215: Em nome do Pai

 

 

Este ano meus pais completarão 70 anos de idade, meu pai dia 15 de Abril e minha mãe dia 07 de Julho, serão datas cheia de festas e alegria, os dois, cada um a seu modo, deram muito de si por nós, moldaram nossas personalidades, nosso modo de ser. Os filhos, somos 5, identificam-se com eles em detalhes que agora na nossa maturidade, tornam-se mais visíveis e não tem como esconder. Alguns na aparência física, outros na personalidade, até na forma de falar e agir, é uma coisa muito intensa, por vezes hilária.

Ano passado escrevi sobre minha mãe no post  “Mãe”, a Minha Mãe na posse da Dilma , aquela senhora espetacular que acompanha minha vida, mesmo de longe, óbvio que há uma grande identidade entre nós, até hoje, escrevo corado de vermelhidão, sou tratado como “meu filho”, a despeito dos demais. Mas a recíproca é verdadeira no afeto e dedicação que a ela me une.

Mas hoje quero falar do meu Pai, uma figura carismática, bonachão, grande contador de causos, uma memória viva da família, dos tempos mais antigos de nossa pequena terra. É quase impossível não se deliciar com suas histórias, mesmo nós que já ouvimos por diversas vezes, sabemos de palavra a palavra, mas ouvimos sempre como se fosse a primeira vez. Um grande anfitrião, sempre foi assim, capaz de oferecer o que não tinha aos amigos, sem nada esperar de volta.

Pedro Rocha, é um personagem, quase lendário, é ídolo dos filhos e netos, mas também dos nossos amigos, suas tiradas cortantes, ferinas, um humor fino, cheio de malícia e graça. É preciso ficar sempre atento, ao menor descuido, meu pai dá o bote, certeiro e engraçado. Impagável e imperdoável, ele ensina a arte da “trollagem” aos filhos e netos.

Meu pai nasceu na Santa Maria, uma fazenda que merece um post separado, viveu em Bela Cruz, caminhou pelo mundo, foi candango em Brasília, voltou ao Ceará depois da inauguração da cidade. Foi caminhoneiro por muitos anos, percorrendo o Brasil, em particular Fortaleza-Belém, depois taxista, até voltar a morar na fazenda, próximo de jijoca de Jericoacoara. Lá é seu lugar, sua vida, cuidando de bichos, fazendo queijos, recolhendo castanhas de caju, mas principalmente recebendo os filhos e amigos para dias de conversa e muita comida.

 

Meus pais com netos e o bisneto, novo xodó da família, o pequeno João Airton, faltou apenas a neta mais velha, Glayciane, que estava em Fortaleza.

Neste alpendre é centro de nossas longas jornadas de conversas e histórias. Deitados ou sentados na redes e tucuns ficamos por horas entre uma refeição e outra. Aqui se acorda muito cedo, lá pelas 5:30 já se tem tirado leite e o primeiro café servido à base de tapioca e cuscuz de milho. Pelas 8 um segundo café, depois um lanche às 10, almoço às 11:30. Um cochilo, depois mais conversa. Pela tarde mais comida e depois a criançada vai andar a cavalo, enquanto conversamos mais e mais, aproveitando todo o saber do meu velho pai.

 

De noite, depois do jantar servido às 17:30, então reiniciamos a sessão noturna de conversar, sob um céu sempre estrelado, os mais novos cansados do dia, em geral se sentam para ouvir meu pai. Antigamente na velha casa, ouvíamos meu avô e seu João Tomé, uma sumidade em contar estórias de trancoso, uma arte que aquele senhor, sem instrução formal, contava e fazia que viajássemos, num português provençal, as princesas, os cruzados, o boitatá, os sacis. Os heróis de gibão, homens corajosos que com pequenas espingardas matavam onças e veados. Hoje é meu pai que tem que relembrar estas estórias para netos e bisnetos.

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

0 thoughts on “215: Em nome do Pai

  1. Adorei a descrição do pai. Além do pai e da mãe, tem a casa dos meus pais. Lá na casa dos meus pais “o tempo espera, lá é primavera, portas e janelas ficam sempre abertas pra sorte entrar. Em toda mesa pão, flores enfeitando o verão… Toda gente cabe lá. Palestina, Shangrilá” (Marisa Monte). Beijos irmão querido

  2. Arte da trollagem. Quem sai aos seus não degenera, hahaha.
    Um dia quero ir lá contigo.Vamos fazer um desafio de trollagem eu, você e seu pai.

  3. Arnóbio

    Amei sua descrição fiel do pai e como também seus filhos (nós) saímos a sua imagem ….bjs sua irmã mais nova e querida kkkkkkkk

  4. Arnóbio
    Parabéns pela descrição que fez dos seus pais e dos momentos vivenciados no âmbito da família, nas oportunidades que você tem.
    Concordo plenamente com os comentários que você fez.
    Tenho uma grande admiração e respeito por este casal (Pedro e Fátima).
    O Pedro completou 70 anos hoje, transmita meus parabéns e voto de que continue, com o espírito alegre e voltado para família.
    Um grande abraço
    João Batista Lopes

  5. Meu querido irmão, como são verdadeiras suas palavras sobre nosso amado Pai, foi com grande emoção que vivemos, ontem, na Fazenda Bom Sucesso, do seu filho querido a celebração destes seus 70anos de vida, através da missa celebrado por tio Assis, e como não podia deixar de ser, as homenagens feitas por todos, principalmente o ‘JORNAL’ DE EMOÇÕES que Mamãe escreveu e eu tive de ler, já que por ironia do destino seus óculos quebraram.A falta de vocês foi sentida em cada palavras ali dita.Nosso Pai realmente é uma autarquia que nos enche de orgulho, de amor,de vontade de escutar suas história e sair contando para todos como se Ele fosse único em tudo o que faz.bjs.Cheirimmm na Mara, Lê e Luana.

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