(Estadão – Diário Económico)
Estamos voltando ao cenário do efeito dominó, das quedas em sequência, aquilo que ano passado tratamos na série Crise 2.0 , que começou com Irlanda, desceu para Portugal e Espanha, e derrubou a Grécia, depois abalou a Itália. Recentemente, vimos a mesma Grécia ser oferecida com descontos ( Crise 2.0: Grécia – a 70% de desconto ) aos seus credores, mas infelizmente não para aqui, mesmo não tendo acordo sobre a dívida grega o dominó se move para derrubar Portugal.
A história se repete como farsa ou tragédia, o movimento do ano passado foi para derrubar governos e economias, agora este novo “jogo” é derrubar qualquer soberania, que ainda exista, ontem no post Crise 2.0: Europa sob jugo alemão , tratamos mais uma vez da estratégia alemã de privar estes países endividados de qualquer autonomia. Nem bem terminamos o artigo, recebemos mais informações da explosão da dívida portuguesa, os astronômicos 17,3% para os títulos de 10 anos, uma clara indicação de default.
A situação é caótica a queda brusca no poder de compra e empobrecimento rápido e vertiginoso, ontem no Diário Económico duas matérias que dão o norte sobre o impacto da crise no país. A primeira mostra que os imóveis em Portugal chegam a ser oferecidos com até 70% ( que número cabalístico). Houve uma queda em 7,2% nas vendas em 2011.
A outra é a análise do sociólogo Elísio Estanque, autor do livro ‘Classe Média: Ascensão e Declínio’ , ele diz ao Diário Económico que “A classe média “está em risco de um empobrecimento muito rápido” que pode levar a um “descontentamento mais amplo na sociedade portuguesa” e ao “enfraquecimento do sistema socioeconómico e do sistema democrático”
Ele diz ainda que “a classe média que Portugal conseguiu edificar” foi criada num “processo muito rápido, pouco consistente, que resultou sobretudo da expansão do Estado social e que, na sequência dos anos 80 do século passado, sujeita a um discurso mais ou menos eufórico orientado para o consumo e para um certo individualismo, criou um conjunto de expectativas relativamente às oportunidades do sistema”.
“No entanto, a crise económica que Portugal enfrenta está a defraudar essas expectativas, considerou Elísio Estanque, explicando que isso levará a uma alteração da sociedade a partir da insatisfação dos jovens”.
Em Davos o economista e acadêmico norte-americano Kenneth Rogoff alertou que ” a reestruturação da dívida soberana de Portugal irá, inevitavelmente, seguir a da Grécia e há uma elevada probabilidade de que a Irlanda e a Espanha terão de realizar a mesma remodelação dos pesados endividamentos de seus bancos”. (Associated Press)
Disse ainda durante uma entrevista que ” a atual melhora nos mercados de títulos da dívida de países periféricos da zona do euro é “uma ilusão”. Segundo o economista, o Banco Central Europeu está “financiando esses títulos e é essa razão da queda dos spreads (de juros).”
“Que será necessária uma reestruturação na Grécia e em Portugal está claro e, provavelmente, também na Irlanda, onde deve ser suficiente remodelar as dívidas dos bancos, assim como na Espanha, se for considerada a dívida do setor privado e dos grandes bancos”, afirmou. “A Itália é um caso a parte e o que deve estar ocorrendo por lá é apenas uma questão de liquidez”.( Associated Press)
O Desemprego em Portugal bateu os 13,6% no fechamento de 2011, provando que as medidas de austeridade e privatizações seguem na contra-mão do emprego. A situação é de piora geral, mas a imposição da banca segue sendo cumprida fielmente.
E é bom lembrar que a classe média europeia vive na Europa! Isso mesmo: se empobrecer não adianta improvisar, vender sanduíche na praia ou balinha no ônibus, como aqui: vira pobre miserável mesmo, desvalida nos invernos gelados, pouca comida, porque a vida por lá é caríssima.