“A fraternidade durou exatamente o mesmo tempo que o interesse da burguesia esteve irmanado com o interesse do proletariado” (Marx, artigo na Neue Rheinische Zeitung, 29 de junho de 1848)
Lula completou um ano de cárcere, sua prisão política é um escândalo internacional, seu prestígio continua intacto, o que demonstra a razão de que o Centro da Luta de Política no Brasil é a prisão de Lula. Qualquer coisa fora dessa visão, está fora da Luta de Classes, é apenas desejo, não realidade.
Dito isso, as enormes contradições se abriu para os dois lados da renhida luta, especialmente no seio da classe trabalhadora e do povo, nenhum lado é homogêneo, o que torna mais complexa a análise, apesar da vitória eleitoral da Direita, em menos de três meses, o governo eleito, vive em crise permanente, com esvaziamento de apoio popular, com a tendência de que caía de forma melancólica
O cenário da economia brasileira de que parou de cair, não passou de uma doce ilusão, com uma recuperação minúscula, não fez com que os músculos do Kapital se tornasse mais fortes e consistentes. Porém a ofensiva sobre a classe trabalhadora foi uma das mais selvagens da história recente, os ataques em várias frentes, com uma brutalidade poucas vezes vistas no Brasil, piorando com o governo eleito, nas medidas contra os trabalhadores em todas as frentes.
Os cortes nos direitos sociais e trabalhistas, serão sentidos por vários anos, a proposta de reforma da previdência, ainda que incerta, significa o fim da aposentadoria. O enorme desemprego e o subemprego, baixos salários, em substituição às vagas existentes demonstram a força do Kapital em impor sua agenda, nesse momento, a queima de força produtivas é vital para que a Taxa de Lucro se retome aos patamares anteriores e garanta um novo ciclo do Kapital.
O fôlego dessa recuperação pode ser uma simples ilusão, pois a economia mundial se encontra no ponto de uma nova grande crise, a de superprodução de Kapital nos EUA, não acompanhada na Europa e na China, ameaça uma nova ruptura, com previsões piores do que a de Crise de 2008. O Brasil voltou a queimar suas empresas estatais a preço de banana, mesmo assim com pouca atração, além da desconfiança generalizada nos Golpistas, as próprias incertezas do Kapital impedem um novo aporte para esses lados.
O Brasil, desde o Golpe, vive suas próprias contradições e descompassos, Nem mesmo a eleição de Bolsonaro, conseguiu mudar a situação complexa do buraco político-jurídico-ideológico que o país se meteu, que de alguma forma guarda semelhança à Ditadura, sem milicos, mas com civis protagonistas, usando o judiciário como cabeça-de-ponte, não cria ambiente de solidez para atrair novos investimentos, nem mesmo do Kapital abutre.
Do lado da classe trabalhadora, o refluxo do movimento sindical e social são evidentes, por razões óbvias, externa: GOLPE, desemprego, ataque brutal aos direitos trabalhistas e sociais, a miséria que voltou à ordem do dia. E razões internas: Os anos de distanciamento do movimento social, burocratismo e sugados pela institucionalidade burguesa, hoje, cobra um preço alto demais, o que explica a facilidade do golpe e da rapidez do processo contra Lula.
Obviamente esse é um curso, um processo, que não se deu em 2013 ou 2016, mas um longo caminho que a esquerda, o PT em particular, trilhou. A decisão consciente de um novo eixo levou às alianças cada vez mais amplas, mas que permitiu chegar ao governo central. Contraditoriamente, os Governos Lula I e II e Dilma I, tiveram vários avanços econômicos e sociais, mas esse sucesso teve alto preço, vacilo e adaptação integral ao Estado e sua máquina, abandono das ruas e pouco apreço aos movimentos sociais.
O reflexo dessa adaptação se sentiu nas terríveis nomeações ao STF, STJ, PGR, PF, o que facilitou enormemente no estado de coisas atuais. O GOLPE foi um passeio no parque, nenhuma resistência social, política ou jurídica, o medo dos paneleiros e dos patos da Paulista/Leblon, facilitou o serviço da Globo e seus acólitos, que deu todo o combustível à famigerada lavajets.
A cereja do bolo foi a prisão de Lula, mais uma vez sem resistência de massas A Direção Política se fragilizou enormemente, aliás, em certa medida, ela implodiu. Como parte da contradição geral, as frações majoritárias do Kapital não conseguiram viabilizar nenhuma candidatura forte, teve que abraçar a esdrúxula campanha de Bolsonaro, sabendo de todos os problemas graves do entorno da família e suas relações com milicianos, mas era isso ou o PT, não tiveram pudor em abraçar o que havia de pior, entre os piores.
Essas reflexões não apontam dedo para ninguém, não há uma necessidade caça às bruxas, mas de uma profunda autocrítica, se acharem que vale fazer, sem que nos paralise e fiquemos reféns de um ato de contrição, do “eu pecador”, longe disso.
Deve-se afastar de qualquer teoria da conspiração de que há “lucro” na prisão de Lula, que torná-lo mártir trará benefício para alguém, ou alguns, ao contrário, seu cárcere, é nossa prisão, de alguma medida, expõe nossa fragilidade e mazelas. Vivemos espasmos de espontaneísmo, voluntarismo e pouca clareza do momento trágico que estamos passando e passaremos mais, por quanto mais tempo Lula estiver preso.
Ao mesmo tempo, percebe-se que há, nesse ambiente caótico, um arvorecer de resistência, pequeno, mas muito consistente, surgindo e abrindo espaços generosos para novas lideranças, especialmente Boulos (PSOL), Manuela D´Ávila (PC do B), uma nova composição forças no congresso para combater o famigerado governo Bolsonaro e sua família.
Como parte desse novo momento se pode dizer que: Nunca se fez tanta política em tão pouco tempo como nesse ano, a necessidade de fazer alguma coisa de concreto despertou essa militância, em todos os campos, na política, nos sindicatos, nos movimentos sociais e no meio jurídico. Todos misturados, não apenas na defesa de Lula, mas da Política e da Democracia.
À Luta!