“Cavam na terra, à cata de um tesouro,
dão com uma vil minhoca, e ficam pagos!” (Fausto, Goethe)
Desde janeiro de 2011, com os eventos da primavera árabe, da praça Tahir, no Cairo, aqui polemizamos com os defensores de que há um novo sujeito, um novo personagem destinado a mudar a lógica do Kapital. Os debates são interrompidos por incapacidade e limites desse blog, como também porque há um desprezo pelo embate teórico e porque as turmas não aceitam intrusos.
Muito do que produzimos, inclusive o livro Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded, foi solenemente ignorado pela esquerda militante, apesar de ali ser uma tentativa de trazer Marx para o centro da discussão, o seu método de análise da economia política. Todo o esforço para produção de mais de 400 artigos, que tem desdobramento naquele livro e num outro ainda não publicado (O Estado Gotham City), não foi suficiente para romper a bolha.
Hoje deparo com um interessante artigo recomendado pelo camarada Ricardo Queiroz, no site Outras Palavras, escrito por Antonio Martins “Falta uma nova esquerda para encarar Bolsonaro“. O artigo faz uma importante abordagem sobre os limites do programa e de ações do governo Bolsonaro, como da onda da direita mundial. Identifica o fenômeno, e coloca no ponto corrento o debate, que são os limites do próprio Kapital.
Entretanto, como diz no título, propõe uma “nova esquerda” como solução para combater, não apenas no Brasil, como no mundo, essa onda neofascista, dos governos histriônicos de Trump ou de Bolsonaro. Que no limite, aponta para o capitalismo caindo por si, por suas próprias contradições, da crise terminal, que levará a ruptura na sua reprodução, como sistema.
Aqui, começa a nossa divergência, a primeira é que não é preciso uma Nova esquerda, ao contrário, precisa-se de uma velha esquerda, militante, que conheça Marx, que entenda de economia política, que resgate a teoria revolucionária, que possa traduzir, no estágio atual da produção de valor, os limites do Kapital e, principalmente, identificar quando e por que haverá crise de superprodução, como houve em 2005-2008, como está por acontecer, agora, de 2018 a 2020 (que poderá explodir, ou até antes, na nossa visão)
A “nova esquerda” que ele clama, acaba por retomar ao ponto anterior, como se tivesse havido encanto com as primaveras, com as jornadas de junho, com a praça Maiden, pois ali surgiu uma esquerda ultraliberal, mesquinha, nenhum pouco solidária, típica dessa época, que não aceita partidos, sindicatos, despreza a democracia e a política, como tantas vezes escrevi ao vento (Veja: A Escatologia do Novo).
A retomada, no nosso entender, passa fundamentalmente por trazer ao centro do debate os conceitos de luta de classes, de como o Kapital se reproduz ontem e hoje, como deve se organizar a classe trabalhadora, que é cada vez mais explorada, no limite da barbárie, da completa ruptura social. Chamar uma nova esquerda, sem corte de classe, é acreditar que os erros foram pontuais, que ela não teve nenhuma responsabilidade para subida de Trump ou de Bolsonaro.
O debate tem que ser reaberto, com quem topa, sem achar que só as estrelas ou a academia tem a dizer, sem incorporar todas as colaborações, inclusive mudar o método de interação, produção teórica e de prática política coletiva.
Ao debate, ou não!
Muito bom! Que cansaço desse povo deslumbrado com o “novo”… enquanto isso o velho lúmpen disruptivo chega ao poder, e a gente aqui bestando. Tô tão desanimada com tudo…