A perspectiva da volta do PT ao Governo Central, com o ex-presidente Lula liderando as pesquisas, embora seja muito cedo, há uma indicação de que em 2022, em condições normais de temperatura e pressão, Lula vença as eleições, mesmo sabendo que o Brasil é igual ao futebol: Uma caixinha de surpresa, a maioria das vezes, desagradável, basta lembrar da vitória da estupidez, Bolsonaro.
Neste lastro, volta-se ao debate sobre a capacidade do PT em ser Governo, uma nova onda de questionamento sobre a experiência dos 13 anos e 4 meses no Planalto Central, dois surrados discursos, tanto à Direita, quanto à Esquerda: A Culpa do PT e a grita por Autocrítica como necessidade sine qua non para apoio ou afastamento.
Sob nosso ponto de vista, o PT é uma força política muito nova, a própria definição ideológica nunca foi precisa, nasceu no meio da explosão sindical de repúdio à ditadura, formado por uma esquerda não comunista tradicional, uma construção feita pela base e por intelectuais das classes médias urbanas. Sua força motriz era a radicalidade pequeno burguesa.
O crescimento do PT se deu na contramão do que acontecia com a esquerda na Europa, o seu refluxo, depois a Queda do Muro de Berlim e dos regimes do leste, de certa forma perdeu-se a referência histórica e política de quase um século de lutas e Poder.
Nesse sentido o PT ficou órfão e as lutas internas, a construção de uma maioria sólida, com projeto de Governo, não mais de Poder, de transformações mais radicais, foram mudando para mudanças parciais e negociadas, dentro da institucionalidade burguesa, ainda que esse partido pulse a ruptura, por sua construção e pela situação de um país extremamente desigual.
A experiência de três Governos do PT num país continental, com uma economia complexa, é quase um milagre a quantidade acertos de políticas públicas, inclusão social, foram marcas, como também não mexer com a base econômica, promover embates com o Capital, no lucro e na funcionamento do Estado, com os privilégios da Burguesia reacionária e mesquinha do Brasil.
O próprio entendimento da diferença entre o que é Poder e o que é Governo, levou a uma série de ilusões sobre os limites e ao apego ao republicanismo estéril. Obviamente a falta de traquejo com o Governo/Poder, a falta de referência, um mundo quase de pensamento único, explica muita coisa, talvez não justifique todas as falhas.
O balanço dos governos do PT não pode ser baseado em “culpa”, pois se trata de política, não de religião, há que se ter generosidade nas análises para que não se caía na armadilha de que nada pode ser feito, como também no que se avança, parece migalha e de nada adianta.
As referências da esquerda teriam que ser o povo, os trabalhadores, não apenas os círculos da classe média urbana, muitas vezes radicalizada, mas sem vínculos com a base real da sociedade múltipla e complexa do Brasil.
Que venha Lula, que venha o debate fraterno, a possibilidade de fazer mais, mudar métodos e práticas políticas, abandonar as velhas concepções de ruptura a cada divergência, depois dessa onda neofascista há um longo e tortuoso caminho a ser seguido.
Ao debate, ou não!