“Pictoribus atque poetis
quidlibet audendi semper fuit aequa potestas.”
(Os pintores e os poetas sempre gozaram do direito de usar
quaisquer liberdades) (Horácio, Epist. 2,3,9-10)
Uma discussão recorrente e sempre atual ou atualizada, é a questão da Liberdade, em geral, e da razão da existência humana em particular. Agora mais urgente do que nunca, pela ascensão ao poder de forças anti-humanas (Trumpistas, Bolsonaristas, Talibãs) que lutam contra o processo civilizatório, avanços na educação, científicos e tecnológicos, destroem liberdades, diversidade e vida.
Essas questões emancipatórias, especialmente, para as mulheres e LGBTQIA+, que sofreram duros golpes na década de 10, com o retrocesso amplo pelo planeta em tão distintas culturas e povos, por uma onda neofascistas, obscurantistas que têm na radicalização religiosa, com a criminalização de costumes, como complemento ideológico ao ultraliberalismo na Economia e Política.
Essa pequena reflexão é para abrir um debate, ainda que pequeno, mas de importância fundamental para romper com a prisão ideológica a que estamos submetidos.
Por todos os caminhos que sigo nas minha investigações, a primeira inspiração é retornar, quase sempre, aos arquétipos, aos mitos gregos. Retomando por essa via, por vezes oblíqua, encontrei uns recortes do meu mestre Junito de Souza Brandão, sobre Liberdade, no sentido da mulher (Ártemis) e seus arquétipos. com certeza mais interessante do que a dos homens.
Junito reproduz e debate ideias da psiquiatra norte-americana, Jean Shinoda Bolen, exatamente sobre as deusas e seus arquétipos, sem mais delongas, vamos às citações, valem pela aula:
Ártemis, como deusa da caça e da lua, era a personificação da total independência do espírito feminino. O arquétipo por ela representado capacita a mulher a buscar seus objetivos em terreno de sua livre escolha, conferindo-lhe uma habilidade inata para, através da competição, afastar de seu caminho a quantos lhe desejam embargar os passos.
A deusa-arquétipo traz ao presente, sua trajetória incomum, a liberdade de escolha, em especial, em relação aos homens, sigamos:
A mulher-Ártemis, com frequência, se deixa atrair por homem que possua atributos estéticos, criativos e saudáveis ou pendores musicais, como seu irmão Apolo. Não se deixa, todavia, seduzir pelo patriarcal Me Tarzan, you Jane, como agudamente faz notar Shinoda. Prefere viver com um homem a casar-se com ele.
O casamento visto como prisão ou perda da liberdade fundamental:
Para ela o casamento espelha com precisão seu conteúdo semântico em latim, iugum, jugo, dependência, prisão… Para ela o sexo muitas vezes é mais um esporte recreativo e uma experiência física do que uma intimidade emotiva.
Acrescenta ainda sobre a visão sobre Ártemis e a liberdade feminista:
Vive mais lá fora, lutando em quaisquer selvas por suas ideias e ideais. Excelente mãe, mas não exageradamente carinhosa, educa os filhos dentro de um enfoque de liberdade e independência, ensinando-lhes desde cedo como defender-se das múltiplas feras que encontrarão pelos caminhos e descaminhos da vida.
E arremata:
Sua independência, ditada por seu espírito feminista, predispõe-na a ser agitada e participante de movimentos que visem a qualquer libertação.
E uma provocação aos homens:
O homem, que não conseguiu desenvolver em si mesmo essas características da mulher-Ártemis, fica fascinado com tanta energia, inteireza e força de vontade. “Coloca-a, por isso mesmo, num pedestal, em função de qualidades que ele não tem e julga incomuns no sexo feminino” (Jean Shinoda Bolen, nas aspas).
É a liberdade, na mais pulsante vertente.