“Expulsa a fome e a sede, a Musa instiga
O poeta a cantar guerreiro canto,
Cuja fama às estrelas se exaltava”
(Odisseia, Homero)
Ora, Odisseus, um dos maiores heróis gregos da guerra de Troia, depois de 10 anos de batalhas e cerco, teve a brilhante ideia, com seu amigo Diomedes, de fingirem a partida deixando um cavalo nos portões de Troia, embriagados pela “vitória”, os gregos saíram do ventre do cavalo e obtiveram a vitória.
O embuste de Odisseus lhe rendeu o castigo de que não mais veria sua Ítaca, num retorno doloroso, cheio de armadilhas, delírios e mortes, enquanto Penélope fiava para não ceder a um novo casamento, com o Palácio invadido por pretendentes que destruía a paz da casa e exigiam que Penélope escolhesse um deles, posto que Odisseus, não retornava para seu trono, a guerra de Troia já havia acabado há 10 anos.
O movimento de ir ao leste (da Europa para Ásia), o retorno para o ocidente, não foi apenas uma aventura, uma guerra de invasão, pilhagem, de simbolismo e de reflexões filosóficas que se segue por mais de três mil anos, as interpretações dos seus mais profundos significados humanos, psicológicos e civilizatório, ao se cruzar o Istmo, por terra e mar.
O retorno é sempre mais doloroso, talvez mais incerto do que a partida, que mundo nos espera. A partida é excitação, tem-se o desejo da descoberta, da conquista, da aventura, do sublime que é a vitória de ir, a coragem de sair do lugar, não importa o que se foi fazer, mais há movimento, há um descortinar de um mundo novo, de uma intensa vibração.
Ao passo que retornar é voltar ao ventre, o que se encontrará depois de que se saiu da rotina e para ela precisa voltar, remar para o passado, a sensação imprecisa de alguém pode ter lhe ocupado lugar, assim como Odisseus pensou, a luta para retomar seu posto, sua posição. Não importa se foram 20 anos, ou meses, semanas, a dor de reiniciar é a mesma.
É esse, o meu sentir.