184: A vida segue, sempre

 

Ficheiro:Gustave Moreau Orphée 1865.jpg

(Orpheu – Gustave Moreau)

 

“And how can you mend a broken heart?
How can you stop the rain from falling down?
How can you stop the sun from shining? “
How Can You Mend A Broken Heart – Al Green)


É uma doce ilusão que o passado pode voltar, mais ainda que você poderá consertar algo que se quebrou, o encanto de um momento histórico que você viveu. Mais ainda acreditar, de boa-fé, que aquelas pessoas que um dia distante te magoaram possam, hoje, ser diferentes. Ilusão, apenas ilusão.

Quem nunca teve Timé ou Areté ( Τιμή (timé), a “honorabilidade pessoal” e a αριστείας (areté), a “excelência”  – A questão do Herói – Grécia sopra sobre nós ), jamais terá, pois a opção era ali no rito de passagem, se não entenderam ali, hoje mais experiente, apenas vão disfarçar sua estupidez e estreiteza. Quem nunca foi solidário, não será hoje, bobagem querer que alguém der algo que não nunca teve. Na última semana fui chamado para dialogar com este passado, a experiência durou não mais que cinco dias, os mesmo de sempre, são como o escorpião, está no gene.

As redes sociais têm este condão de nos trazer pessoas e memórias delicadamente guardadas em nossas vidas, meu caso em particular, de ter me tornado expatriado(dentro do meu próprio país), então é muito rico, praticamente vivi dois momentos bem distintos, tanto de tempo, como de lugar. O primeiro me deu um grande suporte de ser o que sou hoje, apesar dos dissabores normais da vida. Mudar de estado, num país continental como Brasil é a mesma sensação de ser expatriado, falo também por ter vivido como tal no Japão ( ver minhas Crônicas do Japão ).

Mas o rompimento, o corte fundamental entre estes dois mundos não se processa de forma simples, como se um não vivesse no outro, daí o impacto de ter visto esta janela aberta, mas infelizmente, a conclusão é bem clara, o tempo não ajudou a curar velhas feridas, velhas polêmicas agora transformadas em outras. Para mim, não tenho como conviver com a mediocridade alheia, a pobreza de espírito. Acabou sendo uma lição, assim como quem desce ao inferno, jamais pode olhar para trás, Psiquê foi instada a seguir em frente, assim como Orfeu, sem olharem para trás.

Mas nem todo mal é mal que não possa trazer um bem, tenho sorte de ter vivido e continuar a desfrutar da amizade de velhos amigos,  que o tempo não desfez, a distância não quebrou o amor e o carinho que nos uniu e une ainda hoje.

Esta música grudou na minha alma e a cena do filme é marcante.

 

“What makes the world go round?
How can you mend this broken man?
How can a loser ever win?
Please help me mend my broken heart and let me live again”

( How Can You Mend A Broken Heart – Al Green)

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=vng66yaAtdI&feature=related[/youtube]

 

 

 

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

0 thoughts on “184: A vida segue, sempre

  1. Gostaria de escrever muito mais do que vou deixar aqui. Por enquanto só posso dizer que apesar de não termos naquele período tão especial das nossas vidas laços de amizade mais profundos, o que vivemos em termos de geração, de projetos de vida e de sociedade, nos une de alguma forma, para sempre. Vc tem razão, muita coisa não muda mesmo e a vaidade é cruel, sempre! Fiquei feliz em saber que o teu coração continua limpo!! Isso é o que vale mesmo!!!

    1. Dora,

      Minha amiga querida, aliás, você e Wellington, me ensinaram coisas muito importantes pra mim naquela época tão sectária. Quando namorei a Pazinha, já era uma quebra de tabu, mas a forma como vocês me tratavam era tocante, uma parte linda daquela época que guardo com muito carinho. Convivi pouco tempo com vocês, mas aprendi a respeitar demais, abriu meus olhos sobre questões bem simples: Solidariedade, respeito, camaradagem, fraternidade que existia independente das correntes políticas e ideológicas. Obrigado de coração,

      Arnobio

  2. Bem, o texto e a música são lindas, camarada. Entendo que você está dolorido e muito sensível pelos dissabores que a vida te proporcionou, e assim não há palavras que possam suavizar esse momento, se eu as soubesse e elas tivessem o dom da cura, já as teria pronunciado… Quanto a mim, muitas pessoas já me magoaram e me decepcionaram também, e tento passar por cima de tudo, caso contrário a vida fica cheia de limitações e dores – e eu também já magoei e decepcionei muita gente, a vida é aprendizagem, resta-me apenas pedir perdão e me perdoar também… foi muito bom reencontrá-lo, camarada, você é uma pessoa fora de série. um abraço enorme!

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