2251: A Duplicidade Humana, a luta contra o seu Lado B!

Príamo, rei de Tróia, suplica a Aquiles ( Pintura de Alexander Ivanov, 1824)

“Do mesmo modo Aquiles perdeu toda a compaixão e não tem
a vergonha que tanto prejudica como ajuda os homens.
Pode ser que outro tenha perdido alguém que amava:
um irmão nascido da mesma mãe ou então um filho.
Mas depois de o ter chorado e lamentado, sabe parar:
pois um coração que aguenta deram os Fados aos homens”
(Homero, Ilíada, Canto XXIV, 44-49)

De vez em quando (quem sabe sempre) revisito o meu porão, o lado B, aquele em que as regras sociais e morais impõem censura e nos avisa que temos limites, que na luta interna, há outras questões maiores, melhores (?) que vão nos definir e nos fazer crer que dominamos plenamente aquela porção maléfica que nos habita, secretamente.

Somos humanos, vivemos intensamente a nossa dualidade,  para além disso, somos vistos de fora, e do nosso duplo, outro duplo nos verá, que porção prevalecerá? Afinal são milhares de pares que vão se aproximando e nós deles, para que juntos, cheguemos a uma síntese, ou de variações que vão atravessando nosso caminho de nossa jornada rumo ao nada.

As referências da vida pessoal, núcleo familiar, local em que vivemos, do menor lugar em que você pode ser conhecido e reconhecido, aos maiores, que você é apenas mais um (a). A complexa sociedade e seus valores vão influenciando e moldando a maioria de nós, sem, no entanto, dominar a nossa natureza e, muitas vezes, sem nos conhecer, o que somos e nosso duplo.

É fato que a porção “humana”, essa categoria cada vez mais disforme, ajuda a tomarmos posições e decisões de caráter mais amplo, que nos torna efetivamente uma miragem do dever ser Humano, ainda que em condições extremas, pois quase sempre vivemos em extremos, em conflitos internos ou com o meio que nos cerca.

Repisando o que escrevi antes em que pontuei que a literatura é repleta de exemplos de como se dão esses hiatos de sentimentos humanos, para além dos embates e lutas, inimigos e adversários.

Na majestosa Ilíada, Príamo  chora aos pés de Aquiles enfurecido com a morte Pátroclo. Príamo, o poderoso Rei de Troia, se humilha perante o algoz do seu filho Heitor, mas o faz pelo direito de Heitor ter seu enterro com as honras dos heróis. A cena final da Ilíada é uma das mais profundas da literatura, é uma redenção humana, reafirmada no extremo.

O que não é tão diferente, na cena fina do grandioso filme Blade Runner (adaptação de Ridley Scott da obra de Philip K. Dick). Roy, o androide replicante, caça o caçador de androides, Capitão Deckard, este acabara de matar a namorada de Roy, que enlouquecido quer a morte de Deckard, porém, naquele último instante, ele salva o odioso inimigo, isso é uma luz na escuridão.

É essa esperança de que o lado Humano, nossos valores, possam vencer e o lado B, sempre seja apenas uma lembrança de nosso par ético.

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

1 thought on “2251: A Duplicidade Humana, a luta contra o seu Lado B!

  1. Penso que essa forma moderna de estarmos no mundo, de reproduzirmos as nossas vidas de acordo com um “script impresso” em nossa mentalidade por uma forma social cínica , perversa e contraditória, é fonte de equívoco, mal-estar, desânimo, dissabores, raiva, discórdia…

    Então, como nos tornarmos realmente sujeitos de nossas vidas?
    Sujeitos verdadeiramente conscientes, da arapuca que nos aprisiona?
    Será que é possível reescrevermos este script mental que nos possibilite escapar dessa arapuca que engaiola?

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