais serão as manobras dos emergentes frente ao “desafio” proposto. O bloco pode surprender.
( Sérgio Rauber – @sergiorauber )
Aguda percepção, Arnobio.
Sugiro, para completar o viés de análise, uma olhadela sobre o “debt ceilling”. Recorde que toda essa liquidez se resolve criando dinheiro do nada, ou como dizem no Império “making money from thin air”.
Mesmo com os “preços” estacionados em 2006 a sociedade norte-americana pode não estar muito predisposta a voltar às compras. Mesmo porque você bem aponta o elevado índice de desemprego pros padrões econômicos dos EEUU.
O FED prepara mais um “quantitative easing” o QE4 para fevereiro agora, o que pode levar a dívida soberana norte-americana para além do inconfortável, já quase doloroso.
A medida compensatória seria elevar os juros, (por causa da desvalorização), o que torna mais difícil ainda abrir o apetite dos consumidores, além de penalizar mais gravemente os já feridos estudantes dependentes do crédito educativo de lá, que se forma e não encontram emprego para pagar a dívida.
Sem falar no sistema de pensões. Que sofre o impacto do “baby boom”.
Obama parece ter a missão de quebrar o “new deal”.
Ontem, ouvi uma piada: “Obama só não se reelege se o candidato republicano não for do GOP” (o campo majoritário da direita dos EEUU, do qual o Tea Party é uma pequena fração). Mas, mesmo assim, acho que os fundamentos econômicos, até aqui, não autorizam um prognóstico seguro da recuperação daquele país.
A manobra macroeconômica depende muito do sucesso na tarefa de enxugar a nova liquidez e, se o alvo são os BRIC’s, ainda não está claro quais serão as manobras dos emergentes frente ao “desafio” proposto. O bloco pode surprender.
Vocês dois são ótimos! Que sorte a nossa acompanhar assim essa crise que só desperta clichês no PIG… Triste a lembrança da divisão dos Brics, excelente a piada sobre a derrota de Obama, hehehe. Newt Gingrich e Mitt Romney são mesmo de rolar de rir, que todos os demônios nos ajudem!
Mas eu acho que os EUA estão se recompondo sim, gente, com deflação, com dívida pública monumental, com todos os poréns. Até o Pentágono finge que colabora reduzindo despesas, 5 bi há uns 3 anos, mais 3 bi agora… Voltaram a comprar aquelas casas tipo Wisteria Lane, voltaram a se endividar no cartão de crédito… sei não.
Beijos aos 2! Viva Marx!