Querida e amada filha ausente.
Lá se foram dois anos e três meses, desde que nos deixastes, não por vontade própria ou nossa, mas como parte do grande mistério do que é o ciclo da vida, em que não sabemos onde entramos, muito menos quando dele somos arrancados, alguns, bem poucos, o fazem por si, não foi teu caso.
Aqui, ao contrário dos que repetiam de que o tempo faria nos esquecer ou amenizaria tua falta, a cada dia parece que foi ontem, o dia mais cruel de minha vida, sinto o mesmo amor e a dor, pois é certa de que não passará, não é porque não queira, é porque não acontece mesmo, tenho preferido encontrar uma forma de “conviver” com a dor e suportar a saudade de ti.
Tenho descoberto banda, músicas, filmes, séries que com certeza iríamos curtir juntos, quando penso, bate uma dor sem limites.
Confesso que não é fácil, esses dias tenho sonhado contigo, ou seria apenas ilusão de sonhos, enfim, tua presença tem sido forte nessas noites de calor e de profunda incerteza sobre o porvir, do que vivemos em nosso país e num mundo estranho, mesmo sabedor de que toda época humana é estranha, tendemos a dizer que o momento é pior do que outro, justamente por não sabemos o que virá amanhã, nem depois.
As suas coisas ainda estão aqui, seu quarto, seus cadernos tão bem anotados, tanto gosto e capricho, seu modo especial de organizar e planejar uma vida que desgraçadamente lhe foi roubada, não de mim, de nós, mas de ti, isso é o que mais me machuca.
Até suas cinzas estão conosco, por pura inação de saber o que fazer, desculpe a demora em tudo.
Com amor e saudade,
Te amo.
https://www.youtube.com/watch?v=r5iQzD2Bs5Y