Ainda muito cedo, num dia chuvoso e de muito frio, as famosas arcadas da Faculdade de Direito da USP foram sendo tomadas por uma vai e vem frenético de pessoas, os organizadores e voluntários, jornalistas, para preparação de um dos mais significativos eventos políticos dos últimos quatro anos: A elite do pensamento jurídico nacional se moveu contra a ameaça velada de um novo golpe.
Há sete anos, nessa mesma faculdade, parte dessa elite, foi francamente golpista, defendendo a tese esdrúxula do impeachment sem crime de responsabilidade, que cassou o mandato da Presidenta Dilma, eleita pelo voto popular e que conduzia o Brasil, num momento turbulento desde as jornadas de junho de 2013.
Hoje, quase unânime, a faculdade ganhou outras cores e ares de Democracia, velhos adversários, de antes, se reencontraram para que novos retrocessos, ainda mais significativos, não volte a abalar o Brasil, que vem desencontrado com a Democracia, desde o Golpe de 2016, piorado com a eleição de Bolsonaro, um bajulador da Ditatura e dos torturadores, que insiste com ameaças às eleições e tenta desesperadamente desacreditar o processo eleitoral.
O que se viu lá dentro, é um novo arranjo pelo Estado Democrático de Direito, a irônica presença de neogolpistas e golpeados, demonstram o tamanho do abalo que as instituições do Estado sofreram nesta quadra conjuntural, as incertezas e sombras de um retrocesso ao tempo das ditaduras, não foi apenas a “pausa democrática”, de Ayres de Brito.
O engenhoso processo de construção da Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”, em que começa na faculdade de direito da USP, chega a uma gama de intelectuais, depois empresarial, até virar um “manifesto” de hum milhão de assinaturas, é a prova de uma nova costura está sendo feita que garante (ou não) o processo eleitoral democrático, mas que serve para contrarrestar um golpe.
Do lado de fora da Faculdade começou a chegar gente comum, alguns militantes políticos, mesmo com toda a dificuldade de se entender a importância do povo na rua e de ter um caráter popular ao ato, não se restringe aos muros da faculdade e ao seu público.
Os movimentos sociais, entidades sindicais e de estudantes, tomaram as ruas como a abraçar a faculdade de direito e sua enorme iniciativa política e também demonstrar como se organiza, como se deve ocupar as ruas e ecoa nelas o desejo por Democracia e liberdade.
O ato foi extremamente vitorioso e simbólico porque o maior protagonista da Democracia é o Povo, se fez presente, exatamente os que efetivamente dela dependem (da Democracia) para lutar por uma vida digna, com emprego e renda, com saúde, educação, moradia e lazer. O direito ao voto com a capacidade mudança é vital para população, especialmente os mais pobres.
Viva a Democracia e o Estado Democrático de Direito, sempre.