Minha mãe, ao fone, via WhatsApp conversando comigo animadamente sobre netos e bisnetos, sua saúde, as suas e minhas saudades e de sua viagem ao interior, Bela Cruz (Ceará), nossa cidade, ela voltou à fazenda onde viveu por mais de 20 anos com meu pai depois da aposentadoria e foram muito felizes lá, com doces lembranças.
Essa é parte da beleza que a tecnologia proporciona, conversar com minha mãe, ela em Fortaleza e eu em Brasília, nos vimos e sentimos como se estivéssemos lado a lado. A tecnologia que aproxima e torna a vida mais bela, é a mesma que afasta e cria distância e frieza, falemos da parte boa.
É algo extraordinário, falar e nos vermos, de imediato isso me remeteu aos anos 70, em que o tio Padre Assis morava em Roma, de lá enviava fitas cassetes, contando sobre as maravilhas de sua vida na Europa, num quase exílio, era a forma de amenizar a saudade e não se sabia o que se passava por lá e nem aqui sob ditadura.
Muito criança eu via aquelas reuniões quando as fitas chegavam e eram um verdadeiro acontecimento, uma solenidade para ouvi-las, lembro do meu avô atento, olhos marejados e emocionado com a voz e as palavras do filho Padre, ele estava vivo, mesmo distante, muito distante, mais de mês entre uma fita e outra, já ouvidas pela Polícia Federal, antes.
Outra memória que tenho ainda de criança. é de minha mãe num posto da Teleceará esperando uma ligação do papai, que era caminhoneiro e fazia rota Bela Cruz para Belém do Pará. As viagens longas de caminhão eram incertas e perigosas, o alívio era ouvir a voz dele naquelas pequenas cabines, de que estava bem e a rapidez da conversa pelo preço da ligação.
Depois, já no final dos anos 80, fui morar em São Paulo e as chamadas DDD (alguém lembra?) para meus pais, as fichas caíam rápido, as mensagens cifradas e dizer que estava vivo e “bem”, não importava se não estivesse bem, para eles era me ouvir, saber que estava vivo e ali falando por uns momentos breves e depois as lágrimas.
Quando morei no Japão, em 1996, ligar ao Brasil era caro demais, então cada minuto e cada segundo eram cronometrados, uma ou duas vezes por semana ligava para Mara, não tínhamos filhos, as cartas demoravam uma semana e tudo se passava rapidamente, mas valia o registro, aquilo que se sentia.
Eram os primeiros passos da Internet, descobrimos uma “tie-line” que conectava a empresa do Japão ao Brasil, sem pagar DDI, isso foi salvador, podíamos falar mais, inclusive de fora da empresa, uns códigos malucos para o acesso local e dele o acesso ao Brasil. Logo, menos de dois anos, veio o VOIP (voz sobre IP), a evolução para imagem, chats, voz, vídeos, logo chegaram aos celulares, a extrema melhora da qualidade de cada tecnologia em tão breve tempo.
Falar com minha velha com essas tecnologia, é como fazer esse percurso histórico, uma viagem por minha vida, inclusive, por esse mundo de tecnologia em que trabalhei por tanto tempo, um orgulho por ter trabalhando pela necessidade de usar e desenvolver algo para melhorar a vida, por uma questão ética e pela dignidade humana.