Escrevi, algumas vezes, sobre os mitos gregos, sobre nossos arquétipos, talvez um que tenha uma unidade tão precisa seja Prometeu, o filho de Japeto, com Lula, o filho de Dona Lindu (Aqui, por exemplo. Mesmo antes de sua prisão terrível pela as fúrias de Curitiba, Lula, já havia completado todo o ciclo do típico Herói ((A Questão do Herói), no sentido Grego, faltava o seu outono, que, em regra, é trágico e solitário.
Desde sua prisão, em 07 de abril, várias vezes nos iludimos com um possível Habeas Corpus, uma reflexão mais profunda de que o processo kafkiano não teria razão de ser, de que a racionalidade, em algum momento, se imporia, ou até mesmo, o desconforto pecado cristão, falasse mais alto e uma solução viria, nem que fosse pela idade avançada, os serviços prestados ao país e o castigo desmedido, nada disso, houve.
Os apelos sempre são jurídicos e/ou políticos, mas cada vez mais me convenço de que estamos diante de uma questão muito além, está na psiquê, é parte da psicologia, tanto a histeria coletiva de ódio que é um desejo sexual quase explícito pela punição, um prazer carnal pela dor e aflição do outro.
O punitivismo típico da sociedade de espetáculo, sem senso crítico, envolvida pelo emocional de uma arena romana, , a midiática, amplificada e multiplicado milhões, pela mídia e pela internet, que virou palanque estúpido, na redes sociais, palco dos vingadores e linchadores que querem sangue de Lula, não para puni-lo, mas para expiar os seus próprios pecados e males de suas almas atormentadas.
Pouco ou nada se conseguiu avançar em provas que indicassem a culpabilidade, pior, o tamanho ainda mais desproporcional de seus “crimes”, que ainda que houvesse tais provas, mereciam uma defesa justa, não por se tratar de Lula, um ex-presidente, mas pelo que se entende por Direito, justiça e paz social.
A irracionalidade é tamanha que vários colegas advogados, simplesmente rasgam seus diplomas, em nome de um ódio abjeto ao personagem e nenhum comprometimento com o Direito. Fala mais alto o tormento da psiquê doente.
Por fim, nesse campo mito, arquétipo, inconscientemente, Lula repete Prometeu, até nos atos. Depois de preso, torturado pela águia de Zeus, o Titã acorrentado é pressionado por Hermes, o mensageiro do grande Pai, tentado-lhe impor um acordo, algo que lhe abreviasse o sofrimento, um Habeas Corpus do Olimpo, porém, Prometeu recusa-se a aceitar e repete:
Ora, Lula, diz mais ou menos a mesma coisa, recusando qualquer tipo de manobra, que macule sua consciência de que não cometeu nenhum crime a ele imputado. Prefere permanecer na cadeia, até seu fim, pois, quem sabe, no futuro, sua honra seja restabelecida plenamente, reconhecido seus feitos, seus erros e glórias, assim como o Prometeu, até hoje por nós celebrado.
“É inútil me aborreceres; é como dar conselhos aos vagalhões do mar. Jamais te ocorra que, por medo aos desígnios de Zeus, a minha mente se efemine e, palmas voltadas para cima, imitando as mulheres, eu suplique ao ser mais odioso que me solte estes grilhões. Eu? Nunca!”
Vida e alma, encontram explicações nos mitos, apenas repetimos os arquétipos e personagens, a maioria de nós, somos apenas a massa da arena romana, adoramos os gladiadores, jamais seremos um, menos ainda, um imperador, menos ainda, frequentaremos a ilha dos bem-aventurados, local em que heróis descansam, depois de seus feitos na terra, um intermediário entre os deuses e nós, os comuns.
Seguimos lutando!
Leitura de Natal – Baixe o Livro: prometeuacorrentado