128: Crise 2.0: A questão Ideológica (Post 127 – 81/2011)

 

 

 

“Meu partido
É um coração partido
E as ilusões estão todas perdidas
Os meus sonhos foram todos vendidos” (Ideologia – Cazuza e Frejat)

Crise e Ideologia

A Crise 2.0 tem sido analisado neste blogs com vários posts (Ver Economia Política )  olhando-a do ponto de vista de Economia e Política. Como ano passado tinha escrito sobre as questões ideológica por trás da crise, resolvi sistematizar melhor esta análise, para ter um melhor método de acompanhamento do cenário mundial, em particular suas profundas mudanças no debate ideológico.

Vários de nós, em pequenos grupos e círculos intelectuais, voltaram aos estudos dos clássicos, não apenas os escritos de Marx, mas de toda a tradição humanista, revisitar os filósofos gregos, os cânones literários, as fontes únicas do pensamento humano.

Esta dolorosa tarefa no meio militante é sempre muito complicada, cheia de barreiras, parte dos dirigentes despreza a ampliação do conhecimento, pois as tarefas diárias se impõem. A baixa compreensão, da formação política e intelectual também se torna adversário deste “mergulho”.

Dividiremos este longo post em blocos :

  • A) A queda dos Blocos Ideológicos
  • 1) Falência do Leste Europeu;
  • 2) Falência do Liberalismo;
  • B) Estado de Bem Estar Social;
  • C) A Gênese do Neoliberalismo;
  • D) Apogeu e queda;
  • E) A Ideologia sobre o Estado

A queda dos Blocos Ideológicos

Os anos de 1989 e 2008 trarão consigo,quando vistos no futuro, uma profunda ligação, eles encerram marcos muito claro de disputas ideológicas e suas respectivas quedas. Os fatos de 1989 representados na queda do muro de Berlim encerrou a experiência das “Economias de Estado” iniciada com a Revolução Russa de 1917, a revolução Socialista, não completa, ruiu com o muro.

A queda do “socialismo real” possibilitou o aprofundamento do Neoliberalismo, iniciado com Tatcher e Reagan no fim dos anos 70, que terá seu auge pós-muro. 19 anos depois caiu o outro muro, o de Wall Street, quando houve uma quebra generalizada dos bancos e sua imoral ciranda financeira mundial.

Em ambos os casos a ressaca é ideológica, direita e esquerda sem projetos claros de poder e  utopia.

Pós-muro de Berlim: a grande melancolia da Esquerda

As imagens da queda do muro de Berlim, mostradas e reprisadas à exaustão foi um baque imenso na Esquerda mundial, havia dois sentimentos nas principais correntes de pensamento:

1)       Estupor: Por parte dos grupos que tinham vínculos históricos político-afetivos com a URSS, em particular correntes Stalinistas e não-trotskistas em geral. Aquele profundo desanimo de repensar a vida e valores morais, culturais, fé e utopia;

2)      Euforia: Por parte das correntes Trotskista, que viram na queda a justeza de que sempre tiveram razão de que lá não era Socialismo e mais ainda que uma nova revolução estava em curso, os trabalhadores não aceitariam à volta do “capitalismo”.

Sabemos as profundas conseqüências deste comportamento. Na parte não-trotskista e stalinista, muitos companheiros se quebraram, moralmente abatidos, era uma paulada atrás da outra, todos os sonhos ruíram de forma rápida e inequívoca, praticamente Todos os projetos de esquerda no mundo foram desarticulados, a vitória histórica foi acachapante.

Do lado trotskista a ficha demorou a cair se é que efetivamente caiu para alguns, de que eles também não teriam público para continuar a revolução, a própria análise de que o leste não era Socialista, mas mesmo assim os trabalhadores de lá não iam aceitar o Capitalismo é uma flagrante contradição.

Esta cegueira advinha de uma crença quase religiosa na revolução, em particular na interpretação russa do escritos de Marx, que teve em Lênin grande continuador, mas adstrito a realidade russa, mas que foi tomada como universal.

Aquele impacto de ruir todo o leste europeu fez com que vários companheiros simplesmente abandonarem a luta política, acreditando que aquela era a experiência definitiva do que se convencionou chamar de “socialismo real”. Honestamente derrotados, incapaz de continuarem a militar, se recolheram, trancaram a vida para qualquer nova reflexão.

