“Bendita a lâmina grave que fere a parede e traz
As febres loucas e breves que mancham o silêncio e o cais”
(Corsário – Aldir Blanc)
A partida de um grande Bardo, como Aldir Blanc, abre uma dura reflexão sobre todos nós que teimamos em escrever, para nós é preencher folhas, uma tela de computado, um espaço vazio de letras, enquanto para tipos como ele, era preencher o espaço imaginário com palavras que fazem todo o sentido.
Captar os sentimentos e as emoções de um lugar, partindo de sua tribo, aquela coisa bem elementar, o particular, mas que se espalha pelo universo com a naturalidade de que apenas os gênios conseguem e elaboram sobre o todo, aquilo que é o humano, o ser, as coisas e as letras.
A amplitude das palavras escritas, ou postas numa ordem tão divina, encanta, é uma magia que os magos, esses poetas das sombras que de repente disparam raios, iluminando o todo. As metáforas improváveis, a capacidade de tirar de uma cena insólita, todo o sentido do amor, do verbo.
A dor da ida ao Limbo, o local dos poetas, pensadores, filósofos, onde se encontram os grandes, nada de Campos Elísios, essa bondade e imaculidade, não os pertence. O Limbo é a metáfora maior dos que não creem em céu, inferno ou purgatório, apenas viveram para dar sentido à vida terrena e seus descaminhos do eterno.
Sorria, Aldir, Elis, João Bosco, Nana Caiymmi, e tantos outros que verbalizaram as palavras, desenhadas em papéis, que viraram letras, poesia e sons, embalaram sonhos, amores, dores, fossas e novas vidas, novos amores, novas chances, porque tudo isso é apenas a Resposta ao tempo, mestre querido.
As minhas lágrimas são de felicidade, nenhuma tristeza por um dia, em 1983, um professor comunista de português usou sua poesia e suas letras para me encantar.
Obrigado!
“Sentindo frio em minh’alma
Te convidei pra dançar
A tua voz me acalmava
São dois pra lá, dois pra cá
Meu coração traiçoeiro
Batia mais que o bongô”
Maravilha de texto, caro Arnóbio. Eu estou certo de que este homem calvo e de barba longa e branca que nos deixou hoje (que pena, que pena, que pena!) é um dos maiores cronistas e poetas da canção de todo o mundo. Sim, de todo o globo terrestre. Ele foi um cronista que, partindo da cena carioca, descreveu o Brasil para o mundo, para que alguém, daqui a mil anos, que venha a ler uma de suas crônicas ou letras de canção de seu “Rua dos Artistas e Transversais”, saiba quem foi esse homem, essa mulher brasileira, esse boêmio que encontra todo sentido na vida a partir de uma conversa de botequim. Sim, ele estava entre a comicidade e o humorismo de Sérgio Porto e a tragicidade cômica ou comicidade trágica de Nelson Rodrigues, como diz Ruy Castro hoje na Folha/UOL, mas ele não é nem um, nem outro, nenhum outro. Ele é Aldir, duro na queda. Mas nem nossos heróis (não temos heróis!, temos poetas!) são eternos. Só mesmo Aldir pra fazer um bam-bam-bam do morro chorar por sua mulata de olhos claros, o qual lhe perdoará toda traição (Duro na Queda), só mesmo Aldir pra falar das pedras pisadas do cais como o monumento de seu Almirante Negro (Mestre-Sala dos Mares), só mesmo Aldir para dar respostas ao Tempo, atirando-lhe na cara o fato de adormecer as paixões (Resposta ao Tempo). Só mesmo esse poeta da Muda-Usina, esse carioca da gema, pra me dizer que há meninos que nascem entre a ronda e a cana (Tiro de Misericórdia) e pra me contar que o “Brazil não merece o Brasil” (Querelas do Brasil). Há um pedaço de nossa gente (gente estúpida, gente hipócrita) que não te merece, Aldir. Perdemos um poeta, que comporá a Plêiade Brasileira. Adeus, Aldir. Tenho pena daqueles que nunca te tiveram no coração.
Jessé,
Fez um comentário que em muito supera o texto, meu grande amigo, camarada e parceiro de movimento estudantil, um gênio, um craque, aliás, os irmãos todos.
Grande abraço.
Deixe de exagero, que foi você a inspiração de todos nós que fomos gestados na ETFCE naqueles anos inesquecíveis.