Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0: Capitalismo vs. Democracia

170: Crise 2.0: Capitalismo vs. Democracia

 

 

 

 

Domingo no caderno “Aliás” o Estadão republicou um artigo que saíra no “The Washington Post” de Harold Meyerson, velho jornalista militante, que já no título, faz uma provocação fatal, a mesma que estamos fazendo na longa  série Crise 2. 0, “ Capitalismo vs. Democracia” é um artigo provocante demais, vale ler cada parágrafo. O link do artigo integralmente está aqui em português traduzida pelo Estadão : Capitalismo vs. Democracia e em inglês no The Washington Post : The growing tension between capitalism and democracy

 

Capitalismo vs. democracia

Governos eleitos desbancados na Grécia, Itália, Espanha… É como se os mercados da Europa se cansassem dessa bobagem de soberania democrática

Harold Meyerson – The Washington Post ( via  O Estado de S.Paulo) / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK


“Capitalismo conflita com democracia? Um enfraquece o outro?

Para ouvidos americanos, essas questões parecem bizarras. Capitalismo e democracia estão ligados como gêmeos siameses, não? Esse foi nosso mantra durante a Guerra Fria, quando era nitidamente claro que comunismo e democracia eram incompatíveis. Mas depois que a Guerra Fria terminou as coisas ficaram mais confusas. Não custa lembrar que virtualmente cada executivo de empresa americano e cada presidente americano (dois Bushes e um Clinton, em particular) nos disseram que levar o capitalismo à China democratizaria a China”.

 

É exatamente o ponto crucial da propaganda do grande capital, que a expansão do capitalismo levará democracia a qualquer lugar do mundo, desde o antigo leste europeu, agora recentemente nas invasões aos países muçulmanos, como  Iraque, Afeganistão. A insistência em criminalizar Venezuela, Irã, Coréia do Norte tratando-os como eixos do mal.


“Os governos eleitos da Grécia e Itália foram depostos. Tecnocratas financeiros estão no comando nos dois países. Com as taxas de juros dos bônus espanhóis subindo acentuadamente nas últimas semanas, o governo socialista da Espanha foi desbancado por um partido de centro-direita que não ofereceu soluções para a crise crescente desse país. Agora, o governo de Nicolas Sarkozy, na França está ameaçado pelas taxas de juros crescentes sobre seus bônus. É como se os mercados por toda a Europa tivessem se cansado dessa bobagem de soberania democrática”.

 

Até a questão formal, eleições para validar governos em crise, foi abandonada, não admitindo que se “perca” tempo ouvindo o povo, afinal eles não têm muito a dizer, impuseram governos a países que foram berço da democracia ocidental: Grécia e Itália.

 

Cidadãos de Segunda categoria


“Para ninguém achar que exagero, considere-se a entrevista concedida por Alex Stubb, ministro da Europa para o governo de direita da Finlândia, ao jornal Financial Times no último fim de semana. Os 6 países da zona do euro com classificações de crédito AAA, disse Stubb, deveriam ter maior influência nos assuntos econômicos da Europa que os outros 11 membros do euro. Os direitos políticos da Europa Central e do Sul seriam subordinados, basicamente, aos da Alemanha e da Escandinávia – ou às agências de classificação de crédito, que estão ameaçando rebaixar a França (reduzindo, com isso, de seis para cinco o número de países do euro tomadores de decisões).

O que Stubb está propondo, e os mercados estão fazendo, é, em essência, estender ao reino de países antes igualmente soberanos o princípio de “um dólar um voto” que nossa Suprema Corte inscreveu em sua decisão Citizens United no passado. O requisito de que se deve possuir propriedade para votar – abolido neste país no início do século 19 pelos democratas jacksonianos – foi ressuscitado por poderosas instituições financeiras e seus aliados políticos. Para os países da união monetária europeia, a “propriedade” de que precisam para garantir seu direito de voto é uma classificação de crédito apropriada”.

 

A ideia desta emissão de Eurobônus “seletivo” estar sendo posta em prática, ontem as bolsas explodiram com a possibilidade destes títulos serem lançados apenas pelos países do triplo AAA. A democracia formal foi deixada de lado, uma verdadeira capitulação dos dirigentes eleitos aos ditames dos “mercados”, agora sem nenhum disfarce.


“Nos 80, alguns governos, liderados por Ronald Reagan e Margaret Thatcher, inclinaram-se para outro caminho, aumentando as taxas de juro e o desemprego e ajudando a quebrar sindicatos. Nos anos 90, um acordo fatal foi firmado: para compensar as rendas estagnadas, o endividamento privado disparou e proprietários de casa e consumidores recorreram ao crédito fornecido por instituições financeiras desreguladas. A dívida pública contraiu (os Estados Unidos tiveram orçamentos equilibrados no fim dos anos 90). Na esteira do colapso de 2008, essa dinâmica foi invertida: governos por toda parte assumiram o endividamento que seus cidadãos não poderiam mais suportar, mediante gastos deficitários para contra-atacar a Grande Recessão.

Agora, os mercados estão contra-atacando. Napoleão não conseguiu conquistar toda a Europa, mas a Standard & Poor’s talvez ainda o consiga. Conflitos entre capitalismo e democracia estão eclodindo por toda parte. E os europeus – e mesmo os americanos – poderão ter de enfrentar, em breve, uma questão que não consideraram por muitíssimo tempo, se é que algum dia consideraram: de que lado eles estão?

Hoje a Moody’s ameaçou a UE para que tomem logo uma decisão rápida, senão rebaixa todo mundo, é a “voz” , uma espécie de “Anjo Gabriel” do “Deus Mercado”, para que os mortais aceitem pagar pelos seus pecados.

ISTO AINDA É DEMOCRACIA? fica a questão…

 

 

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0 thoughts on “170: Crise 2.0: Capitalismo vs. Democracia”

  1. Excelente! Muito bom ver que um colunista da grande imprensa de país central tenha tais preocupações, né? Nós, os dinossauros que temos medo do fascismo, antevemos inquietos o futuro. Agora, esse finlandês, hein??? Não vou escrever o que estou pensando sobre ele!!!

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