213: Volver a los 17

 



 

 

 

 

 

 

 

 

 

Hoje, aqui em Fortaleza, fiz uma visita sentimental ao meu passado, estive na mítica ex-ETFCE ( Escola Técnica Federal do Ceará), agora denominada IFCE( Instituto Federal do Ceará). A acanhada sede de Fortaleza, não diz o tamanho da revolução que ali se passa.

Durante 5 anos de minha vida frequentei e, de certa forma, protagonizei, parte de sua história. Entre 1984 e 1989, fui aluno, líder estudantil e principalmente cidadão. Anos gloriosos de luta, aprendizado técnico, político e de vida. Estive nos momentos marcantes daquela época, vivi intensamente aqueles dias.

A ETFCE era referência de educação de qualidade para cidade, a escola pública secundarista mais importante do estado, para ela concorria alunos de todas as escolas, para as poucas vagas, conseguir passar no vestibulinho era motivo de orgulho dos pais, pois ali se garantia um ótimo segundo grau e de quebra um excelente curso técnico, sinônimo de emprego e um começo de vida mais sólido no mercado de trabalho.

Comigo não foi diferente, ainda no curso pró-técnico, já me apaixonei pela “Escola” , pois é/era assim que nos referíamos a ela. A Escola era algo muito diferente das outras, começando pela não obrigatoriedade de ir para sala de aula, você era “livre”  para faltar, sem chegar aos ouvidos dos pais, a responsabilidade era inteiramente sua, aquilo fazia uma baita diferença. Com 14/15 anos começa a entender a sua responsabilidade de saber o que se quer.

Logo que entrei conheci o pessoal do movimento estudantil, vinha de um colégio de ” esquerda”, então a identificação foi quase natural, as trocas de material clandestino, pois ainda formalmente vivíamos sob ditadura, mas as liberdades tomava conta do Brasil. Fundamos um comissão pró-grêmio livre, mas ” taticamente” o PC do B aceitava participar do “centro cívico” uma invenção da ditadura. Esta realidade perdurou por mais de dois anos, quando finalmente, já mais maduro dirige a assembléia que acabou com o centro cívico e refundou o Grêmio Livre, que denominamos de José Montenegro de Lima, o último presidente da entidade antes de ser fechado pela ditadura, depois foi preso e morto.

Mesmo em 1986 foi um ato de muita coragem de enfrentamento, pois a direção da escola e os departamentos todos eram dirigidos por ex-agentes da Ditadura, a presença do SNI era latente. Coube amim a presidência do Grêmio, a primeira gestão, uma composição de forças do grupo que participava, CGB(Coletivo Gregório Bezerra – racha do PCB via Prestes) e o PRO(Partido da Revolução Operária – grupo da prefeita Maria Luíza Fontenele).

A intensidade de nossas lutas o engajamento massivo, conseguimos polarizar politicamente a escola, sem falsa modéstia, nós balançamos aquelas velhas estruturas, sem temor, lutamos contra o Governo Sarney que queria acabar com o ensino técnico, por eleições diretas para diretor, por melhoria no ensino, além das lutas gerais do Brasil, o engajamento nas lutas secundarista me levou à UMES, derrotando anos de aparelhamento do PC do B.

Mas tudo começou ali, naquela sede. Quando passei por lá, o antigo Grêmio, hoje DCE José Montenegro de Lima, pelo menos o nome foi mantido, até nossas antigas estantes e mesas e o retrato de Montenegro Limas, de uma brigada da FSLN ( Frente Sandinista) que apoiamos em 1987, quase chorei.Perguntei uma garota que lá dava plantão: Você sabe quem é naquela foto? quando foi posta ali? óbvio que ela não sabia, disse para ela foi na minha gestão que pusemos ali.

Tempo lindo de amigos que partiram, o artista e camarada B da Costa. De muitos outros que não tenho mais notícias: Pedro, tesoureiro. Carlos (vice) e irmão do B da Costa(secretário de cultura). Gilberto, Secretário, Ana Paula. Gente que aprendi muito a ser melhor. Grandes embates políticos, ideológicos. Sem dúvida a Escola nos ajudou na cidadania, sinto que nossos atos contribuiu para que muitos também descobrissem a luta e a necessidade de mudanças.

 

IFCE

 

 

Mapa do IFCE com as localizações dos CampiLista dos campus com a localização no mapa

Pular lista (lista dos Campus).

 

O IFCE agora é gigante, chega a muitos municípios do interior do Ceará, uma das marcas da gestão do Lula-Dilma e principalmente de Haddad. Em todo estado vários centros de excelência, sinto-me orgulhoso de saber que ajudei de alguma forma a não permitir que se acabasse a Escola, depois quando fizemos Lula Presidente. Os desafios agora são outros, novas lutas se impõem, espero que aquele velho espírito possa contagiar os novos alunos que frequentam aquelas velhas alamedas, pois ali tem história, vida e paixão.

Minha irmã, Benedita Rocha, é professora, trabalha na Pro-reitoria de ensino, além de ser entusiasta, como eu, desta maravilhosa instituição, ela viveu, como estudante, na minha época, depois como professora toda esta transformação, toda nossa ligação com a Escola, é de amor e carinho, por tudo que ela nos deu/dá até hoje. Meus velhos amigos e ainda professores que revi lá, sempre me faz pensar que ali vale a pena.

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

0 thoughts on “213: Volver a los 17

  1. Sempre me emociono ao ler relatos de um passado de luta de jovens como você.Jovens que são “a nossa continuação” e com certeza o que
    vivemos,pós 1964,valeu a pena.Juntos,aos trancos e barrancos…não fomos derrotados.

  2. Grande Arnóbio!
    Sem dúvida nenhuma a maior liderança estudantil que pisou em solo ETFECIANO (como diria o saudoso Professor Anchieta). Participei no apoio de sua gestão e, depois, fiz parte da gestão que sucedeu a sua, sob a presidência do Edvaldo. Fizemos o possível para manter o nível das mobilizações e nos empenhamos em diversas lutas como a de moradia para estudantes vindos do interior.

    Tempos muito ricos. Lembro ainda do dia em que você e o Eudenes me convidaram para entrar no CGB, durante uma festa junina no Colégio Ari de Sá. Nunca entrei, mas sempre fui área de influência e admito que os ensinamentos daquelas discussões até hoje me influenciam. Algumas certezas eu perdi, outras eu mudei, mas no geral continuo defendendo o modelo de sociedade que igualitária defendia na época. Você, amigo, pode ter certeza que foi peça fundamental para isso.

    Ps: recebi um email de um cara que você provavelmente nunca viu ou conheceu, com um link do seu blog, perguntando se era do famoso Arnóbio do meu tempo. Para minha grata satisfação, era.
    Passarei a acompanhá-lo.

    Luiz Eduardo.

    1. Luiz Eduardo,

      Muito obrigado pelas palavras, não sei se sou merecedor de tudo isto. Mas me sinto reconfortável de saber que influenciei positivamente na sua vida e de outras pessoas. Podemos até mudar alguns sonhos, mas sem perder a coerência e o desejo de viver num mundo mais justo e igual.

      Abraços,

      Arnobio Rocha

      PS: tenho encontrado ex-ETFCE no Facebook, sempre lembramos de boas histórias

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