18 de novembro de 2025

0 thoughts on “Crise 2.0: “Refundar” a Europa (Post 159 – 113/2011)

  1. Following up!

    O grande problema com análises conjunturais é a quantidade de categorias que tomamos como “dadas”. Isto é, como postas e recebidas como verdades absolutas e que não merecem ser discutidas. É quase sempre esta condição que não permite vislumbrar o futuro senão como algo hipotético, provável, possível, incerto e inseguro.

    Poderíamos passar horas, compa, discutindo a “flexa do tempo” nas pegadas de Prigogine e nos modos da percepção da teoria dos sistemas como formas de entropia.

    Antes de entrar no comentário do post, gostaria de te chamar a atenção para um dos “dados” do problema. Farei isso na forma de uma metáfora do que chamarei de “governing rule” ou “medida da realidade”.

    Para os clássicos, cuja produção e cultura já manisfestou apreço, a medida da realidade era um conceito – que hoje nos parece um tanto vago, a vida. Para os antigos, não há pólis, não há ágora, não Odisséia que se desenvolva sem uma profunda relação com esta abstração chamada vida. É o tempo da vida que governa todas as relações, inclusive as de produção. Para os modernos, que ouso datar ao “descobrimento” da América e a aventura de Cristóbal, a medida da realidade não é mais o tempo da vida, mas a obsessão pelo tempo do espaço. Controlar a imensidão que fracionou o reino de Alexandre e o império de Roma. Na pós-modernidade, a medida da realidade tudo ficou reduzido ao tempo. A hegemonia está no interior do domínio não meramente intelectual, mas concreto do tempo.

    Se o tempo da vida dos antigos é uma percepção coletiva, decalcada do próprio movimento da natureza, o tempo do moderno é um desdobramento desta potência. A obsessão pelo tempo do espaço é suplantada pelas formas de ação do homem sobre a natureza. Já o tempo dos pós-modernos, tendo o império do domínio da ação sobre a natureza, transforma-se numa apreensão subjetiva e individual. Controlar o tempo passou a ser dominar o homem, submetê-lo ao seu império.

    Quando Merkel e Sarko falam de uma união fiscal, em minha opinião, menos do que significar a fundação de um Estados Unidos da Europa, refere-se a um profundo deslocamento do centro de controle do tempo e de sua percepção. Na prática, com TGV’s, aviões e telecom’s os espaços geográficos deixaram de ser realmente importantes. Creio que o Merkel e Sarko pretendem determinar é o domínio dos meios e modos de produção.

    Nesse sentido, tudo é menos economia e mais logística. Uma união fiscal pressupõe um orçamento unificado e não acredito que nem alemães, tampouco franceses queiram estender a sua concepção de direitos sociais a um Estados Unidos da Europa, a menos que estejam dispostos a abrir mão de conquistas temporais.

    Acho que a leitura de alguns conceitos de dromologia (velocidade) nos ajudariam a por mais luzes sobre esta questão.

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