“Pelo meu desmerecimento, que não ousa oferecer
O que quiser dar, e muito menos aceitar
O que morreria por não ter. Isto nada vale.
Mas quanto mais se tenta ocultar, maior se revela.” (A Tempestade – W. Shakespeare)
Talvez tenha chegado o momento em que não tenho mais nem uma preocupação em agradar nada ou desagradar ninguém, apenas ser o que sou, nada mais. Ainda não estou na idade dos cabelos brancos, que o respeito maior vem da sabedoria deles, ou do peso do tempo vivido. Não, definitivamente não é o caso, estou no “meio do caminho, numa floresta escura”, como dizia o poeta.
O que está certo é que experimentei sentimentos tão extremados nestes últimos anos, que me sinto livre, nada mais importa, o que dizem, se é que alguém diz, sobre mim. Não tenho nada a oferecer, especialmente, do ponto de vista material, que é o que move o mundo, as pessoas, até as “boas”, como tornam piores, aquelas que agem num outro lado, nem sou bom ou mau, vivo, agora sem me prender a nada.
A consciência é de que faço as coisas movido pela simplicidade, de aceitar as diferenças, de escolher com que vou dividir o pão, a mesa, as palavras, sem me furtar de dizer o que penso, com alguma coerência, também não quero mais me obrigar a ter que responder sobre tudo, viajei muito, sobre tantos mares, aprendi mais do que ensinei, escrever, para poucos, pode ser uma forma de retribuir o que acumulei.
O tempo da vaidade, das ambições, das grandes conquistas, foi quebrado pela realidade, a vida é breve, quase um sopro, descobri isso da pior forma possível, mas por instinto, intuição, no que era mais decisivo, não me omite, vive cada dia, como se fosse o último, ou o primeiro, percebi que só assim, conseguiria me manter lúcido, abalado, mas não morto, com alguma luz.
Outra coisa que compreendi é que o passado não tem volta, ali é o que se viveu e ponto e, pelas condições gerais, do mundo, do Brasil, não alimento mais projetos mirabolantes de futuro. Pois concluí que, viver é sempre o tempo presente, sem se prender ao passado, ou esperar por um futuro incerto. Apenas viver, com solidariedade, com carinho pelos que nos cercam, ouvir mais, falar quando preciso.
Por fim, não mudamos ninguém, na maioria das vezes, nem a nós mesmos. Por nossas escolhas e brilhantismo pessoal ou circunstancial, muitos aderem ao que pensamos/escrevemos, ainda que nem compreendam o que dizemos, por isso a responsabilidade aumenta, para não sermos mais um charlatão guru, um astrólogo. A sorte é encontrar poucos, mas fundamentais interlocutores para nossas angústia.
Ah, o sábado, 25.05.2019, em São Paulo, está frio e um sol lindo, que não queima, apenas aquece.