Fazer balanço anual é uma tentativa de se enumerar feitos e sintetizar de forma objetiva e crítica para um período histórico tão rico como esse 2023, que começa uns dois meses antes, quando Lula venceu uma das mais disputadas eleições do Brasil.
É preciso dizer que a vitória extremamente apertada, deu a (falsa) ideia de um país dividido e que seria fácil para os derrotados, radicalizados, que tudo estaca pronto para uma ruptura radical, bastava azeitar as pregações separatistas no Sul do Brasil, muitos ataques aos nordestinos e aos mais pobres. Ao mesmo tempo criar um clima abrindo a possibilidade de um golpe de Estado, a tática foi ir para frente de quartéis, algo, aliás, tão comum na história do Brasil, os militares golpistas, tutelando a Democracia desde o início da República.
A “virada” do ano foi constituída de vários atos, numa espécie de escalada da preparação aventureira. Começando com a ocupação de “patriotas” na frente de quartéis, fechamento de estradas urdida por bolsonaristas do Agro, especialmente, com a conivência das forças de segurança. Depois, as provocações na diplomação de Lula e em seguida, um caminhão bomba no aeroporto de Brasília, na véspera do natal.
A retirada da família Bolsonaro para Miami um movimento diversionista, distração, fazia parte do último ato golpista, dando a ideia de que ele não estava envolvido na tentativa efetiva do golpe final, em 08 de janeiro, se desse certo, voltaria para assumir, se desse errado, teria o álibi perfeito.
Desse cenário, deve-se somar a tudo isso, a gravíssima crise econômica, herança de um desgoverno absolutamente incompetente, incapaz e inepto, um aventureiro associado aos abutres do capital, representados por Paulo Guedes, Salles, entre tantos outros incompetentes, que levaram o país ao buraco, irresponsabilidade genocida na Pandemia, entrega de patrimônio público e a presença de militares maciçamente dentro do governo, gente sem nenhuma qualificação decidindo, Saúde, Educação, Economia e Soberania.
Um desgoverno baseado na farsa dos “valores” de Família, Pátria e Deus, uma propaganda que beira ao neofascismo. Destruição das instituições, emparedamento do judiciário, acordo espúrio com o Centrão e o vale-tudo azeitado pelo orçamento secreto e pela entrega de cargos chaves no governo, sem nenhum controle do que fizeram, a farra do boi.
É essa a herança, a terra arrasada que Lula começa a governar, pela terceira vez, em minoria absoluta no Congresso, que nem um impeachment conseguiria segurar, por exemplo. Os órgãos públicos destruídos, conselhos fechados, estatais à mingua, dirigidas por generais, como os Correios, Bancos públicos saqueados, A Petrobrás fatiada e entregue parte estratégica vendia a preço vil.
A economia em frangalhos, perda de importância e de mercado internacional, queima das reservas e inflação descontrolada, banco central entregue a um fanático do mercado, com juros altos e uma perspectiva de não ceder às pressões pela diminuição que permitisse a economia reagir.
A resposta eleitoral de Lula com uma ampla aliança, mais ampliada após a dura vitória, tinha como ordem central: A Reconstrução. O prognósticos era de que havia o risco de que a economia ia descer mais fundo, a prioridade zero foi a PEC de garantias dos gastos emergenciais. Outras tarefas urgentes foram a retomada dos conselhos, dos órgãos, voltar a funcionar o diálogo com a sociedade, negociar com um congresso hostil, pautas urgentes, com diferenças mesmo na coalizão vencedora.
Lula foi um leão, sua agenda de viagens internacionais, apresentar a mensagem utópica de que o Brasil VOLTOU. A luta por novos negócios, investimento, a agenda verde incorporada como central, a questão da urgência climática e as responsabilidades não apenas do Brasil, mas também do país, dar exemplo e exigir contrapartidas, Nunca se viu uma “blitz” internacional como nesses meses, a maioria das iniciativas forma de sucesso, alguns problemas, mas muito positiva.
Nessa partilha de governo, o Vice-presidente Geraldo Alckmin tem sido um companheiro dedicado e passa a sensação de que durante as viagens de Lula ele tem um parceiro que toca o dia a dia, assumindo ainda a estratégica área de comércio exterior, com avanço da balança comercial.
A na arena política, o temor seria pressão bolsonarista no Congresso, em ampla maioria, no entanto, em parte se resolveu com o fracasso do 08 de janeiro, empurrou para as cordas os mais raivosos bolsonaristas, no congresso e na sociedade, deu um importante fôlego para a iniciativa política passasse ao governo, avançando agendas impensáveis na realidade que se mostrava em dezembro na transição. O grande trabalho da Secretaria de Relações Institucionais, Ministro Padilha, as lideranças do governo e as negociações exaustivas, ponto a ponto.
A economia começou a se descolar do Banco Central, para o ministério da Fazenda, algumas iniciativas e planos de curto prazo foram eficazes, a retomado do comércio exterior, segurar o câmbio, desarmar a bomba dos preços dos combustíveis, incentivo ao consumo das famílias e a pressão de governo e empresários contras os juros pornográficos. O Ministro Haddad fez um intenso trabalho de dialogo que levou à aprovação de importantes reformas, a mais ousada, a Tributária.
O Crescimento em torno de 3% era absolutamente impensável, Haddad mirou nos 3% e no déficit ZERO, metas ousadas, mas que deu credibilidade e o resultado de crescimento, queda de preços e insumos, a volta de investimentos, a bolsa de valores e a confiança de que pode-se reverter tendências e prognósticos negativos, a cereja do bolo é o resultado para os trabalhadores: a taxa de desemprego em 7.5% (a menor desde 2014), aumento da renda, da massa de empregados.
Os Ministros Flávio Dino e Jorge Messias, foram fundamentais na Justiça e na AGU, nos embates do combate à violência e no enfrentamento aos bolsonarismo, no congresso, no reposicionamento jurídico do governo, na retomada de conselhos e na defesa da Democracia, valorização das instituições e a boa relação com o poder judiciário.
Muitos ministérios ainda não deslancharam plenamente, por falta de estrutura passada, mas também pela dinâmica desigual do governo, de uma cozinha do Planalto que possa uniformizar todas as ações. Alguns planos podem dar coerência, como o PAC, os de participação popular e que possam chegar mais rápido nas pontas e atender as necessidades acumuladas desde apagão administrativo proposital de Teme e Bolsonaro.
O balanço é positivo, muito acima do esperado, no entanto o governo não “fatura” todas essas vitórias, os números de avaliação do governo são muito aquém do que se fez, não se transformou em sustentação e apoio ao governo, o que precisa de uma reflexão mais profundo das razões, especialmente na Comunicação do Governo.
Claro que há muita coisa ruins, as pressões do Centrão, dos “aliados” cobrando faturas sempre mais maiores, pois o governo pode estar bem, mas não tem força apoio popular, o que pode levar o governo a se tornar refém dessas pressões, hoje refletidas nas indicações para PGR, para o STF, o apetite para tomar ministérios, CEF entre outros.
O ano não finda porque a tarefa iniciada ainda em 2022, passa por 2023 e seguirá em 2024, a condenação cabal de Bolsonaro, a perda de mandato do ex-juiz rei do caixa 2 eleitoral, passar o bolsonarismo a limpo.
É lutar, como fazemos e ter um grande 2024.