Houve uma tentativa meio “tateado às cegas” de fazer balanços históricos de se entender o que passara nos 72 anos de URSS, os grandes erros, o que levar de lição da revolução. Porém faltaram “audiência” e disposição moral para ir até o fim.

Na metade dos anos 90 a atomização da esquerda revolucionária era fato, com a integração do PT ao regime, as experiências de PSTU e mais recente PSOL, ainda não tem dimensão de massas e não conseguiram discutir um programa capaz de empolgar o ideário revolucionário. Permanecendo assim o PT ainda dentro de um campo de debates de idéias e suas de experiências de administrações dentro dos marcos burgueses são referência para o conjunto da classe.

Pós-queda de Wall Street: a grande melancolia da Direita

Setembro de 2008 são o marco da queda do castelo Neoliberal, a bancarrota de toda a lógica de acumulação de capital dominante da última do Século XX e a década inicial deste século tem efeito político-ideológico similar à queda do muro de Berlim.

Ruiu a visão de que a História tinha acabado, de que o Estado não era mais necessário, de as organizações coletivas eram peças de museu. Todo arcabouço ideológico foi “triturado” pela crise.

As ações dos frágeis Governos nacionais foram em busca do receituário do passado, ninguém propôs menos estado, por que será? O estado virou a salvação de todos os pecados, aquele mesmo que fora “demonizado” nos áureos tempos Reagan, veio como o Salvador, não deve passar despercebido que a mídia fechou os olhos para esta heresia.

Óbvio que o desmonte feito no Estado em alguns países foi de uma violência tamanha, que nem a possibilidade de uma ação mínima foi tentada. Nações inteiras faliram, exemplos piores na periferia foram: México ( http://especiais.ig.com.br/zoom/a-guerra-contra-o-narcotrafico-no-mexico/ ), Argentina e Turquia. Nas economias centrais os seus déficits públicos e endividamento estatal foram ao espaço, noticias de hoje dão conta de que: Grécia, Espanha, Portugal e Itália estão na completa insolvência. Caricato é Dubai ilha artificial da burguesia de mau gosto também faliu.

A Esquerda ficou desarmada pós-muro, vejo que a Direita agora está sem terra sob os seus pés.A saída da esquerda foi buscar seus teóricos(Marx,Lenin) agora a Direita busca keynes assombradamente, como uma miragem.

Estado de Bem Estar Social

No pós Guerra várias economias centrais (EUA, Japão, Europa Ocidental) impulsionaram seus estados nacionais com ampla distribuição de renda e atendimento das principais necessidades básicas dos trabalhadores como saúde, educação previdência, aumento da expectativa de vida. Todas estas garantias foram feitas por estados nacionais fortes, que participaram intensamente das atividades da economia, centralizando o planejamento e sendo o principal indutor desta, visão de Keynes era vencedora no mundo.

Muitos economistas consideram os anos 60 e parte dos 70, os anos dourados da economia mundial, larga expansão, crescimento e mundialização do comércio. Estes anos apagaram em parte a maior catástrofe da humanidade, a Segunda Guerra Mundial. Neste contexto os EUA tomam para si a referência de crédito e dinamizador do crescimento. Garantia crédito e ao mesmo tempo comprar o que se produzia, mesmo que significasse enormes déficits comerciais. Porém garantia para si as rédeas econômicas e combatia o “comunismo”.

A dura crise do petróleo nos anos setenta combinado com as das dívidas externas no início dos anos 80 põem em xeque o estado de bem estar social (Welfare State) surgido do pós-guerra como contraponto ao leste europeu.

O Novo Liberalismo ou simplesmente: Neoliberalismo

A virada política começa com as vitórias de Reagan e Tatcher, estes impõe um duro ajuste econômico com privatizações e restrição do crédito “fácil” o que levou em 82/83 a grave crise das dívidas externas do terceiro mundo (Brasil, México e Argentina no default).

A ofensiva ideológica imposta neoliberal foi de que não havia qualquer possibilidade de “tatear” um contexto de ação econômica ou política fora desta ordem. Combateram sangrentamente as rebeliões na América Latina, como em El Salvador e Nicarágua. Usaram de qualquer método político-militar para impedir e sufocar revoluções e governos de esquerda.

Enfrentaram a antiga URSS e os países do leste europeu de forma decidida, derrotando-os impiedosamente com a queda do Muro de Berlim e o esfacelamento da Rússia. Mesmo governos claramente identificados com políticas de esquerda sucumbiram ao marasmo deste Tsunami interminável.

