A contrição que nos envolve, na purgação da vida.

Escrever é transformar sonhos/pesadelos em palavras.
Essas palavras podem ser lidas, compartilhadas, ou, mais comumente, ignoradas, não para quem se expôs ao escrever, como também, alguns, bem poucos, o mais próximos, talvez que efetivamente se importam com quem se arrisca, obviamente, excetuasse os que têm públicos próprio, reconhecidos, enfim, autores que têm linguagem e comunicação que os ligam aos seus leitores.
Contar os fatos e os fados da vida através da escrita, funciona como uma espécie de purgação única, um ato de contrição, pessoal, ainda que D’us esteja fora da equação (da minha), existindo ou não, pois a fé e a esperança deve ajudar aos que leem e acreditam. A declaração de arrependimento é uma face do que se declama aqui.
A intensidade de algumas situações pretéritas, recentes, de todos esses anos, se reavivam nesse período de celebração, da memória de quem não mais está presente, repetir, é parte de um ritual de não esquecimento, muito longe de masoquismo, mas de prestar homenagem, lembrar, ainda que dolorido o calvário, martírio tão duro e delicado.
A dor é o caminho, estranha contradição para quem em nenhum momento na vida acreditou que sofrimento fizesse parte de uma construção moral, muito menos de que a vitória, o amor, são mais saborosos quando vencidas as duras provações, quase sempre ligadas à dores e sofrimentos, pois nada disso é necessário, não obstante é óbvio que os esforços, lutas são fundamentais e dignificam as conquistas, não pancadas e massacres.
O dia a dia, pelos dias “comemorativos” (assim como na semana da paixão), são marcados por essas lembranças cruéis, é preciso refazer os caminhos daqueles momentos finais, com desfecho tão trágico.
Muitas vezes viver, reviver, é uma dura prova de força e coragem de seguir em frente.