“Nobody writes about anything but themselves” (Animais Noturnos)
O filme, Animais Noturnos, é uma porrada, um soco no estômago, todo estranhamento o torna imenso, a reflexão é doída, sem se saber como iniciar a falar sobre o que se viu. A primeira cena é uma performance de uma exposição de artes, que traduz a estética humana e sua decadência, tudo vira carne, e dinheiro, negócios, nenhum sentimento maior do que devorar a vítima.
A cidade é Los Angeles, um casal falido, tanto financeiramente, quanto emocionalmente, vivem o impasse, quem sobreviverá, o passado começa a cobrar uma conta alta demais, o presente é dor, o futuro, não existe..
O tema é fraqueza, as humanas e como elas, quando expostas, parecem tornar as pessoas mais frágeis dos que são, os interlocutores se afastam, fogem, ou apenas aproveitam e devoram suas vítimas, diante da fragilidade, os predadores encontram sua melhor carne. A noite é o pior momento, tanto dos fracos quanto dos que os devoram, apenas um, na noite deve sobreviver.
A redenção pode vir da arte, escrever, por exemplo, é um exercício de coragem e, ao mesmo tempo, de proteção contra tudo aquilo que nos assusta, nos oprime. Enfrentar os medos, no caso, a fraqueza.
Texas, Nova York e Califórnia. Dallas é a dureza, a força primeva, animal, que não admite sensibilidade e onde os fracos não têm vez. A sofisticada Nova York, os sentimentos se diluem, mas as fragilidade é mitigada ou devorada. Los Angeles é a intermediação, a compreensão da fragilidade, os dramas humanos, ganham dimensão literária, uma aceitação de que a fragilidade é parte da coragem humana.
Susan (Amy Adams) é uma artista que não teve coragem suficiente para exercer sua força criativa, enfrenta o dilema de amar e viver com o sensível Edward (Jake Gyllenhaal), a fragilidade dele não lhe dá segurança, o senso de sobrevivência (ambição) a leva ao amante Walker (Armie Hammer), o predador, ali, a princípio, devorou uma vítima, Edward, para depois, lentamente, ir se apropriando da alma de Susan.
É uma cadeia alimentar, uma dura realidade que se enfrenta dia a dia no mundo, em todos os momentos, alguns em especial, como o tempo presente. Tom Ford faz um grande filme, um diagnóstico sobre a doença humana, apresentando-nos como animais, na nossa natureza mais funda, que luta pela sobrevivência é o nosso maior guia, maior que amor, paixão, vida em comunidade.
A psiquê humana decifrada pelo seu lado mais sombrio, seu espírito animal.
Imperdível, no Netflix.