1559: As 10 Voltas

O amor e suas voltas…

“Corra não pare, não pense demais
Repare essas velas no cais
Que a vida é cigana
É caravana
É pedra de gelo ao sol
Degelou teus olhos tão sós
Num mar de água clara, clara”
(Caravana – Geraldo Azevedo/Alceu Valença)

É 18. Mais um, o décimo, desde então.

A cada volta do ponteiro, vamos nos distanciado do trágico momento, ainda que o relógio mental tenha congelado naquela dia, naquela hora. Assim como minha vida, minha alegria, sorriso e alento. Tudo me foi subtraído naquele maldito hospital e seus médicos insensíveis.

O relógio parou.

De certa forma, o que me faz lembrar quando estive a primeira vez em Kobe (Japão), em novembro de 1996, um ano e meio antes, um poderoso terremoto destruiu boa parte daquela bela cidade portuária. Praticamente a cidade estava reconstruída, mas o relógio central, estava parado, para que não se esquecesse da vítimas.

Assim é, nosso cérebro teima em não mover os ponteiros e a vida ficar ali, num eterno retorno, um Sísifo mental.

Olhando mais de perto, a tragédia, é de uma família, um pai, uma mãe e uma irmã, não tem repercussão além de nós, apenas por uma tolice, damos publicidade da nossa dor. Uma reflexão dolorida se impõe, por quê e para quê se continuar a viver? As cores perderam o brilho, é um tenebroso inverno que tomou conta de nós, mesmo em dias quentes.

Tempo e espaço se fundem e nos empurram para o limbo do viver.

De toda sorte, tudo em nossa volta se movimenta e segue no seu próprio ritmo, pois a vida não é dada à pausas. O que podemos fazer é nos adaptar num ritmo assíncrono, não linear, para apenas sobreviver.

Tantos lutando por tantas pequenas coisas, percebemos a fragilidade humana, não pela morte da Letícia, mas por sentirmo-nos em frequência distinta, o quanto é tolo pelo que se briga, com ferocidade. As vaidades que nos habita, nos torna pobres, fracos e se combina com ambições, que negam o humano, o que realmente vale a pena.

São 10 batidas nesse relógio que teima em continuar parado.

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

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