“De todos faz covardes a consciência” (Hamlet – W Shakespeare)
Tantas tecnologias no alvorecer de um novo mundo, comunicações, sem no entanto fazer romper com os dilemas mais elementares, já pensados e postulados em épocas passadas, apenas para nos lembrar o que realmente somos, não importando os avanços da sociedade, ciência e modernidade.
Essa quarentena vai quebrando muitas verdades não apenas do ponto de vista pessoal, como também coletivamente. Tudo o que se passa hoje (sic) é muito estranho e desconexo, como se nada se parecesse real, ou com o que fomos, seria um renascer?
Muitas coisas que tinham valor, peso, força, começam a parecer nada, pois nem sabemos mais as razões antigas desses valores e suas importâncias, agora vai se reaprendendo a ler o mundo, como se isso fosse possível.
No meio desta nova experiência, lá de longe, vale pelo menos negar as coisas de que não se precisa mais para vida, nem mesmo ter consigo. Negar é bom caminho para seguir em frente. Quando se souber o Sim, será a hora de abandonar o Não.
O que se percebe nas redes sociais é a eterna repetição da necessidade dos Gurus, Xamãs, o que não é de todo ruim, entretanto um certo discurso empolado, ultraliberal (tanto à esquerda ou à direita) tenta ser pós-tudo (pós-rancor, pós-modernidade, pós-Luta de classe). Olhando de perto, na verdade, isso pode esconder exatamente o velho, ou o pós-nada, apenas uma necessidade de se integrar à sociedade consumo com algum status.
Isso faz nos Lembrar dos Hippies, paz e amor, virando Yuppies, ou dos Punks, domesticados como “moda”. Portanto não se trata de detratar ninguém, apenas trazer à luz exemplos históricos, compreender e dialogar, inclusive para se negar de forma direta, com a propriedade e sem receio de ser massacrado pela manada do “amém, aleluia”.
Volto tantas vezes ao monólogo central do Hamlet, que expõe nossas vacilações, entre ir e não, ficar no meio do caminho, especialmente, quando tudo em volta parecer desmoronar. Vejamos:
“Ser ou não ser… Eis a questão. Que é mais nobre para a alma: suportar os dardos e arremessos do fado sempre adverso, ou armar-se contra um mar de desventuras e dar-lhes fim tentando resistir-lhes?
E mais, no final, centro do medo humano
“Que fardos levaria nesta vida cansada, a suar, gemendo, se não por temer algo após a morte – terra desconhecida de cujo âmbito jamais ninguém voltou – que nos inibe a vontade, fazendo que aceitemos os males conhecidos, sem buscarmos refúgio noutros males ignorados?”
Neste momento de tormenta que passamos, lembrou-me vivamente deste monólogo, o que é uma forma que de fazer a continuar a escrever, abstrair das coisas que se vive intensamente. Estas reflexões que Hamlet fez, martelam na minha cabeça diariamente, tem coisa mais atual do isto?
Vivamos, sobrevivamos.