A vida segue… (Post 115 – 69/2011)

 

 

 

“Ser ou não ser… Eis a questão. Que é mais nobre para a alma: suportar os dardos e arremessos do fado sempre adverso, ou armar-se contra um mar de desventuras e dar-lhes fim tentando resistir-lhes? Morrer… dormir… mais nada… ” (Hamlet – WS)

 

 

Uma imagem me assombra, o medo de saber do medo que corrói o coração da minha pequena filha, o silêncio e nenhuma fala dela sobre o que sente ou se passa consigo me atormenta, pois racionalmente é impossível ser indiferente ao que estamos vivendo, mas como abordar? Será melhor fingir que nada há?

Esta dor no peito que nunca passa o extremo cansaço do corpo, a mente que não para de funcionar nunca, a necessidade de parecer forte, jamais chorar ou demonstrar sofrimento piora ainda à dor e a angustia, as incertezas sobre o porvir é a única certeza que carrego no dia a dia. Aliás, conto os dias feito presidiário, afinal qual diferença há entre a minha vida e a prisão?

Minha única fuga neste momento é escrever compulsivamente, a vontade de ler não há, mas o cansaço mental muitas vezes trava. Difícil explicitar o que me cerca, então apelo para viagens literárias, ou contar as viagens reais, talvez ver o que acontece no mundo, momento tão rico e confuso, as mil possibilidades históricas que se abrem, mas ao mesmo tempo se fecham e pouco ou nada posso fazer.

Cada dia fico mais ácido, sei lá talvez mais lúcido, mas o que me oprime não devo usar para julgar ou oprimir ninguém, afinal o que vivo é só meu, não interessa a ninguém, a vida segue para cada um, inclusive para mim.

Trabalho de “corpo presente” nada mais que isto, a distância é enorme do que fazia e do que quero fazer, até coisas simples como ler um email ou escrever um me desanima. A rotina de vir, sentar-se à mesa, executar tarefas, análises de problemas, apontar soluções, é feita via “piloto automático” a longa experiência me ajuda a apenas ligar o botão do automático, mas não me ajuda a interagir com o que faço. Quanto menos falar, ou até lembrar-se do que é o mundo do trabalho, melhor.

Alguns dos grandes amigos se afastaram, o que é natural e humano, a dolorosa catábase e a posterior Anábase é nossa, a vida segue e nossa montanha de problemas numa grande cidade não admite partilhar mais um problema de um terceiro. A solidariedade real e sincera nos alimenta, enche de esperança e fé, mas sei do que temos que viver, não há como partilhar, nem é justo exigir de ninguém mais do que fazem.

O que vejo hoje jamais foi pensado ontem, a minha existência está partida ao meio, este hiato,  entre os momentos, dura uma infinidade que segundos e minutos correm devagar, as horas fecham, os dias terminam, tudo impulsinam para frente, porém mais o fosso se abre. O desvão é longo, estou suspenso no ar: Vida, projetos, sentimentos.

Um dia o tempo acaba e possa olhar para trás e reler o que escrevi, mas não sei com que olhos, porque simultaneamente tenho a obrigação de comemorar cada dia vencido com ela. A dor que ela sente é infinitamente superior a minha só me resta chorar escondido e representar com alguma dignidade meu papel. A vida segue…

“Imaginar que um sono põe remate aos sofrimentos do coração e aos golpes infinitos que constituem a natural herança da carne, é solução para almejar-se. Morrer.., dormir… dormir… Talvez sonhar… É aí que bate o ponto. O não sabermos que sonhos poderá trazer o sono da morte, quando ao fim desenrolarmos toda a meada mortal, nos põe suspensos.É essa idéia que torna verdadeira calamidade a vida assim tão longa!” (Hamlet – WS)

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

0 thoughts on “A vida segue… (Post 115 – 69/2011)

  1. De longe, imagino seu sofrimento…
    Pode ter certeza que no final, você verá que de alguma forma isso foi um aprendizado.
    És um grande pai, não duvide disso.
    Rezo muito por vocês e estarei sempre aqui pro que precisarem.

  2. A única coisa que posso te dizer é que tente empurrar a pedra ao cume, como Sísifo, mas não por uma condenação como foi seu caso, mas como um presente silencioso e profundo que a vida inevitavelmente te proporcionou, pra você crescer como pai, marido, homem e amigo. Poucas coisas ficam: pessoas, que apesar da correria ensandecida, reservam tempo pra você, pessoas que são capazes de pular de uma ponte por você e pessoas que vêem teu sofrimento e também querem entendê-lo e se aproximar dele como vc faz. Uma dessas pessoas pode ser sua filha querida, que acredite, não a conheço, mas acho q ela quer um pai que é humano, que sente, chora, se angustia… pensa nisso…

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