“Clear your mind, maybe you will find
That the past is still turning” (Ashes are Burning – Renaissance)
É verdade, vivo mergulhado em velhos livros, ouvindo velhas músicas, pensando em coisas antigas, ainda que tenha, por longos anos, trabalhado nos ambientes da telefonia celular, da primeira à quinta geração, em desenvolvimento que revolucionaram a tecnologia, cujos saltos nos levam a uma realidade absolutamente inacreditável, pelo curto espaço de tempo em que transcorreu, do tijolão aos sofisticados celulares.
Ora, essa vivência “dupla”, passado e futuro, não mudou a minha percepção sobre o que é vida, de que o hoje é fruto do que se acumulou na história humana, dos conhecimentos, da ciência e da técnica, mas, especialmente, dos conceitos éticos-filosóficos que nortearam a humanidade, ainda que ela, por muitas vezes, tenha experimentando rupturas, contrarrevoluções, obscurantismos, guerras totais, sombras e desprezo pela vida.
O que conjunturalmente experimenta-se, nessa quadrada histórica, é um profundo retrocesso, em particular, nos costumes. O mais chocante é que o pensamento corrente, é uma apologia, em tese, ao passado, mas a um corte bem específico para criar uma narrativa completamente falsificada do passado, um “ajuste”, para algo que não existiu, mas que virou premissa para esses valores presente de apologia de algo idílico, ideal.
A internet como oráculo de uma “verdade” fake, que só se sustenta pela repetição da mentira, tomada como verdade, que não admite um debate com bases científicas, com critérios claros, que possam balizar o embate.
Chegamos ao ridículo de ter que reafirmar óbvio, aquele ululante, pois a realidade virtual de uma terra plana, de que a ciência pode ser relativizada pelo discurso, não pelo experimento, pela pesquisa, que as vacinas não servem para nada, ou outros absurdos mais bizarros, como kit gay, mamadeira de piroca.
Por mais duro ou arcaico que possa parecer, apenas a paciência, a prática de enfrentamento um a um, a necessidade de voltar aos estudos, reler os clássicos, conhecer com mais profundidade, não perder o prumo com provocações.
Os Memes não se combatem com Memes, mas com argumentos, com conhecimento, é árduo, cansativo, entretanto, não existe outro caminho. É preciso resistir a tentação de desprezar o inimigo, tratar como um mero idiota, ou, pior, ter uma postura professoral e não dialogar, pensar que não há jeito de convencer um estúpido. O que mais importa, no momento, é que não se pode desistir do combate da ideias, da renhida luta, por atitudes arrogantes, nossas.
Uma reflexão sobre a nossa dificuldade de dialogar, talvez seja nosso calcanhar de Aquiles, esteja no fato de que defendemos a horizontalidade em tese, mas agimos e funcionamos por hierarquia, de forma vertical, submisso aos chefes, caciques, gurus, vacas sagradas etc.
Enquanto isso, do outro lado, eles pensam de forma vertical, assumem, sem pudor, seus gurus, os mais toscos, tipo o astrólogo, no entanto, agem de forma horizontal, tem mais atratividade, não se envergonha de dar voz a qualquer um, isso, explica, o seu poder de atrair e de crescer, principalmente entre os mais jovens, que podem falar sem propriedade ou repetir os discursos absurdos, sem serem tolhidos ou ter de obedecer.
Mudaremos? Queremos mudar?