Ontem a noite fui dormir com essas perguntas na cabeça e por mais que tentasse, não conseguia pegar no sono, quase levantei para escrever, mas a mistura de cansaço e desânimo me impediam de sair da cama, então o jeito era ficar virando de um lado para o outro, sem conseguir dormir, por horas e horas, nada de “apagar”, mas apaguei, algumas vezes.
Rebobinando a minha história, lembrei-me de um livro de nomes que pesquisei para escolher um que significasse o sentimento com a futura filha, pois tinha certeza de seria menina, bem antes do exame confirmar, pensava no bebê como mulher, sem uma razão específica.
Pois bem, num desses dicionários de nomes apareceu o de LETÍCIA, assim descrito: “O nome feminino Letícia emana alegria e felicidade. Isso acontece, pois ele tem origem a partir do latim Laetitia, que quer dizer “alegria, prazer, felicidade”. Por extensão, recebe os significados de “mulher alegre”, “mulher que transmite felicidade”.
A escolha foi óbvia, assim como a constatação de que seria menina, o futuro bebê. Letícia nasce com a primavera de 1997 e para nossa felicidade, aliás, a busca da Felicidade, já nos ensinava Aristóteles, que identificam “o bem viver e o bem agir como o ser feliz”.
E assim foi por seus 21 anos, 1 mês 28 dias, de vida, que foi ceifada em circunstâncias bem pouco claras, abrindo discussões humanas, religiosas e filosóficas sobre a vida e seus limites, o maior deles, a morte, o destino de todos os que vivem.
Talvez, não mera coincidência, sua morte, deu-se no momento de maiores trevas no Brasil e que nos assombrou diretamente por 4 anos e teima em nos assombrar por mais sabe-se lá quanto tempo mais, o mal fez raiz e virou alimento de ódio e mais mortes, infelicidades.
As questões levantadas têm caráter privado, mas podem servir de pontos para a vida em geral, do que se vive no mundo, das relações humanas, suas buscas e suas frustrações, como também de suas alegrias e felicidades, quase sempre efêmeras, o que nos lembra dos efemerópteros de tão breve e sua luta para se eterniza de alguma forma, assim como Letícia, que brilhou intensamente sua luz para todos os que a conheceram, tiveram o privilégio de conviver com ela.
A poesia de Fernando Pessoa, como Ricardo Reis, explica a brevidade do tempo dela e nosso.
“As rosas amo dos jardins de Adônis,
Essas volucres amo, Lídia, rosas,
Que em o dia em que nascem,
Em esse dia morrem.
A luz para elas é eterna, porque
Nascem nascido já o sol, e acabam
Antes que Apolo deixe
O seu curso visível.
Assim façamos nossa vida um dia,
Inscientes, Lídia, voluntariamente
Que há noite antes e após
O pouco que duramos”.
Por fim, veio um breve sono, e nele surgiu Letícia, tão real quanto possível, sentado à mesa da cozinha, ela vem e sorri, pergunto se é de verdade e se posso abraçá-la, ela se aproxima e nos abraçamos por um momento que foi eterno e consciente de que se tratava apenas de um sonho, pois era.
A vida é sonho, ou não!