Nunca uma ideologia capitalista perdurou tanto como esta Neoliberal, que teve seu inicio com a derrota dos mineiros ingleses no Governo Thatcher, amplificado por 8 anos Reagan, que culminou com a queda do muro de Berlim, 30 anos ao todo,sendo os últimos 19 anos(89 a 2008) sem qualquer combate global ideológico.

Particularmente a defensiva política pela qual passamos com a queda do muro de Berlim, desarmou a esquerda ideológica que foi reduzida a pequenos círculos sem efetivo contato e produção política que oferecesse qualquer combate sistemático e global ao neoliberalismo. Em todos os campos sociais e políticos. A situação ficou tão ruim que Francis Fukuyama chegou a prever o fim da “história”.

Os arautos midiáticos nos lobomotizaram longamente, reações esporádicas de vozes isoladas foram caladas, intelectuais identificados com a esquerda foram seletivamente ou cooptados ou jogados no limbo, as noções mínimas de jornalismo foram abandonadas.

Nas escolas e universidades a ideologia e o culto ao individualismo é a norma do dia, a necessidade de  que o importante é se dar bem, nem a mínima ética foi respeitada, percebe-se isto claramente no ambiente de trabalho em que colegas recém saídos das escolas com seus MBAs  chegam pisando em qualquer um, pois o objetivo é “crescer”.

Império Único, Senhor do Mundo e das Guerras

1)    Reagan e a vitória neoliberal

O ciclo neoliberal mais forte e ideológico americano deu-se durante o duro governo Reagan, que foi amplamente vitorioso na luta ideológico ao império soviético, como diz  Macbeth depois das revelações das bruxas “tudo que nos parecia sólido sumiu ao ventos como nossos anelos”.

Reagan conseguiu eleger seu vice, Bush Pai, respaldado pela vitória anti-comunista, sem inimigos claros no mundo. A base da economia americana no pós-guerra era a indústria bélica, bilhões de orçamento público era gasto para deter o inimigo vermelho, com seu fim ela em si perderia a razão lógica de existir. Se não havia contraponto no mundo para que manter algo surreal como ela?

Ledo engano, a pretexto de proteger suas posições no Golfo Pérsico, em 1991, Bush invadi o Iraque, seus leiais aliados de combate anti-iraniano. A mal sucedida invasão, do ponto de vista militar, pois não derrubou Sadam Hussein, reanimou a economia, não o suficiente para garantir um segundo mandato a Bush.

2)    Clinton e os anos dourados do neoliberalismo

Uma surpresa total para EUA foi a vitória de Clinton, ex-governador de Arkansas, estado pequeno e secundário nos EUA. Com uma trajetória de militância política em causas sociais, Clinton chega a Casa Branca e lidera por 8 longos anos um dos maiores crescimentos da economia americana, sem que houvesse um grande conflito externo. Favorecido pela liderança única americana no cenário mundial impôs uma política de expansão das empresas e influência americana baseada no dólar e no mercado financeiro.

Caminhava para garantir um terceiro mandato com Al Gore, seu vice, mas foi atingindo pelo escândalos sexuais, a direita americana pudica até uma tentativa de impedimento cogitou, safando-se por muito pouco. Esta perda de confiança fez com que não tivesse a coragem suficiente de enfrentar a fraude da família Bush na Flórida.

3)    Bush Filho a volta dos senhores da guerra

O episódio de vencer, sem ganhar, levou a uma mudança completa de atitude do Governo Americano, que experimentou uma defensiva externa, questionamento e foi atacado pela primeira vez em seu solo. Os episódios do 11 de Setembro de 2001 foi uma dura resposta tardia a presença americana no oriente médio.

Novo recrudescimento interno e externo deu uma nova guerra ao Iraque a família Bush, detentora de petróleo e amplamente financiada pelos lobbies da indústria bélica. O medo extremo imposto ao estilo de vida americano deu ao Bush Filho seu segundo mandato. Este porém foi um fiasco total, atolados numa guerra sem saída, a economia sem responder, foram 4 anos penosos, um novo “inimigo” crescendo silenciosamente(China) a financiar seu crescente déficit fiscal, culmina com um novo quase 11 de Setembro, 15/09, a quebra de todo o sistema financeiro americano.

