Arnobio Rocha Diário de Redenção Da Ausência e Das Perdas

1896: Da Ausência e Das Perdas


Uma distância que não permitirá nos aproximar de novo, só sentir.

O maior castigo de pais que perdem um filho (a), é continuar a viver.

É sobreviver com uma dor dilacerante, uma ferida aberta que não cura, não sara, não fecha, os curativos são remendos, ao mesmo tempo, lembram de que são paliativos para uma dor crônica, constante, incômoda e presente, todos os dias, noites, faça chuva ou faça sol.

É, assim é, quase exclusiva dos pais, daqueles que geraram uma vida, fizeram cuidar, crescer, deram o melhor de si por uma criança, jovem, adulto, e um dia lhes foi tirado de forma infame, pois a morte é infame, sobre qualquer aspecto, ela é o corte final, irreversível de todas as relações humanas (conscientes), não há retorno, apenas ilusão.

O famoso “o tempo cura”, é um doce anelo, nada mais. Para nós é quase uma pena, uma punição do por vir, uma brincadeira de mau gosto.

O luto externo, se volta para dentro, apenas isso, ficamos risonho até, mas não felizes, é algo tão desumano, cortante, que nada, nada mesmo, será como antes.

Lidar com a ausência, com as cinzas, com o que ficou, visitar fotos, lembranças, é um ato de extrema coragem, as lágrimas podem secar nos olhos, mas o coração endureceu tomado por uma dor que parece insuportável, mas não lhe mata, o que, em si, é uma enorme contradição. Talvez a consciência, o que sobra, lhe assopre no ouvido: Continue a viver.

As estratégias de continuar, depois de uma ruptura radical como essa, são bem variadas, na aparência, superamos, na essência, definhamos, somos diminutos (as). Alguns se apegam as religiões, fé, das mais variadas, outros o oposto, repudiam os deuses e seus cultos. O que é certo é que não há fórmulas, drogas, tratamentos, alguns alívios, até novo pensamento consciente e lembrar da perda.

Ocupar-se com tudo e mais alguma coisa, é uma forma de não se render à dor, uma alienação “positiva”, pois a dor é visceral.

No meu caso, houve uma coisa bem clara, a perda do medo da morte, de enfrentar as situações limites, de não temer nada, é uma sensação de poder incrível, que tento transformar em algo bom, fazer alguma coisa pela vida, o que é uma contradição, justamente ela, a vida, que me tirou parte enorme de mim, sobrou o cérebro e a necessidade de ir em frente, defendendo causas maiores do que meu pequeno ser.

Muita saudade, hoje e sempre.

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