As histórias contadas nesse tempo serão cheias de dores e de sangue.
As milhares de perdas vão se somando como se fossem apenas números, mais e mais números, um 1482, num outro 1726, ainda além 1910, agora 250 mil, uma semana depois 260 mil, no próximo mês os 300.000, tudo reduzindo a uma contagem constante de mortes.
E as vidas atrás das vidas? Os amores desfeitos, os avôs e avós que partem, os pais e mães, que deixam órfãos, novos ou adultos, isso não é natural, é fato que as pessoas morrem, todos os dias, mas o que se tem é uma abreviação de histórias, de sonhos e esperanças.
A visão monstruosa da economia de que o núcleo dos óbitos, de mais de 70% dos mortos são de idosos, “aliviarão a previdência”, como algo “positivo”, e ao mesmo tempo reclamam que as restrições de isolamento prejudicam a economia, como se a vida fosse um detalhe qualquer.
A mídia passa o dia todo nessa relação esquizofrênica sobre o significado da Pandemia: Ora falam dos prejuízos da economia, ora falam sobre as histórias desfeitas com as mortes. De certa forma esses sentimentos complexos e contraditórios colocados pela mídia entre informações cruéis e entretenimento (apelação por audiência) com as mortes causam mais aflições no cotidiano.
Os registros que se faz, não vinculados à grande mídia criam uma outra narrativa para a tragédia que se vive no Brasil e no mundo.
A maior preocupação que deve se ter é contar essas histórias humanas, histórias roubadas não pela pandemia, mas pelas condições de vida humana, em que a sua distância do centro, é fatal para sua vida e sobrevivência no caos atual. Saber o que era importante e quais os sonhos dessas vidas roubadas, do seu contexto familiar, relações com seu meio e sua comunidade.
Dar rosto humano, não apenas números, parece ser o mais difícil e o menos “vendável”, na sociedade do espetáculo em que tudo vira uma relação de consumo.
Celebremos os nomes e as pessoas, não o amontoado de números.
(Ao meu amigo Paulo Jacob, com sentimento de grande saudade, vá em paz)