“a morte – O país não descoberto, de cujos confins
Jamais voltou nenhum viajante – nos confunde a vontade,
Nos faz preferir e suportar os males que já temos”
(Hamlet – W. Shakespeare)
Hoje, foi Jô Soares, outro dia Chico Anysio, entre eles meu pai, meu cunhado, minha filha. Da Morte nenhum de nós escapa, podemos até enganá-la, se esconder, demorar mais, mas um dia ela nos visitará e cumprirá o papel mais certo e inexorável da vida, que é a morte.
Tantas e tantas vezes morremos em vida, vivemos uma morte interna e externa, que ela por castigo ou pudor, não dar o fim. Noutras vezes, cheios de vida, ela vem e leva de imediato, sem chances de um adeus, uma despedida, algo que pudesse aliviar, aos que ficam, abandonados à sorte de continuar e esperar pelo nosso dia.
Minha irmã, Hemínia, me mandou um vídeo do Jô, deve ser recente, em que ele diz que não temia a morte, mas o medo de ficar improdutivo, no meio da confissão e galhofa, cita Chico Anysio, com quem disputou a fama de maior comediante do Brasil. Diz Jô que Chico ao ser perguntado o que ele achava de morrer, o que ele responde: “Uma pena“
Essa resposta seria igual a do meu velho pai, Pedro Rocha, que era um velho zombeteiro que repetia uma frase sobre os talentos de alguém, que ele via como extraordinários: “Faz pena alguém assim morrer com menos de 200 anos”. E ria. Isso se aplicava a um de nós, meu irmão um grande motorista, minhas irmãs excelentes professoras, ou um fenômeno que assistia na televisão, um amigo, era sua generosidade e seu jeito de desafiar a morte.
Meu pai fez troça, até no dia de sua morte, o que certa forma nos aliviou, porque ele foi feliz e brincalhão até o último suspiro, suspeito que ele morreu rindo, ao ser entubado, seu coração parou, pois não riria como de costume, naquela cara séria, de fino humor. Que riu da morte, não tenho dúvida.
A morte é o fim de que vive, qualquer coisa outra é bobagem, de saí da vida e entra na história, de toda a humanidade, ou de seus entes próximos, continua sendo morte, uma merda, como diz o poeta: O país não descoberto, de cujos confins, jamais voltou nenhum viajante.
E assim permanecemos, alegres ou tristes, vivos ou sobrevivendo aos mares de desventuras, num eterno Ser ou não ser. Sendo grandes/famosos ou pequenos/invisíveis, no nascimento e na morte, tudo se iguala, as dores do parto e o horror da morte.
A morte não redime ninguém, não limpa a biografia, os feitos e os fatos da vida, mas ela nos faz refletir sobre o que somos, com nossos erros e defeitos, coerentes ou não, o choro é apenas uma expressão de proximidade, do sentimento íntimo, no passado se contratava mulheres para chorar, criar uma comoção, na ilusão de apagar nossos “pecados”.
Vivamos, ou não!