1651: 2013-2020: O Fim do Ciclo da AntiPolítica.

2013 iniciou pós o Brasil em mutação permanente..

O Brasil entrou numa fase de grandes mutações políticas e institucionais, em particular depois de 2013, uma queda acentuada de direitos, de presença e importância mundial, culminando com a eleição de político de extrema-direita sem nenhum apreço à Democracia. Esse artigo se propõe a debater esse ciclo, o da Antipolítica.

Houve uma guinada mundial à Direita, iniciada nos final de 2010, com as primaveras árabes, que passeou pela Europa, dos indignados e occupies, e teve seu auge na queda da Ucrânia, e finalmente chegou ao Brasil, nas jornadas de junho de 2013.

Foi a resposta política do Kapital à Crise colossal de 2008, um novo modelo de Estado, a que chamo de Estado Gotham City, sendo as maiores vítimas a Democracia e a Política. Foi uma construção no tempo e no espaço, não algo aleatório e ocasional.

As jornadas de junho e seus desdobramentos fizeram parte desse processo político, desse ajuste. O novo Estado tem como fim a destruição da Democracia e da Políticatemas caros à democracia burguesa, por séculos, especialmente  no século XX, na disputa com a antiga URSS.

As jornadas de junho tiveram como precedente fundamental, o desgaste de 10 anos de governos petistas, que teve amplo crescimento econômico, incorporação de milhões de pessoas ao mercado de consumo, sem jamais mudar a caráter e as mazelas do Estado, o sucesso econômico, os cegou, sobre as mudanças estruturais. O longo ciclo capitalista de crescimento se esgotou no final do governo Lula.

Dilma assume sob a égide de um tempo complexo, a formação bruta de capital que impulsiona o crescimento, estava em queda, a capacidade produtiva era elevada, o que passa a pressionar preços e salários. Pousar desse o voo alto é uma decisão política forte, que sem apoio e consciência política, não terminaria bem.

As práticas políticas de governabilidade se tornam evidentes no momento que o pão já não é farto, abre-se um questionamento de acordos, de acomodações políticas e, claro, de corrupção da máquina estatal, que cresceu e se tornou mais complexa. Mexer com esses interesses, com taxa de juros, ampliar direito básicos, como a carteira de trabalho de trabalhadores domésticos, se tornaram explosivos.

Foram razões objetivas maiores, da crise por não ter crescimentos vistosos, o pibinho, garantir o padrão de vida e de acesso, que levaram à explosão de revolta.

O mote foi de uma ironia cruel, R$ 0.20 de aumento de tarifas de transportes, em São Paulo e Rio de Janeiro, temas de prefeitos, nem deveria chegar no governo federal, mas o ânimo era maior e mais amplo.

Faltou leitura clara do que estava a acontecer e o que viria depois, o que abriria nesses 7 anos seguintes.

O país pelo avesso, o prejuízo chegou na casa dos trilhões, especialmente para os trabalhadores, com o enorme desemprego, e os mais pobres, pela volta da extrema miséria, pois, hoje, o país vive o caos, com uma relação direta àqueles eventos fatídicos.

É impossível não compreender que a escalada de justas lutas pelo não aumento de transportes, num momento de incertezas econômicas, acabou servindo de escada para os fascistas, isso não se deu só no Brasil.

Era uma onda de ventos de um ajuste à Direita, iniciado na Tunísia, mas que ganhou corpo e rosto, na Praça Tahir, no Cairo, e teve um dos marcos simbólicos a Praça Maidan, Kiev, Ucrânia.

Quando aportou aqui, já havia uma “narrativa”, estava bem azeitada, não veio por acaso, tinha um modus operandi bem definido, pegar todas as demandas, reais e verdadeiras, como a questão dos aumentos dos transportes, mas também a crise que abalou os EUA e Europa, e que começou a se sentir os efeitos, em 2012, mas não tinha cenário catastrófico, longe disso, mas a nova classe média perdia fôlego, sem poder de compra.

Havia um terreno fértil, a economia já não respondia como nos anos anteriores, as velhas feridas se reabria, a incapacidade da classe média de ter novos ganhos, trouxe de volta o preconceito, por exemplo, de aceitar que os mais pobres pudessem dividir espaço no mercado de consumo, viajar no mesmo avião, encontrar nos restaurantes.

A corrupção, os serviços públicos deficientes, ainda que o desmonte de FHC tivesse sido em parte revertido, houve abertura de Universidades e Institutos Federais, contratação de servidores, melhoria nas carreiras, vários planos de incentivo ao ensino e facilitar o acesso da população mais pobre.

Mas o turbilhão de emoções, bem urdida, extremamente perspicaz com técnicas científicas, uma longa preparação, fez explodir todos os ódios, mesmo que parecesse que havia apenas demandas positivas, essas foram rapidamente esquecidas, deixadas de lado, “não era apenas por 20 centavos”, era escolas ou hospitais “padrão Fifa”, depois “Não vai ter Copa”.

