“Sofre cada um de vós somente a própria dor;
minha alma todavia chora ao mesmo tempo
pela cidade, por mim mesmo e por vós todos”
(Édipo Rei – Sófocles)
Ora, a vida tem uma natureza banal e simples, massante e repetida, em que raramente por atos atos extremados, comete-se uma doce e inesperada insubordinação, uma rebelião contra esta ordem natural e tão humana, comum e ordinária, esses são os momentos mais sublimes e eternos.
Há uma lógica, uma razão boa e tranquila, para os atos e fatos da vida sejam repetições, pois é o que nos garante “segurança” e por mais que façamos algo extra,, voltar a passar pelos mesmos caminhos e marcos, pode representar uma calma, uma certeza de reencontro consigo. Sem ser apenas uma resignação, mas um prazer de existir, de buscar felicidade nas coisas mais simples.
Milhões de pessoas vivem/sobrevivem num mesmo compasso, como um tic-tac de um relógio, com as mesmas obrigações, raramente mudando uma vírgula de seus cotidianos, que seguem em frente sem alterar nada, se resignam em continuar e continuar, esperando ou não por algo melhor, mais digno, ou não, apenas resignados.
Neste sentido, as religiões, as ideologias, as paixões, funcionam como um “regulador”, ou como uma válvula de escape, para que se fuja do “eterno retorno”, para que se tenha a impressão (falsa ou verdadeira) de que se estar fazendo algo “diferente” do habitual, do normal, do humano.
O caminhar para frente envolve medos, incertezas, em qualquer época, a psiquê humana trabalha essas questões por representações, algo como a busca da saída do labirinto, o útero materno ou da sociedade, aquele em que o “feto” Teseu, tem no fio de Ariadne, o seu cordão umbilical que precisa ser rompido, para enfrentar os seus (nossos) monstros, os minotauros, internos ou externos.
Essa luta mental, com sofisticação ou simplicidade, é o que nos move, ou nos recolhe, expansão ou prisão, liberdade ou grilhões.
Assim seguimos, nem sempre para frente, muitas vezes apenas esperando um novo sol, uma nova lua. Entre melancolia e euforia.