No ocaso do dia voltando da casa de minha mãe, aqui em Fortaleza, no carro rolava as músicas típicas do fim do domingo, mas pareciam mais melancólicas do que o normal, ainda que fosse apenas mais um domingo, dia tradicional da melancolia, entretanto com a Pandemia virou um dia como outro qualquer, de certa forma perdeu o posto de modorrento, triste.
Why are Sundays so Depressing (The Strokes), In Liverpool (Suzane Vega), A Whiter shade of pale (Procol Horum), Only for You (Heatless Bastards), foram rolando, uma a uma, e eu perdido ouvindo-as, ao mesmo tempo em que ai pensando sobre o significado delas, mais ainda, a relação de domingo com melancolia, especialmente para mim, de onde surgiu.
As duas lembranças brochantes do domingo. a primeira, a música do início do Fantástico, prenunciava uma tristeza sem fim, a segunda-feira que ameaçava chegar e nos devolver a dura realidade do dia a dia, do sofrer semanal, após um ilusório fim de semana. Com um tempo, ainda bem jovem, passava reto o Fantástico, lendo, ou ouvindo música, na época não tinha TV a cabo, nem mesmo vídeo cassete.
A outra lembrança era o intervalo do futebol anunciando as “atrações do Faustão”, a voz irritante do apresentador, aquele inovador comunicador do final dos anos de 1980, do maravilhoso “Perdidos na Noite”, se transformou num dos maiores chatos de galochas, absurdamente insuportável, o chapa branca oficial da Globo, no domingo, era a voz anunciando que o fim de semana acabava.
A tática era colocar em “Mudo” ao final do primeiro tempo, logo trocando de canal, para não ter risco de topar com o Faustão. Depois, mesmo gostando de futebol, passei a colocar no “Mudo” quase todo o jogo, o “padrão Globo” é uma ofensa à inteligência.
Ao final da reflexão num cruzamento um pai pedia esmolas, ao lado de uma menina, não mais que cinco anos, descalça, a cena destruiu meus toscos pensamentos “classe média sofre” com o domingo…
A vida é muito dura, para esses devaneios.