“Agora com rijo espírito e prudente vontade
defenderemos vosso poder na luta terrível
combatendo os Titãs na violenta batalha”
(Teogonia – Hesíodo)
Localizar no tempo e no espaço, é a chave para entender os resultados de 2020.
Toda a onda negação da Democracia e criminalização da Política, especialmente do PT, trouxe novos atores políticos, que repudiavam a política, fazendo política. Em 2018, encontrou em Bolsonaro o seu símbolo, o espelho ideal, um “político” que vive de Política, negando que seja político, o que amplificou o repúdio de toda prática de alianças e de costuras eleitorais, como a raiz da corrupção, sua bandeira, para atacar o Estado.
O mundo real cuidou de responder que não há como negar a política, pode se tentar restringir, criminalizar, usar de métodos de exceção como regra, mas não é como algo definitivo. Em pouco mais de um ano, o próprio Bolsonaro procurou e entregou seu governo, sua sobrevivência, ao Centrão (a Direita que não ousa dizer o nome), que por décadas é um o fiador de certa estabilidade política num país continental e desigual em todos os aspectos.
As eleições de 2020, a despeito da pandemia, já seriam marcadas pela grave crise econômica, que assola o país teve seu início na crise política com a reeleição de 2014, Dilma foi inviabilizada de governar até sua queda final.
O Golpe de 2016 jogou o Brasil numa agenda destruidora de direitos sociais, previdenciários e trabalhistas, com Bolsonaro essa pauta se aprofundou atacando as condições de vida e os direitos humanos elementares, o meio ambiente e credibilidade internacional.
A derrota da Esquerda, em particular do PT, em 2016, com o golpe e o recuo eleitoral, depois a prisão do ex-presidente Lula, o que o impediu de se candidatar em 2018, em que aparecia como favorito, mesmo assim, a candidatura de Haddad, foi ao segundo turno e teve 46% dos votos, o que demonstra que a Direita não teve força para esmagar a Esquerda, como era o que tentava.
O resultado eleitoral teve um grande mérito: Enterrou a onda neofascista de negação categórica da Política, ao que pese que o Centrão (leia-se, Direita envergonhada) teve a maioria de votos e vitórias em grande parte das prefeituras pelo Brasil.
O PT continua como o maior partido de Esquerda do Brasil e com densidade nacional e votos e presença em boa parte dos municípios, mesmo recuando na quantidade de prefeitos e vereadores eleitos, teve uma significativa vitória, que foi um pequeno incremento de votos totais nacionais, mesmo sem coligações que teve em 2016, o que será fundamental nas eleições de 2022 de caráter geral.
Ao mesmo tempo, os partidos aliados preferenciais do PT: PC do B, PSB e PDT, tiveram forte recuo na quantidade votos, ainda que tenham aumentado o número de prefeitos, exceto o PC do B, mas pode vencer uma importante capital, Porto Alegre. O que significa que a aliança é fundamental para todas as forças de Centro-esquerda.
Cumpre destacar o avanço do PSOL nessas eleições, como parte da recomposição de um bloco de esquerda, representando o espectro da esquerda ideológica. Trouxe para o debate a incorporação das pautas identitárias como centro de sua atuação e deu voz às mulheres, aos negros e negras e ao movimento LGBTQI+, com eleições de vereadores em grandes cidades e com esse perfil.
A maior vitória do PSOL é a ida de Boulos ao segundo turno em São Paulo, com 20% do votos, sua campanha conquistou, desde o inicio, o apoio de parte significativa de militantes petistas e figuras públicas identificadas ao PT, que aderiram a candidatura de Boulos, não necessariamente ao PSOL, como demonstra a votação para câmara municipal foi de apenas 41% dos votos majoritários.
A tarefa é começar a formalizar esse Bloco de Esquerda, nesse segundo turno é a maior oportunidade unir e reunir lideres e partidos, a militância política é fundamental.
A maneira mais inteligente será chamar prévias de um bloco de Esquerda e progressista. Coisa para começar em maio de 2021, prévias em março de 2022. Com programa e candidatos. Isso mobiliza, cria referência, saímos da disputa entre partidos e demonstra para sociedade a disposição de RECONSTRUÇÃO do Brasil , Estado e Nação.
É o tortuoso caminho, mas não há outro.
O PT não fez a maior bancada em SP? Se Boulos vencer vai governar graças ao PT…
Beijos!