Deixai toda esperança ó vós que entrais.
Inferno 3:9 (Dante Alighieri)
Venho do mundo da tecnologia, acompanhei as gerações de celulares, desde os sistemas analógicos (GSM/AMPS), depois o 2G (GSM/TDMA/CDMA), para o 3G/4G (WCDMA) e agora a 5G, a Internet das Coisa (IOT), com as novas possibilidades de comunicações com qualidade inimagináveis há menos de 20 anos, mas que a mente humana possibilitou existir e criar.
Hoje se discute a AI, Inteligência Artificial, Chatgpt, como a nova miríade do conhecimento, diga-se, não-humano. Há menos de três anos, essa fronteira eram os algoritmos, posto que eles moldariam corações e mentes, alterando a autonomia de vontade (humana), tornando os seres humanos (conectados) apenas reféns da tecnologia/ideologia das redes sociais.
Apenas de falar, ou pensar sobre um produto, imediatamente, parecendo uma assombração, uma empresa aparecia oferecendo o seu desejo no Facebook, no Instagram, tudo por um clique, Muitos acreditavam nesse “milagre”, servia como fonte de que “eles estão nos olhando”, adivinhando nossos desejos, até os mais íntimos, sem percebermos que demos autorização (consentimento viciado) para que nossos aparelhinhos (celulares, tvs, notebooks) possam enviar, o que captar de som e imagens, mesmo quando não usamos, além de liberar para que eles acessem nossos históricos de acesso (conversas) e tenham conhecimento de nossos hábitos por eles.
Toda sorte de teoria da conspiração e de ideologias (o sistema nos persegue) da extrema-direita à extrema-esquerda, corroboraram para disseminar “verdades”, quase sempre superficiais, sem se preocuparem em conhecer a essência dos fenômenos, o que retroalimenta a desinformação, as fakenews, um estado de ânimo zumbi e estúpido, sem que prevaleça nenhuma racionalidade.
A nova cepa, variante, é justamente a AI, primeiro repaginaram tudo que existia e reembalaram como INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, um novo produto que substituiria não apenas o trabalho humano, como também, principalmente, a consciência e inteligência humana, as “máquinas”, num passe de mágica, abracadabra, ganhariam AUTONOMIA e teriam VONTADE própria, criarão um futuro Blade Runner ou do Exterminador do Futuro.
O Professor Miguel Nicolelis com argúcia desmonta essa “verdade” e na contracorrente, desmente essa big big FakeNews, diz, filosoficamente, de que a AI não é Inteligência, mas sim, Marketing. Vai mais além quando, corretamente, nos faz lembrar a racionalidade de desenvolvimento do cérebro por milhões de anos, mais, que a AI é produto de nossa inteligência, não o contrário.
Estamos na mesma linha, não posso esquecer a poesia de mais de 800 anos:
ANTES DE MIM COISA ALGUMA FOI CRIADA
EXCETO COISAS ETERNAS, E ETERNA EU DURO.
(Inferno, Dante Alighieri)
A genialidade de Dante Alighieri não nasci per si, é um longo processo que vem da tradição oral, que nos legou o Mahabarata, a Ilíada, a Odisseia, a Eneida, os tratados humanos e filosóficos, o Direito, a literatura.
De Dante, teremos Shakespeare, e a voz do humano, como nos ensinou Harold Bloom. Toda a linha de gênios humanos: Goethe, Leonardo da Vinci, Rafael, Marx, Rosa Luxemburgo, Jane Austen, Bach, Beethoven, Cole Potter, Pelé, Michael Jackson, Jordan, Messi, Maria Callas, Chico Buarque, Maria Bethânia, Elis, Jorge Benjor, Gilberto Gil, uma infindável lista de gênios humanos.
O anúncio religioso de Dante, sobre o passado e presente, nada foi criado, vale para essas “novidades” novas, o efeito Google, de que tudo pode ser visto e pesquisado, não ultrapassa consciência e cérebro, a tecnologia nos encanta, potencializa os feitos humanos, mas ela é, em si, passiva diante nós, o comando é humano, pode ser usado, e é, para mais controle político e ideológico, mas também é ferramenta que nos libertará do jugo do Kapital.
Nem um desprezo à novas tecnologias, não obstante, o dever de afirmar que não é tem autonomia de vontade e dela não nasci um gênio, mas dele veio, de nossa longa e infinita evolução.
É o manifesto da humanidade e da civilização que se impõe.