4)    Obama o herdeiro do império

Obama surge do nada, ganha da favorita Hillary a indicação do Partido Democrata. Uma hipótese pouco cogitada leva um negro à presidência. Vitória de um outsider total. Sem um pé na máquina partidária, dominada pelos Clintons, Obama faz um acordo cruel, entrega a Secretária de Estado, ministério mais importante americano, a sua adversária Hillary.

Enfrentando uma crise sem precedentes, Obama mais ou menos dividiu seu Governo em dois, no front interno liderado por ele, tenta aprovar reformas na saúde e recompor a economia em frangalhos. No front externo entregue a Hillary e os falcões mais reacionários, como boa conhecedora da máquina de guerra, Hillary tem seu desempenho facilitada pelos crescentes conflitos advindo da ampla crise financeira mundial.

A dura visão do Departamento de Estado, dominado pela Direita dos democratas, escolhe seus “inimigos”, o principal deles o Irã, mesmo com o refluxo no Iraque a aventura no oriente médio ainda é prioritária, atende a demanda da indústria bélica, do setor petrolífero, do militares e dos falcões de Israel.

Queda do Neoliberalismo

A grande crise que estourou no mundo em Setembro de 2008 ainda repercute gravemente na Economia, na Política e claro na vida do cidadão comum. A maior conseqüência sem dúvida foi que o canto do cisne soou alto para a visão Neoliberal de mundo.

A crise mundial atingiu em cheio o coração das economias centrais, numa proporção ainda não medida totalmente, o fantasma de que a crise não passou e ameaça mais fica evidente com a quebra seqüencial de Grécia, provavelmente Espanha, Portugal e Irlanda. A Zona do Euro enfraquecia, abriu uma janela para que país como o Brasil com uma política externa agressiva brilhe no cenário mundial.

O mundo mudou rapidamente nestes dois anos, era inimaginável que um país absolutamente secundário no tabuleiro internacional como o Brasil, agora tenha um papel de protagonista, virou uma espécie de terceira via, diante de EUA, com sua visível débâcle e a China de amplo crescimento, sustentáculo da produção de base mundial.

Esta busca por um pólo democrático longe dos impérios pode e deve ser aproveitado pelo Brasil, até o momento tem sido muito bem ocupado este espaço, aparecendo na questão do Irã e sendo referência nas relações com seus parceiros mais pobres tanto na América Latina como na África.

Ideologia e Estado

“Ideologia eu quero uma para viver” ( Ideologia – Cazuza e Frejat)

Seria cômico se não fosse trágico, mas o Estado vilipendiado pelo neoliberalismo virou o socorro às estas almas carentes de fé na sua ideologia, todas as práticas e discursos foram esquecidos e como na música do Chico a fila para Geni salvar tinham todos os personagens.

Em poucos dias o USA elegeu Obama, quase 30% da economia americana foi formalmente estatizada, a dívida líquida e o déficit público as jóias da coroa neoliberal foram enfiadas no saco, a prova cabal de que a ideologia e a política não resistem à dinâmica de crise econômica produzida pelo capital.

Estas medidas de intervenção estatal leva a um aprofundamento das diferenças sociais, em particular nos EUA onde as 400 famílias mais ricas têm a mesma renda dos 155 milhões mais pobres,a famosa classe média foi aplastada pela Crise.

Desde Setembro de 2008 a bolsa família (foods stamps) dos EUA subiu de 36 milhões para 46 milhões de pessoas. O desemprego passou de 6% p/ quase 10% (seis milhões a mais de desempregados). Por outro lado desde 2008 a lista da Forbes agregou 31 novos Bilionários nos EUA, aumenta o fosso social. O surgimento do Tea Party, um grupo de extrema direita, que quer corte de impostos, típica da ideologia ultra-liberal é um marco no atual momento americano.

Na Europa países inteiros estão sendo devastados com o repique da Crise, Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália (PIIGS), a combinação de falência local, dívidas impagáveis, governos corruptos e burlescos acentuou o cenário destes países.

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

0 thoughts on “128: Crise 2.0: A questão Ideológica (Post 127 – 81/2011)

  1. Arnóbio, parabéns! Matéria a ser lida nas Universidades, eu diria até
    no Colégio, a meninada sabendo o que é tudo isso, em FATOS

    ” desde 2008 a lista da Forbes agregou 31 novos Bilionários nos EUA, aumenta o fosso social. ”

    “Na Europa países inteiros estão sendo devastados com o repique da Crise, Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália (PIIGS), a combinação de falência local, dívidas impagáveis, governos corruptos e burlescos acentuou o cenário destes países.”

