“A disputa sobre a realidade ou não realidade de um pensamento que se isola da práxis é uma questão puramente escolástica. (Teses sobre Feuerbach – Karl Marx)
Precisamos reler as teses sobre Feuerbach, diz Marx, na décima primeira: “Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo”. Na oitava proposição, ele escreve: “A vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios que seduzem a teoria para o misticismo encontram a sua solução racional na práxis humana e no compreender desta práxis”
Ora, na verdade Goethe disse algo bem próximo: “Toda teoria é cinza, auriverde é a árvore da vida”. Antes dos dois, Shakespeare, escreveu no Macbeth: “E tudo que nos parecia sólido sumiu ao vento como nossos anélitos.
Marx conhecia profundamente os dois poetas.
Constatar é fácil, transformar é complexo, exige prática, paciência, convencimento. Vejamos o embate de São Paulo, a discussão, a meu ver não são os 80 mil sem tetos, mas por que eles existem, o debate é ideológico. O lucky loser Ricardo Nunes, vice que virou prefeito, sem votos, não criou os 80 mil sem tetos da cidade, mas é indiferente à eles, não se trata de incompetência, falta de gestão, etc.
Talvez esse seja erro central da esquerda numa disputa como essa insistir no embate administrativo, política, pois tudo que a Direita faz é IDEOLOGIA e que passa longe da questão política e administrativa, mesmo moral, algo religioso e de ter compaixão pelos mais vulneráveis.
A Direita e a extrema-direita reduziram as formulações da política, dos problemas urbanos, da cidade, do Estado, em pílulas ideológicas, mas não prestamos muita atenção ao fenômeno e continuamos todo um discurso (correto) de debater Democracia, Estado de Direito, inclusão social e não conseguimos ter interlocutores estilo tik tok, instragram.
Bolsonaro nunca prometeu uma obra, uma ação de Estado, nem de como iria administrar crise política e a economia, pelo simples fato de eles (a extrema-direita) entenderam que não precisam de nada disso, é puro emocional, zero racionalidade.
A máquina de comunicação produzida pela Internet, Redes Sociais, é rápida, rasteira, com algoritmos bem desenhados que captam qual mensagem deve ser propagada. Mas não é a mensagem em si que todos podem emular em sentidos opostos, mas os algoritmos analisam o conteúdo delas e dissemina apenas aquela adequada ao padrão.
Mais ainda, como a rede é estruturada e como os algoritmos foram criados e treinados ideologicamente, obviamente que a Esquerda, progressistas em geral, perdem de lavada, vai piorar, com advento da assim chamada Inteligência Artificial (IA), a perspectiva é ainda mais perniciosa.
Esse comportamento de redes sociais, o apelo e engajamento pode se verificar empiricamente, como também através de análise de dados por enorme volume.
Um pequeno exemplo, a live do candidato Guilherme Boulos teve pico de 6 mil acessos, isso com 12 atrações, Caetano Veloso, Felipe Neto, Milton Leite entre tantas e tantos. Dia seguinte, mesmo proibido e num perfil fake, LaMarçal fez live com pico 50 mil pessoas, isso não diz que eles se comunicam melhor, mas o alcance é engajamento “sugestão” feita pelos algoritmos para a live deles é muito maior.
Lula faz um bom governo, com resultados excelentes, com notícias positivas, quase toda semana, mas não tem apelo ideológico para os algoritmos, aí muitos arrancam os cabelos achando que é só uma questão de comunicação, penso que não é, tem um componente de disputa ideológica que não damos conta e ficamos girando, girando, nos culpando e não saímos do lugar comum.
Talvez uma possibilidade imediata ao Governo Lula, para Esquerda em geral seria reduzir o discurso, mostrar as obras, feitos como complemento, não como carro-chefe, trazer os youtubers mais engajados, traçar um plano com eles, buscar meio de furar efetivamente a bolha, esse é outra grande sacada das redes sociais controladas, o algoritmo segmenta e impede o “diálogo”.
É uma luta desigual, muito mesmo, isso não significa negar que há problemas de comunicação, uso de ferramentas ultrapassadas, vícios de valorizar a velha mídia corporativa, sem público, sem interação real.
É um longo debate.