Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0: A ruptura do Bloco Europeu

179: Crise 2.0: A ruptura do Bloco Europeu

 

 

 

“Dos bandos, das legiões cabos e chefes
Vêm receber do general as ordens;
Semelhantes a deuses na figura,
Muito excediam a estatura humana”;

(Paraíso Perdido – John Milton)


As horas correram nesta madrugada na costura do acordo de um novo tratado para UE, sob rígida orientação de Alemanha e França, como tratamos nesta semana Crise 2.0: O Paraíso Perdido , as medidas para combater a Crise 2.0, é uma espécie de volta ao começo do Euro, porém numa perspectiva mais dura.

Sinteticamente as medidas são: a) Disciplina fiscal rígida com intervenção mais direta da autoridade do UE em cada país, ou seja, a perda parcial de soberania. b) Punição aos que descumprirem – a segunda medida é a exclusão dos “pecadores” com mecanismo mais rápido, dando pouca possibilidade de países ficarem na Zona do Euro sem se adequarem às suas regras. c) Fundo de resgate em substituição ao fundo de estabilização, este “colchão” maior permitiria uma intervenção mais precisa na crise.

 

A visão do Reino Unido

 

Estas medidas foram duramente criticadas por Martin Wolf, economista chefe do Financial Time, num primoroso artigo “Merkozy failed to saved the eurozone” ele demonstra que as premissas alemãs de que o problema central da crise é o Déficit Fiscal é falsa. Os dados entre 1999 e 2007 demonstram que todos os países membros do Bloco Europeu respeitavam o limite de 3%, óbvio que com a crise de 2008 a maioria passou por dificuldades próprias da crise.

Mesmo as dívidas públicas nos países hoje mais afundados na crise como Espanha e Irlanda a relação PIB X Dívida era bem mais saudáveis que a da Alemanha ou França, por exemplo. Ou seja, não havia esta “irresponsabilidade” que hoje é jogada na cara destes países como pródigos, farristas e outros mais.

Martin vai então ao coração do problema: O Balanço de pagamentos. Os países da Zona do Euro têm problemas graves de balanço de pagamentos, mas como uma boa coincidência do destino deste déficit de contas concorrentes é que faz um amplo, quase na mesma proporção, dos ganhos da Alemanha. Enquanto Itália, Espanha, Grécia e outros têm alto déficit de suas contas, a Alemanha enriquece enormemente.

Como bem observar Wolf, jamais a Alemanha e França porão na mesa este problema, mais ainda qual o fulcro deste desnível, nem Wolf ousaria, tem que ser marxista para ir mais além. A sofisticada Alemanha com seu alto padrão produtivo (produção de valor) tem ampla vantagem competitiva sobre os demais membros. As empresas alemãs instaladas nos diversos países europeus remetem à matriz seus ganhos, a Alemanha exporta capital, não tem como ter moeda “comum” entre padrões produtivos tão dispares.

Enquanto todos os países mergulham em números negativos, Berlim comemora seus valiosos feitos. Diminuição da taxa de desemprego, aumento do PIB (mesmo pouco, mas consistente), alto superávit das contas publicas. Para o bem ou para o mal a Alemanha virou o centro da Europa, como tratar isto politicamente é que é o problema.

 

A Cimeira da UE

 

Hoje as primeiras medidas anunciadas dão conta que Reino Unido e Hungria estarão fora do novo tratado. talvez República Checa Suécia farão consulta aos seus parlamentos . Nenhum destes está na Zona do Euro. Consolidando assim o racha dos 27 membros da UE.

O BCE respaldou as medidas propostas por Alemanha e França: “Vai ser a base para um compacto fiscal e mais disciplina na política econômica nos membros da área do euro”, disse o Sr. Draghi.(Site online do Financial Times).

O site dar conta ainda do intenso trabalho diplomático para evitar o rompimento no bloco europeu, mas na palavras do Presidente francês não há como evitar:

“Muito simplesmente, para aceitar a reforma do tratado aos 27 membros da UE, David Cameron pediu que achávamos que era inaceitável: um protocolo para exonerar o Reino Unido de regulamento dos serviços  financeiro”, disse Nicolas Sarkozy, o presidente francês. “Nós não poderíamos aceitar isso como pelo menos parte dos problemas [Europa está a enfrentar] vieram deste setor.”

O clima entre os diplomatas britânicos é de pessimismo, um deles disse “isso vai custar muito caro no Reino Unido”. O próprio David Cameron declara que lutou muito “Eu tive que perseguir obstinadamente o que foi muito do interesse nacional britânico,” o Sr. Cameron disse. “Às vezes, é a coisa certa a dizer, ‘Eu não posso fazer isso, não é do nosso interesse nacional, eu não quero colocar isso na frente de meu parlamento, porque eu não acho que posso recomendá-lo com uma clara onsciência, assim que eu vou dizer não e exercer o meu veto.

Já do outro lado Merkel responde que “O euro perdeu credibilidade e essa credibilidade deve ser recuperada” e conclui dizendo “Comissão Europeia deve ser mais responsável e a Corte de Justiça Europeia deveria ter mais responsabilidades”. “Precisamos deixar claro que no futuro realmente cumpriremos o pacote de estabilidade e crescimento, que fará uma união estável”

O que nos parece óbvio o caminho para consolidação da Europa Unida teve seu fim hoje, a Crise atual já produziu a primeira vítima global. A Alemanha e a França impuseram uma nova dinâmica: Ou adesão, ou nada. O Reino Unido sairá desta cimeira como aquele que resistiu mais uma vez aos “tanques alemães”, mas não estamos mais em 1945.

 

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