“É fácil, quando se pisa do lado de fora da desgraça, aconselhar e repreender quem está sofrendo. (…) Escutai-me! Escutai-me! Compartilhai a dor de quem está penando agora, pois a adversidade, em seus errores sem rumo, visita hoje um, outro amanhã. (Prometeu Acorrentado – Ésquilo)
O que nos destrói são os pequenos detalhes, aqueles que nunca serão apagados de nossas memórias, logo comigo, que fui tão vaidoso pela minha memória prodigiosa, agora, quero refutar as lembranças, aquelas que machucam, por mais bobas que sejam, tornam-se monstras, essas dores, não havendo nada que nos console, o choro é apenas a forma mais externa da angústia.
Ali, estendendo roupas no varal, algumas peças da Lê, ainda não sei por que não já doamos tudo, a pesquisar. Um pijama, cuja blusa está escrito: “Wish upon a star”. A emoção de vê-la tantas vezes, aqui, ao meu alcance, no sofá, vendo série/filmes com aquela blusa, é impossível descrever tudo o que provoca em mim, cada coisa dessa, como explode na mente, replicando um sentido de derrota.
Por que fostes tu, e não eu? Tantas vezes me pergunto, sem respostas, aliás, não há respostas plausíveis, apenas desejo de conforto “espiritual”, missão cumprida, e outras platitudes que não resolvem o problema fundamental dos que ficam, pois todos os dias a ausência maltrata e a saudade judiando.
A vida é arrastada, a cada dia que passa, principalmente naqueles que ficamos em contemplação (em casa), as imagens dela veem mais forte, tudo parece tão irreal, sem sentido algum, o passado e o presente se fundiram de uma forma, que não há expectativa de que haverá futuro, sendo ele apenas uma projeção dolorida do que se vive no atual momento.
Isso me faz refletir sobre os limites de nossas tolas vaidades, disputas burra por protagonismo, competição por quem vai aparecer mais, serve para quê, mesmo? Todas minhas vaidades se perderam, se esfarelaram nesses últimos nove anos e meio, especialmente, nesses onze meses, acreditem, alguém não quer seu lugar, nem lugar algum, apenas vive.
Por tudo isso, ainda me espanto quando, algumas vezes, sou impelido a responder pelo medo alheio de que possa eclipsar a vaidade alheia, quanta bobagem, mesquinharia. Nem entendo por quê provoco esse temor de roubar a cena, aparecer mais, ser visto.
Cansa demais, medem-me por suas réguas, pelos seus desejos, não pelo que efetivamente me tornei, um mero cidadão comum, que só quer passar desapercebido.
Por mais uma vez repito, desisti de mudar o mundo, faz muito tempo, nem pretendo mudar ninguém, no máximo, tento mudar a mim mesmo, o que é uma tarefa imensa e inglória, diante de tantos defeitos e falhas, que humanamente levo em frente.
Até minha única frase, perdi, vida que (não) segue.