As tais jornadas deram extremo poder ao MP aos juízes justiceiros, transformaram o judiciário, o poder mais caixa-preta em paladinos da ética e da luta contra os males do Estado, pois no fundo, se transformou na luta contra o Estado.

Em 2014, se elegeu o pior congresso da história, comandado por Cunha, o ponto fora da curva foi a eleição de Dilma, mas foi “corrigido” pelo GOLPE de 2015 e 2016, simplesmente ela não podia governar, as relações se esgarçaram e nem diálogo era possível. De uma tacada só se jogou no lixo 54 milhões de votos e puseram no governo figuras mais corruptas históricas, pois o mais importante era “tirar a Dilma e o PT”.

A Economia foi destruída rapidamente, voltaram a fome e a miséria. As riquezas sendo entregues sem cerimônia, pré-sal, Petrobrás, Eletrobras CEF, Banco do Brasil. Contingenciamento de gastos sociais por 20 ANOS, quebra dos direitos sociais e trabalhistas. Explosão do desemprego.

Desse ambiente irrespirável, surgiram os heróis e mitos, como Moro e Bolsonaro, um com brilho menor, Joaquim Barbosa, assim como figuras absolutamente desconhecidas, como Witzel, Dória Jr, que tinha uma empresa de jabá fino. Ou histriônicos como Frota, Mamãe Falei, Joice, Kim Kataguiri.

O discurso fácil, contra o PT, valia e cabia tudo. O acerto de destruir o Estado, suas instituições tratadas como corruptas, com amplo apoio de mídia, oferecendo milhares de horas desse massacre. Vamos acabar com a “velha política” e com a esquerda, leia-se, o PT.

Por uma ironia, elegeram o pior entre os piores, Bolsonaro, um deputado fanfarrão e do baixo clero, mas que passou a representar uma força “nova” contra o Sistema. A despeito do modo e dos meios utilizados, com uso abusivos de fakenews, disparadas por redes sociais controlada por um “exército de clones”, Messias, era a cara de um Brasil sórdido e embrigado.

O desgoverno, desastroso em todos os sentidos, uma composição ministerial que beira à chacota, com pessoas absolutamente despreparadas e com baixo nível cognitivo, se sustentou por um ano e pouco, por falta de oposição firme, quase esmagada nos números do parlamento, que parece ainda pior do que o eleito em 2014.

Parece claro que meio desse desacerto geral, a falta de projetos e de perspectivas criariam crises e mais crises, até com pouca oposição. O passado da família Bolsonaro passa a incomodar, como apagar e sair de cena esse passivo tão grande? Como deixar fora de investigações as fakenews, o seu uso abusivo e de destruir reputações em redes sociais, tão ativas?

Os dois personagens, gracejados com a onda da Direita, Moro e Bolsonaro, entram em colisão, um percebe que outro vai lhe trair a qualquer instante, o que poderá destruir uma reeleição ou de um novo presidente. A ruptura se deu num momento extremamente complicado do país, em plena pandemia de coronavírus, que Bolsonaro negligencia diuturnamente.

A saída de Moro do governo, significa o fim de um ciclo, a época da demagogia, dos justiceiros-fakes, parece ter chegado ao fim. Moro fez uma gestão medíocre no ministério da justiça, contando com duas sortes, num governo de mediocridades, ninguém constrange ninguém, a outra, os seu apoio de mídia, uma dívida da período da lava jato, dos vazamentos seletivos e covardes.

Bolsonaro iniciou um movimento, dias antes da saída de Moro, de buscar a “governabilidade”, às favas os escrúpulos, procurou os operadores, Roberto Jefferson e Waldemar da Costa Neto, justamente os homens do chamado escândalo do mensalão.

Essa volta à velha política, é um indício claro que Bolsonaro caiu na real, que vai defender seu mandato, coisa que Dilma não fez, não foi para jogatina dos cargos, mas ele, como legítimo político oriundo do baixo clero, sabe como um presidente usa a caneta.

Bolsonaro dificilmente cairá via impeachment, talvez por uma improvável cassação de chapa, o que se apresenta é que iniciou um novo governo, um Sarney sem bigode e sem educação, mas com a mesma gana de poder, de sobrevivência.

O fã clube vai demorar um pouco a entender que serviram de massa de manobra para mais um desqualificado, mas chegará a hora que até Mailson da Nóbrega, dos 84% de inflação MENSAL, dará saudades.

É hora da oposição se reunir, olhar para frente e construir o dia a dia, um novo tempo se abriu, a armadilha Moro-Dória-Witzel, dos demagogos autoritários, da judicialização da política estará num campo, é preciso reconstruir um outro e  reconquistar o espaço da Politica e da Democracia.

À luta!

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

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