“A vida humana não dura mais do que a contagem de um.” (Hamlet – W. Shakespeare)
Você não está errado ao pensar que está lendo o mesmo texto, é quase uma repetição, na verdade, bem na verdade, é um mantra. Repete-se o fundamental, para que o decore, o que se precisa ter na consciência. Assim se dar comigo, revivo a mesma cena, a mesma dor, e a inacreditável notícia de que é isso mesmo que aconteceu, naquele fatídico domingo, 18.11.18, um palíndromo.
Olhar de um ângulo ou de outro, indo e voltando, com o mesmo resultado, tem sido o que atormenta, aliás, os dias se afastam, mas a memória ganha novas cores, ou seriam novas dores? São nove luas que se foram e a estrela mais bela, continua a brilhar nos meus sonhos, nos meus dias.
Por milhões de anos ela se mostrará no espaço, ainda que “morta”, pois vida e morte, depende do ponto de onde se olhará, no tempo e espaço.
A recorrência dos textos são meus mantras, uma forma de aproximação do que é inaceitável, mas que precisa se dito/repetido, para que os ficam, jamais esqueçam os que partiram, sem que compreendamos esse mistério, que é a vida, a sua duração é de um segundo, como diz o poeta inglês, teimamos em não ler a poesia e aceitar os seus desígnios, ou desespero da palava, FIM.
A finitude de que aparentemente nós, humanos, temos a consciência, portanto a dor, de saber que o tempo não é nosso, que por mais inteligentes e brilhantes, a luta é desigual. Algumas vezes, é mais que desigual, quando a perda é tão prematura, parece que o buraco negro se abriu diante de nós, que a nossa impermanência é ainda menor, machuca muito mais.
Coube a mim escrever, sem o talento dos grandes, mas com a força do sinto, para que não tenha sido em vão, a doce existência de Letícia. A minha tola certeza, consolo, é que se houve algo bom em mim, foi ter vivido ao lado dela, de respirar seu encanto, sua magia, saber que ela era enorme, não porque morreu, mas pelo brilho que espalhou, o amor que generosamente distribuiu em todos os lugares em que esteve.
A dor é incomensurável, o texto não trata disso, nem deve, pois o que desejo é apenas sentir que Letícia vive em mim, até o meu findar.
Obrigado, filha.