  2. Arnobio Rocha, parabéns pelo teu texto. Gera muitas reflexões. Mas vou ser sucinto. Nunca me deixei levar pelo canto das sereias vindo das mídias. Não houve o fracasso socialista porque simplesmente nunca houve socialismo nestes países usados como exemplo pela direita. E sempre procurando me ater aos problemas brasileiros, nunca me deixei enganar com esta história de que não há mais esquerda ou direita e que somos farinha do mesmo saco. A coisa não é bem assim. E a realidade por trás do que informa(?) a mídia dominada é bem diferente. Portanto nunca sofri deste mal e sempre tive uma ideologia para viver. Comunismo no planeta terra só existiu nas comunidades cristãs primitivas e que assim que foi criada a igreja católica e o primeiro papa, estes verdeiros cristãos e também comunistas passaram a ser perseguidos. É interessante e não posso deixar de mencionar o que disse Eduardo Galeano em um documentário exibido na TV Câmara: “Desde muito cedo aprendi a não confundir Cristianismo com Inquisição”. Acredito que o que não falta ao escritor do “As Veias Abertas da America Latina”, são ideologias. Após a perda da batalha de 1964, a guerra continua e a gora para se chegar ao socialismo temos que inicialmente aprofundar a democracia o que se dará com as reformas de base(política, tributária, educacional, agrária, judiciário, etc.), a democracia nas comunicações e a implementação da política de direitos humanos incluindo aí como fundamental a Comissão da Verdade.

  3. Li e reli, tentei me enquadrar aqui e ali, não sei se consegui. Quando o Muro de Berlim caiu senti estupor, sim, mas misturado a um grande alívio. Nunca fui trotskista: era uma velha comunista-marxista-leninista que odiava aquele muro e tudo o que representava — da ausência do direito de ir e vir dos alemães, passando pelos expurgos stalinistas na URSS, às invasões dos países do leste. Não gostei do esfacelamento da URSS, mas pensava: os povos dominados pelos russos têm direito a decidir seus destinos. E por aí eu ia, tentando me equilibrar entre minha natureza libertária e minha ideologia marxista (ainda acho que uma tem tudo a ver com a outra). Uma humanidade melhor é o objetivo final, eu pensava. Mas veio o neoliberalismo esmagador. Os povos da Europa Oriental comeram o pão que o diabo amassou, a periferia foi destrçada, o complexo industrial-militar se associou ao capital financeiro, que se associou a máfias, uma devastação. Ali eu me retirei mesmo, desisti, cheguei a me arrepender dos 15 anos de partidão, dos 2 anos de estudo em Moscou, tudo perdeu o sentido. Mas o fim da ditadura e em 2002 (finalmente) a vitória do PT no país da mais perversa elite do planeta me renovaram as esperanças. Aprendi. Reduzi drasticamente minhas expectativas (os jovens que façam a revolução): hoje, o que quero é o fim da miséria. E educação de massa, para que consigamos um dia atingir a educação de qualidade. Delas advirão o bem-estar social, o respeito às liberdades e aos direitos de nosso povo. E o mundo? Bem, esse jogo de xadrez tá cada vez mais difícil de vencer. Mas vamos conquistando um cavalo aqui, um bispo ali, perdendo peões, até a rainha… mas o jogo continua. Obrigada, Arnobio, você tem sido de grande ajuda para que eu me reconheça.

  4. Cumprimento Arnóbio pela tomada panorâmica que fez pelos últimos 30 anos de história. Muito importante esse apanhado porque permite àqueles que viveram talvez a metade ou pouco mais de sua vida nesse período, refletir sobre o significado para a epopéia humana no mundo o fim do século que passou e começo deste que se inicia. Situa os mais velhos e educa os mais jovens. Abraços,

    Luiz Cezar

  5. Mais uma vez meus parabéns e obrigada pela aula: magnífica. Não me deixo desanimar: a esquerda não está falida. O modelo de esquerda pensado até então, baseado no atagonismo Trotski x Stalin, sim, acabou, já era. Acabou o modelo baseado na ditadura,na dura repressão, isto tinha que acabar. Mas não o sonho de libertar os oprimidos, os pobres, de ter um mundo mais justo.Isto permanece e só pode ser viabilizado pelo socialismo, coisa que de fato nunca existiu.

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